Mato Grosso, 23 de Abril de 2024
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Carboidrato: o vilão na perda de peso?

19.07.2017
FONTE: Por Patrícia Ceolin Grassi

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  • Patrícia Ceolin Grassi

Qual a verdade nas dietas cetogênicas e low carb? De maneira resumida, rápida e sem rodeios, se um indivíduo não consumir diariamente alimentos fonte de carboidratos perderá peso, mas isso não significa, necessariamente, que emagrecerá. Pois é! Uma coisa é diferente da outra!

 

Os alimentos ricos carboidratos nos fornecem uma molécula chamada glicose, que é a forma mais simples, rápida e reconhecida por nosso organismo como fonte energética. Além disso, quando não a utilizamos (glicogênio), nosso corpo estoca essa molécula no fígado e no músculo. Quando passamos por períodos de jejum ou durante a prática de atividade física essa reserva é usada.

 

Diferente do tecido adiposo, que estoca gordura corporal e consideramos reservas ilimitadas, o glicogênio é uma forma de estoque eficiente, porém limitada, pois a cada 1g dessa molécula estocada, o organismo acumula 2,7g de água.

 

Vamos refletir, então, baseando-nos nas informações comentadas: uma pessoa de 60kg possui em média 500g de glicogênio acumulado e, consequentemente, 1,350Kg de água no corpo. Logo, quando a pessoa decide cortar de vez o carboidrato de sua alimentação (como, por exemplo, na dieta Dukan, dietas das proteínas, etc) o organismo, além de gastar suas reservas de glicogênio, utiliza a água que estava associada a essas moléculas.

 

Logo, quando o indivíduo sobe na balança ele pensa: “Que maravilha, lá se foram 2kg”. Mas, temos que repensar, pois, na realidade, a pessoa perdeu apenas massa magra (músculo) e água.

 

Geralmente, as pessoas não conseguem levar a diante, ou por muito tempo, esse tipo de dieta e quando reintroduzem os alimentos ricos em carboidratos em sua rotina alimentar, o peso volta rapidamente ao que era ou, muitas vezes, é possível ganhar mais peso. Então é aí que muitas pessoas concluem que o carboidrato é o vilão no processo de emagrecimento. Ou seja, você perde peso e não emagrece de fato como deveria, de forma saudável e com perdas gradativas de tecido adiposo e ganho de massa magra.

 

Lembrando que, quando se corta radicalmente qualquer tipo de alimento, ao voltarmos a consumi-lo, pode-se gerar uma compulsão ou exageros.

 

E a dieta Low Carb? Ela nada mais é do que uma reformulação da dieta low fat, bem conhecida na década de 1990, onde a explicação é a menor secreção do hormônio insulina, controlador do armazenamento de gordura corporal.

 

As dietas low carb são pobres em carboidratos, indo de encontro às que são totalmente restritivas, onde não é permitido nem o consumo de frutas. Vamos ser bem sinceros: é uma cópia das dietas antigas que falamos acima, apenas com nome reformulado. Os adeptos justificam que essas dietas aumentam o gasto energético e diminuem a secreção de insulina.

 

Mas afinal de contas, qual a ligação entre a insulina e o processo de emagrecimento? A insulina, hormônio anabólico, tem o papel de armazenar nutrientes em nossos tecidos, em especial a glicose, sendo assim, quanto mais carboidratos, mais glicose, mais produção de insulina e maior o estoque corporal. Além disso, a insulina inibe a utilização de gordura do tecido adiposo – justificativa da dieta low carb para utilizarmos mais gorduras como fonte energética, o que afirmam levar ao emagrecimento. Mas será que é tão simples assim? Claro que não. Essas dietas ignoram alguns, mecanismos fisiológicos fundamentais de nosso organismo, como, por exemplo, que a insulina não é o único hormônio regulador destes processos.

 

Para quem conhece bioquímica básica sabe que o nosso sistema orgânico não é regulado de maneira tão simples assim, somente por secreção hormonal. As concentrações hormonais são flutuantes, inclusive a insulina, até mesmo porque, durante as refeições, não ingerimos somente um tipo de nutriente e sim a junção de vários, mesmo que o alimento seja fonte de algum nutriente específico, mas ele não é isolado. E, provavelmente, as nossas reservas metabólicas serão mobilizadas e oxidadas de acordo com nossas necessidades, como as reservas adiposas, por exemplo.

 

Essa teoria foi testada em algumas revistas científicas: compararam os efeitos de uma semana da dieta low carb e low fat com a mesma quantidade de calorias e proteína, no peso e gordura corporais, gasto energético e utilização de gordura e carboidrato como fonte energética pelo organismo de 19 adultos obesos. O estudo foi altamente controlado. Os participantes permaneceram em uma unidade metabólica, o que garantiu que consumissem somente os alimentos a eles dados, e uma mensuração precisa do gasto energético. O principal resultado do estudo foi: a dieta low-carb levou a maior utilização de gordura como fonte energética (conforme seria esperado), enquanto isso não foi alterado na dieta low-fat, mas, apesar disso, a perda de gordura corporal foi um pouco maior durante a dieta low-fat.

 

Então durante a dieta low-carb os participantes tinham menor secreção de insulina ao longo do dia, oxidavam mais gordura e, mesmo assim, perderam menos gordura do que durante a dieta low-fat? Mas como isso se explica? Isso é explicado pelos mecanismos que regulam nossa massa adiposa, vão além da simples secreção de insulina em resposta à alimentação, conforme discutimos acima.

 

Em outro estudo, os participantes foram submetidos a quatro semanas de uma dieta low-fat (com déficit energético de 300Kcal) seguidas de quatro semanas de uma dieta low-carb (mantendo o mesmo déficit energético de 300Kcal e a mesma quantidade de proteína). O principal resultado foi: ambas as dietas resultaram em perda de gordura corporal; contudo, essa perda foi mais lenta durante as duas primeiras semanas da dieta low-carb em comparação a dieta low-fat. Ou seja, a perda de gordura foi menor durante a dieta low-carb.

 

Concluindo, é importante entendermos que esse tipo de dieta pode ser benéfica para algumas pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertrigliceridemia. Entretanto, isso não significa que esse tipo de dieta tem alguma “vantagem” para o emagrecimento. Para você conseguir ter resultados duradouros é necessário criar hábitos saudáveis, de forma racional e com ajuda de profissionais habilitados. Procure uma nutricionista de sua confiança.

 

Patrícia Ceolin Grassi é mestre em Metabolismo e professora dos cursos de Nutrição e Medicina da Unic.

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