Mato Grosso, 29 de Março de 2024
Política

O maná não é para todos?

22.11.2017
FONTE: Auremácio Carvalho

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  • Auremácio Carvalho

Uma criança de 08 anos desmaiou de fome na escola em Brasília-DF, capital desse país do carnaval.  Dizem ainda os jornais, que a diarista Kelly Cristina Caetano, de 44 anos, vive em um apertado barraco em Cidade Estrutural, comunidade erguida no entorno de um lixão do Distrito Federal. As paredes de madeira compensada mostram-se incapazes de aplacar o calor que castiga o Centro Oeste nesta época do ano. Tampouco protegem a família dos ataques de ratazanas. “Meu filho chegou a ficar internado após receber uma mordida. Fiquei desesperada, a mão dele inchou e não parava de sangrar”, conta.

 

Apesar das agruras, Kelly demonstra uma inabalável confiança num futuro melhor. “Agora estamos bem melhor. Ao menos não falta comida em casa”.

 

Aliás, no Brasil varonil, a maioria das crianças frequenta a escola por comida, não em busca de alfabetização ou, outra balela, de “socialização”. Enquanto isso, os jornais de noticiam que “O governo anunciou nesta sexta-feira, 17, que vai liberar R$ 7,51 bilhões de recursos que estavam retidos no Orçamento. Desse total, R$ 595,6 milhões serão destinados, até o fim do ano, a emendas parlamentares, em uma tentativa do Planalto de melhorar o clima com o Congresso no momento em que o governo precisa de apoio para aprovar medidas econômicas impopulares, como a reforma da Previdência.”  (G1).

 

Famílias inteiras vivem do lixão nas Capitais e demais cidades; não só como fonte de renda, mas- não se espante o leitor/a- coletando sobras de alimentos para matar a fome dos filhos; roupas, sapatos, brinquedos quebrados. Apesar dos grandes avanços econômicos, sociais, tecnológicos, a falta de comida para milhares de pessoas no Brasil continua. Esse processo é resultado da desigualdade de renda, a falta de recursos faz com que cerca de 12 milhões de pessoas passem fome, e mais de 65 milhões de pessoas que não ingerem a quantidade mínima diária de calorias, ou seja, se alimentam de forma precária.

 

O difícil é entender um país onde os recordes de produção agrícola, graças ao agronegócio, se modificam de maneira crescente no decorrer dos anos, enquanto a fome faz parte do convívio de um número alarmante de pessoas. No mundo cerca de 100 milhões de pessoas estão sem teto; existem 1 bilhão de analfabetos; 1,1 bilhão de pessoas vivem na pobreza, destas, 630 milhões são extremamente pobres, com renda per capta anual bem menor que  a 02 dólares/dia; 1,5 bilhão de pessoas sem água potável; 1 bilhão de pessoas passando fome; 150 milhões de crianças subnutridas com menos de 5 anos (uma para cada três no mundo); 12,9 milhões de crianças morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida. (ONU).

 

Ou seja, em todo mundo e no Brasil, uma tragédia a anunciada, dispersa, silenciosa, escondida nos rincões e nas periferias. Tão escondida que o Brasil que come não enxerga o Brasil faminto e aí a fome vira só número, estatística, como se o número não trouxesse junto com ele, dramas, histórias, nomes, horrores. Na inversão do ciclo da vida, proeza é criança viva, bebê  recém enterrado, é acontecimento banal.

 

No Brasil, a cada cinco minutos, morre uma criança. A maioria de doenças da fome. Cerca de 280  por dia. É o que corresponderia, de acordo com o Unicef, a dois Boeings 737 de crianças mortas por dia. Um detalhe: neste ano, o Brasil voltou para o mapa da fome... grande conquista governamental e política. Vamos ressuscitar o Fome Zero?

 

O Brasil é o vice-campeão mundial de concentração de renda, só perdemos para Serra Leoa, um país africano. O IPEA instituto de estudos ligado ao Ministério do Planejamento, diz que mesmo assim lá há menos famintos do que no Brasil. Soa estranho falar em "escassez de alimentos" no Brasil, já que por aqui são produzidas anualmente aproximadamente 170 milhões de toneladas de alimentos, ou seja, com muito menos de um por cento dessa produção, já seria possível alimentar mais que o dobro da população que hoje ainda passa fome no Brasil. E, os nossos políticos o que tem a ver com isso? Nada.

 

Passam o tempo- em Brasília e nas “bases”- barganhando cargos, benesses para os apaniguados, propinas, etc; embora, não se possa generalizar, pois há políticos que ainda prestam. E, outros se esforçam salvando os colegas da justiça e da cadeia- MT, Rio, RN- e a moda está se espalhando. Depois da desastrosa decisão do STF, disse-me um colega, “nem suplente de Vereador vai mais ser preso no Brasil”.

 

Políticas públicas, saúde, educação, renda, lazer? São temas que não interessam aos nossos políticos e governantes, a não ser em épocas pré-eleitorais. “O Brasil sempre foi um país da geografia da fome”, como nos alertava Josué de Castro, desde a década de 1940. E, parece que vai demorar a mudar. É preciso dizer, porém, que a pobreza não é uma condição exclusiva de uma região ou outra, como se costuma pensar.

 

Praticamente, todas as cidades do país (principalmente as periferias dos grandes centros metropolitanos) contam com pessoas abaixo da linha da pobreza. Afinal, Brasília não está situada nos grotões ou “no nordeste”. Será que pobre faminto dá voto? Ou, dito de outro modo: será que, em 2018, vamos aprender a votar? Ou, exigir que não se pague anualmente mais de 400 bilhões de juros da dívida pública? Muitos patriotas já estão surgindo, salvadores da pátria. Mas, é bom não esquecer: "O patriotismo é o último refúgio dos canalhas." Nelson Rodrigues.

 

Auremácio Carvalho é Advogado

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