Mato Grosso, 20 de Abril de 2024
Economia / Agronegócio

Alemanha descarta 3º resgate à Grécia, mas se oferece para negociar

06.07.2015
09:32
FONTE: G1

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  • Partidários do 'não' comemoram resultado do referendo na praça Syntagma, em Atenas
O governo da Alemanha negou nesta segunda-feira (5) que existam condições para negociar um terceiro resgate para a Grécia após o referendo deste domingo, embora tenha indicado que "a porta continue aberta" para o diálogo entre Atenas e seus credores.

O porta-voz Steffen Seibert afirmou em Berlim que a chanceler Angela Merkel está "preparada para conversar", mas que na atualmente "não se dão as condições para um novo programa de resgate" para a Grécia.

Ele jogou a responsabilidade de avançar na resolução da crise grega no país: "a Grécia está na zona do euro e está nas mãos da Grécia e de seu governo que isto possa continuar sendo assim".

Seibert acrescentou que os líderes europeus terão nesta terça-feira, na cúpula extraordinária convocada para analisar a situação grega, "ouvidos abertos" para escutar as possíveis novas propostas apresentadas pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.

Esta ideia foi elaborada mais detalhadamente pelo porta-voz do Ministério das Finanças, Martin Jäger, que explicou que, segundo a legislação do fundo de resgate permanente, só se pode ajudar financeiramente os países-membros que aplicam reformas e ajustes em contrapartida aos recursos recebidos.

Jäger indicou ainda que, por enquanto, uma possível remissão da dívida pública da Grécia "não é um tema", apesar das exigências de Tsipras, e que, em todo caso, primeiro seria preciso que o governo grego apresentasse um pedido ao fundo de resgate.

O porta-voz do Ministério das Finanças considerou especulação que uma falta de pagamento grego vá a afetar os cofres públicos alemães.

Além disso, ele reafirmou que o caminho é a consolidação fiscal e a implementação de reformas estruturais, e rejeitou a via da remissão da dívida insinuada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Tanto Seibert como Jäger minimizaram a importância a demissão do ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, indicando que relevante são as "posições" políticas dos governos e nem tanto "as pessoas".
O porta-voz do governo alemão destacou no início de seu comparecimento que "o povo grego falou com clareza nas urnas, fazendo uso de seu soberano direito", o que o governo alemão "respeita".

Sem dinheiro

Segundo o membro do Conselho de Governo do BCE Christian Noyer, a dívida grega com o Banco Central Europeu não pode ser reestruturada, uma vez que representaria o financiamento do BCE ao governo, o que é explicitamente proibido pelas regras da União Europeia.

"A dívida grega com o sistema do euro é uma dívida que não pode, por sua própria natureza, ser reestruturada, porque isso seria financiamento monetário a um Estado", disse Noyer, que também é presidente do banco central da França, a jornalistas, nesta segunda-feira.

Ele se negou a comentar mais sobre a situação grega, à medida que a decisão ainda não foi tomada.
Os bancos gregos têm um "colchão de liquidez" de € 1 bilhão, mas os recursos para depois de segunda-feira dependem do Banco Central Europeu, segundo a presidente da associação de bancos da Grécia, Louka Katseli.

A liquidez está garantida até segunda-feira; depois vai depender da decisão do BC europeu", disse Katseli a repórteres, de acordo com a Reuters. "O 'colchão' de liquidez que temos é de cerca de € 1 bilhão".

Como foi o referendo

Os gregos decidiram neste domingo (5), em referendo, não aceitar as condições dos credores do país em troca de ajuda financeira, dando o primeiro passo para o que pode culminar na saída do país da zona do euro. As medidas exigidas pelos parceiros europeus incluíam aumento de impostos e cortes nas aposentadorias. Com 100% dos votos apurados, o "não" ficou com 61,31% dos votos.

Segundo as agências de notícias, a votação ocorreu sem incidentes. A estimativa é que 65% dos eleitores tenha comparecido à votação.

"O referendo de hoje não teve ganhadores nem vencedores. É uma grande vitória em si mesma", disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, após a confirmação do resultado. "Mesmo nas circunstâncias mais difíceis, a democracia não pode sofrer chantagem", afirmou, falando indiretamente sobre as condições impostas pelos europeus.

"Quero agradecer cada um e todos vocês. Independentemente de como tenham votado, hoje nós somos um", disse Tsipras. "O mandato que vocês me deram não pede uma ruptura com a Europa, mas me dá mais força para negociar (...) Os gregos fizeram uma escolha corajosa. Sua resposta vai alterar o diálogo existente com a Europa".

Segundo o primeiro-ministro, a prioridade imediata é restabelecer o sistema bancário – cujas agências estão fechadas há uma semana por falta de liquidez – e a estabilidade econômica do país. Ele também afirmou que irá pedir uma reunião de líderes políticos para a manhã de segunda-feira, além de reiniciar as negociações para tentar chegar a um acordo com os credores internacionais e destacou que a prioridade é a reabertura dos bancos.

Europa reage

Após a vitória do "Não", a Comissão Europeia anunciou que respeita o resultado do referendo na Grécia e indicou que seu presidente, Jean-Claude Juncker, consultará na segunda-feira altos dirigentes de instituições europeias.

Nesta segunda, Juncker terá uma teleconferência com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; com o dirigente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e com o diretor do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, informou a Comissão em um comunicado. Juncker discursará, também na segunda, ante o Parlamento Europeu, reunido em sessão plenária em Estrasburgo (leste da França).

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou a convocação, para a terça-feira, de uma cúpula da zona do euro, em Bruxelas, "para discutir a situação após o referendo na Grécia", segundo um tuíte postado neste domingo.

Alemanha e França

A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, definiram neste domingo, em conversa por telefone, que os líderes da zona do euro deverão se reunir na terça-feira para discutir a situação da Grécia, depois que o país rejeitou, em referendo, os termos do resgate do país.

François Hollande, se reuniu neste domingo com o primeiro-ministro do país, Manuel Valls, e com os ministros das Finanças, Michel Sapin, e de Assuntos Europeus, Harlem Désir, e outros membros do alto escalão do governo para avaliar as consequências do "não" no referendo da Grécia.

De acordo com o Palácio do Eliseu, sede do governo da França, Hollande vai receber já na tarde de segunda-feira a primeira-ministra alemã para discutir o resultado do referendo. No comunicado, a presidência francesa aponta que o encontro marca a "cooperação permanente entre França e Alemanha para contribuir com uma solução duradoura para a Grécia".

Mas o vice-primeiro-ministro alemão, Sigmar Gabriel, disse que, com o resultado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, "derrubou as últimas pontes sobre as quais a Europa e Grécia poderiam ter se movido em direção a um acordo".

A posição da primeira-ministra da Polônia, Ewa Kopacz, foi afirmar que o único caminho para o governo de Atenas é sair da zona do euro. Apesar de estar na União Europeia (UE), a Polônia mantém sua moeda própria, o zlóti.

Efeitos

Pouco após o resultado final ter se desenhado, o líder da oposição grega e ex-primeiro-ministro Antoni Samaras renunciou à presidência do partido Nova Democracia. "Nosso partido precisa de um novo começo. Estou renunciando da liderança da Nova Democracia", afirmou Samaras em pronunciamento na televisão local.

O euro recuava neste domingo ante o dólar, enquanto o "não" se encaminhava para uma vitória no referendo. Às 18h30 GMT (15h30 de Brasília), um euro valia US$ 1,0963, em baixa de 1,58% com relação ao fechamento na noite de sexta-feira, nas negociações eletrônicas que antecipam a abertura dos mercados asiáticos.

Ainda antes do resultado final, os partidários do "não" já festejavam na praça Syntagma, em Atenas. Ainda durante a apuração, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, falou à população e afirmou que a vitória do "não" é um "sim" à democracia na Europa.

Milhares de partidários do "Não" lotaram a praça Syntagma, no centro de Atenas, para comemorar a vitória no referendo celebrado este domingo na Grécia. Cerca de  5 mil manifestantes, segundo a polícia, exibiam bandeiras gregas e cartazes com a palavra OXI (Não), repetindo palavras de ordem contra a austeridade.

"Não por uma pátria livre" e "Não pelo futuro, por nossos filhos", diziam alguns dos cartazes levados pelos manifestantes de um partido de extrema-esquerda, EPAM (Frente Unidos Popula).

Também havia festejos perto da Universidade, onde se concentrava cerca de mil militantes do Syriza. Ao redor da praça Syntagma os manifestantes gritavam "Oxi, oxi", alguns cantavam e outros dançavam.

Pouco depois do final da votação, o porta-voz do governo grego, Gavriil Sakellaridis afirmou que o governo quer retomar as negociações com os credores imediatamente. "As negociações que vamos começar devem ser concluídas muito rapidamente, mesmo em 48 horas", afirmou. O governo acredita que a vitória do "não" dá mais força à Grécia nas negociações, permitindo condições mais favoráveis ao país.

Com a vitória do "não", a consultoria norte-americana Teneo estima que a probilidade da Grécia deixar o euro subiu para 75%.

Com os bancos correndo o risco de ficar sem dinheiro já na segunda-feira, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, deve se reunir ainda neste domingo com os banqueiros do país. O governo também informou que vai pedir uma ajuda emergencial ao Banco Central Europeu para garantir a liquidez das insttuições. Sem esses recursos, o governo grego pode ser obrigado a voltar a emitir dracmas – a moeda anterior ao euro.

"Amanhã (segunda-feira) o conselho do BCE se reúne. Há argumentos válidos a favor de um maior financiamento através do ELA (a ajuda emergencial)", disse Sakellaridis em entrevista à emissora "ANT1", mostrando confiança de que os representantes da instituição mostrarão compreensão para encontrar uma solução viável para a crise do país.

A Grécia deve mais de R$ 1 trilhão e, na semana passada, não fez o pagamento de uma parcela de € 1,6 bilhão ao FMI, o que oficialmente bloqueou o acesso do país a mais fundos. O sistema bancário do país está à beira de um colapso e o governo impôs um regime de controle de capitais, que vai de retiradas bancárias ao envio de dinheiro para o exterior.

Protestos

Manifestantes tomaram conta de Atenas nos dias que antecederam a votação, mostrando o país dividido entre os que defendem as reformas impostas à Grécia e os que recusam as medidas. Houve tumultos e a polícia chegou a intervir com gás lacrimogêneo.

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