Mato Grosso, 20 de Abril de 2024
Economia / Agronegócio

Após expansão econômica, Ipojuca tem desemprego e comércio em crise

27.03.2015
10:27
FONTE: G1

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  • O comerciante João Mesquita viu o movimento de sua loja cair
De principal polo de atração de emprego a cidade que mais cortou vagas em todo o país. Em quatro anos, a realidade de Ipojuca, no Grande Recife, que em 2010 apontava para expansão econômica e mudanças, agora é marcada pelo crescente pessimismo da população, afetada pelo baixo crescimento econômico do país, que ficou em apenas 0,1% em 2014.

Mesmo com o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado, de R$ 11,95 bilhões em 2012 – quase 10% do PIB de Pernambuco –, a cidade amarga altos índices de desemprego.

Em 2014, a cidade perdeu 22.382 vagas. O fim das obras no Complexo Portuário de Suape, a desativação de uma usina de cana e a falta de oportunidades de qualificação estão entre os fatores apontados para a desaceleração sentida na cidade.

Antes e depois

Em 2011, o G1 conversou com Alessandra Santos em seu primeiro emprego com carteira assinada, trabalhando como vendedora em uma loja de calçados recém-inaugurada na cidade.

No ano anterior, Ipojuca havia liderado a criação de vagas no pais, com 16 mil novos postos. Naquela época, Alessandra sonhava em fazer um curso técnico e, como muitos ipojucanos, esperava trabalhar no Complexo de Suape. Agora, em 2015, nenhuma das duas coisas aconteceu.

Quatro anos depois, a reportagem voltou a Ipojuca, e encontrou a agora ex-vendedora desempregada.

"Me arrependo de não ter feito curso. Estou desempregada desde agosto [de 2014], estou colocando currículo em tudo que é lugar. Emprego bom, agora, só em hotel. Voltou a ser um pouco como era antes [das obras]. Faz tempo que não abre um curso aqui", diz.

O marido de Alessandra, que trabalhava como encanador industrial nas obras da Refinaria Abreu e Lima até dezembro, agora está fazendo bicos como mototaxista, enquanto não consegue uma nova posição com carteira assinada.

"Com o dinheiro da rescisão, a gente pagou o curso de vigilante para ele no Recife. Estamos tentando de tudo, até em Goiana [a 110 km de distância, onde está instalada a fábrica da Fiat] ele foi procurar emprego. Está muito difícil. Dos meus cinco irmãos, só dois estão empregados”, afirma Alessandra.

Casa vazia

Se conseguir um emprego não anda fácil, achar quem alugue uma casa é outra dificuldade. Também "reencontrada" pelo G1, Maria Conceição do Nascimento, conhecida como Dona Teca, estava terminando, em 2011, a obra do ‘puxadinho’ que fez da casa em que morava e já alugava para trabalhadores de Suape.

O "boom" da cidade ajudou Dona Teca: com o dinheiro obtido nos primeiros anos de alta econômica, ela ampliou o imóvel e, hoje, ele pode abrigar três famílias.

Dois desses espaços estão alugados, mas a preços menores que aqueles praticados na época da alta. Dos R$ 600 que cobrava em cada "casa" há quatro anos, hoje ela recebe R$ 400 – o que complementa a renda dela e do marido, que vivem da agricultura.

“Eu agradeço a Deus que ainda tenho minha casa alugada, só não sei até quando. É gente daqui [de Ipojuca] mesmo que alugou”, conta.

“Tem muita casa para alugar agora, muitas vazias, desde que deu o desemprego. Meu marido não tem renda fixa e não é aposentado, então esse dinheiro é o que a gente tem”, diz Dona Teca.

Comércio parado

A estimativa da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Ipojuca é que as perdas do comércio da cidade estão entre 30% e 40%, dependendo do setor.

“A gente passou por alguns problemas, com uma grande euforia de emprego, sem fazer uma base estruturadora. Chegamos a ter mais de 60 mil empregos e a maioria achava que isso nunca iria acabar. Nós [da CDL] mostrávamos que isso seria passageiro, que teríamos uma desaceleração mais a frente, mas a euforia era grande. [Agora] Nós estamos parados”, afirma o presidente da CDL do município, Cláudio Duarte.

Dona de um fiteiro, espécie de pequeno comércio informal, Maria de Lourdes Nascimento chegava a faturar R$ 150 por dia de trabalho, vendendo água de coco, caldo de cana, cigarros e doces.

Atualmente, conseguir R$ 20 por dia para pagar o financiamento da máquina do caldo de cana anda difícil. “A praça ficava linda à noite, cheia de gente. Os mercadinhos eram todos cheios, mas agora está tudo parado. Com as demissões em Suape, ficou muito ruim para todos aqui”, afirma a comerciante.

O restaurante de Amara da Silva também amarga a queda do movimento. Em um dia normal, o faturamento era superior a R$ 1 mil, com pratos vendidos a R$ 10. Na última segunda (23), com cada refeição custando R$ 12, o resultado do dia foram R$ 220 – e essa situação está virando rotina.

Dois dos sete funcionários do comércio familiar já foram dispensados e a cozinheira admite que não sabe como serão os próximos meses. “Não tem quem não fique preocupado. Se a situação não mudar, não sei o que vai ser. Antes, a gente tinha fila de pessoas aqui. Agora, tem dia que a gente não serve 30 refeições”, explica Amara.

‘Nosso Eldorado acabou’

Vendendo de bancos de plástico a bicicletas, o comerciante João Mesquita afirma que, se a loja não fosse própria e ele tivesse de pagar aluguel, já teria fechado as portas.

“O nosso ‘Eldorado’ aqui foi de 2004 até 2012. Em 2013, começou a cair. De tudo se vendia aqui, e a dinheiro. Agora as pessoas chegam com cartão para pagar R$ 10 e, às vezes, [o cartão] é recusado. Nosso Eldorado acabou”, diz.

A queda do movimento trouxe também um clima de insegurança. Assaltada três vezes nos últimos tempos, Sebastiana Viana fecha a lanchonete por volta das 20h30. “Antes eu fechava às 23h com cliente dentro ainda. Atualmente, fecho correndo e com medo de assalto”, conta a comerciante, que também diminuiu o número de funcionários de 12 para oito.

De três idas ao Recife durante a semana para refazer o estoque, agora apenas uma viagem aos domingos resolve a questão. “Antes eu tinha dificuldade de dar férias para os funcionários, por causa do movimento. Agora, uma delas vai sair de licença maternidade e não vou por ninguém no lugar, eu fico na loja”, diz Sebastiana.

Porto e usina

A situação vivida pelo comércio é vista como resultado não somente das demissões em Suape, mas também da interrupção das atividades da usina Salgado, que empregava cerca de 3.500 pessoas nos períodos de safra, explica o presidente da CDL.

A parada das atividades aconteceu há três anos, segundo o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar), e parte das terras foi vendida para a implantação da Refinaria Abreu e Lima.

Mesmo com o término das atividades da usina Salgado, ainda há três outras em operação na região de Ipojuca: as usinas Trapiche, Cucaú e Ipojuca, que geram cerca de 30 mil empregos, de acordo com o sindicato dos produtores.

A Prefeitura de Ipojuca informa que, este ano, vai dar início à obra do pátio da feira, onde os feirantes serão acomodados de modo organizado. Também está prevista para 2015 a inauguração do Centro de Educação Profissional, que vai oferecer cursos, incluindo parcerias com o Sistema S.

Qualificação

A falta de qualificação é um dos fatores que dificulta a absorção dos trabalhadores, tanto na rede hoteleira, que é forte no município, quanto nos empreendimentos do Complexo Portuário de Suape, e se torna um ponto a mais de preocupação.

Em nota, a prefeitura de Ipojuca informou que, em 2014, "ofertou mais de 1.800 vagas de curso de qualificação nas áreas de empreendedorismo, transporte e distribuição de mercadoria, organização e movimentação de cargas, organização de eventos na área turística, elaboração de instalação elétricas".

Para lidar com a falta de qualificação, a Secretaria de Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação de Pernambuco informou, através de nota, que a cidade vai ganhar um espaço voltado para a educação profissional em parceria com a prefeitura do município, onde vão ser oferecidos “reforço escolar e cursos de capacitação e aperfeiçoamento do programa Novos Talentos”.

Além disso, Ipojuca vai receber uma unidade da Agência do Trabalho, com “postos de atendimento e de serviços voltados ao micro e pequeno empreendedor, com o objetivo de facilitar a abertura de empresas”.

Atrair investimentos

Também por meio de nota, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SDEC) afirmou que vem trabalhando para atrair novos investimentos e, consequentemente, gerar novas oportunidades profissionais.

A nota afirma ainda que “a desmobilização das grandes obras representa o fim do ciclo dos investimentos na instalação dos empreendimentos, especialmente no Complexo de Suape. Em alguns casos, o atual período de ajustes na economia nacional também levou a rearranjos no mercado de trabalho”.

A secretaria lembra que o Complexo de Suape conta ainda com “empreendimentos no setor petroquímico, óleo, gás, petróleo, siderurgia, bebidas e alimentos, em implantação ou em início de operação”, responsáveis por pouco mais de 8 mil novos empregos.

Além disso, “em Goiana, na Zona da Mata Norte, estão em consolidação novos polos automotivo, vidreiro e farmacoquímico. Juntos, representam a criação 14.600 postos de trabalho”, afirma a pasta.

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