As operações de crédito liberadas por bancos no Brasil recuaram 1,8% no primeiro trimestre deste ano, informou o Banco Central nesta quinta-feira (28). Com a queda, o estoque de crédito chegou a R$ 3,16 trilhões no final de março. Em janeiro, ele estava em R$ 3,19 trilhões.
Trata-se do primeiro recuo para os três primeiros meses de um ano desde 2000, ou seja, em 16 anos.
"Há um momento de incerteza ou redução de confiança dos agentes, o que desestimula a tomada de crédito", avaliou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
"As pessoas têm menos propensão a comprometer renda futura. Com isso, retrai a demanda por crédito e, do lado da oferta, tem um momento de maior seletividade e cautela, o que impõe uma menor disposição dos bancos", completou ele.
Natural
Maciel observou que esse cenário de retração acontece "em linha com o nível de atividade e com o patamar reduzido de confiança", mas acrescentou que o crédito bancário cresceu de forma significativa por mais de 10 anos no Brasil.
"Então, é natural que tenhamos desaceleração do crédito", disse o chefe do Departamento Econômico do BC.
A retração do crédito bancário ocorre em um momento de forte recessão na economia brasileira e de aumento da taxa de desemprego - que superou 10% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano.
O BC revelou nesta quinta-feira que os juros bancários médios atingiram o maior patamar da série histórica em março, com a taxa do cheque especial batendo em 300% ao ano, o que também influencia a demanda pelo crédito bancário.
No mês passado, o Banco Central reduziu de 7% para 5% a projeção de crescimento nas operações de crédito bancário para este ano. Se a estimativa se concretizar, será o sexto ano seguido em que o crescimento do crédio perde força. Em 2015, a expansão foi de 6,6% – o menor crescimento anual já registrado.
Pacote de estímulo ao crédito
Diante do cenário de retração do crédito bancário, o governo federal anunciou, no fim do mês passado, a abertura de linhas de crédito no valor de R$ 83 bilhões para estimular a economia brasileira. Isso é uma consequência do pagamento das chamadas "pedaladas fiscais" no fim de 2015, com o repasse de recursos que eram devidos pela União aos bancos públicos.
As linhas de crédito anunciadas foram as seguintes:
- R$ 10 bilhões para pré-custeio da safra agrícola 2016/2017 via Banco do Brasil;
- R$ 10 bilhões em recursos do FGTS para instituições financeiras contratarem novas operações de crédito imobiliário;
- R$ 22 bilhões em recursos do FI-FGTS (fundo de investimento do FGTS) em crédito para operações de infraestrutura;
- R$ 5 bilhões do BNDES para capital de giro de micro e pequenas empresas;
- R$ 4 bilhões em linhas de pré-embarque para exportações via BNDES;
- R$ 15 bilhões do BNDES para refinanciamento das operações que estão vencendo do PSI e do Finame com taxas de mercado, sem subsídio;
- R$ 17 bilhões (estimativa do governo) em recursos do FGTS para consignado ao setor privado com garantia da multa por demissão e 10% do saldo dos depósitos existentes.