Mato Grosso, 25 de Abril de 2024
Economia / Agronegócio

Incentivar importação pode não baratear o feijão, dizem especialistas

23.06.2016
15:42
FONTE: G1

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  • Preço do feijão chega a quase R$ 9 e moradores do Sul do Rio de Janeiro reclamam
A decisão do governo federal de incentivar o aumento da importação de feijão pode não contribuir para a queda no preço do produto nos próximos meses, segundo especialistas ouvidos pelo G1.

Eles apontam várias dificuldades para conseguir o barateamento, entre elas o fato de o Brasil ser o único produtor do feijão carioca, o tipo que está em falta. Ou seja, não é possível comprar lá fora.

Segundo a Embrapa, pelo menos 60% do feijão consumido no país é do tipo carioca. Mas problemas climáticos vêm atrapalhando a produção no Brasil.

De acordo com o IBGE, que mede a variação nas capitais, o preço do feijão subiu 33,49% no ano até maio. No acumulado dos últimos 12 meses até maio, a alta é de 41,62%.

Na visão dos especialistas, mantendo-se os preços altos, a tendência é que os consumidores optem pela troca do feijão carioca por outros tipos, entre eles o preto, ou então por lentilha e soja.

"[O aumento da importação de feijão] pode atenuar um pouco o desabastecimento que já existe. Mas a produção [do feijão carioca] só poderá ser regularizada na próxima safra, em 2017”, disse o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão, Marcelo Eduardo Lüders.

Mercosul

De acordo com ele, o Brasil não tem como incentivar ainda mais a vinda de feijão produzido no Mercosul, pois já não cobra tarifa de importação de países do bloco, como Argentina e Paraguai.

Por isso mesmo, disse ele, é importante baixar o imposto do feijão comprado de outros países, como México e China.

“O que precisa ser feito é que a Argentina não fique sozinha vendendo para o Brasil. Porque, senão, podem aumentar o preço também”, disse Lüders.

Durante entrevista na quarta, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que o governo brasileiro buscaria feijão do Mercosul, num primeiro momento. Caso não fosse suficiente, incentivaria a importação de outros países, como México e China, por meio do corte na cobrança de tarifa de importação.

Com o incentivo à importação, a expectativa do governo é que cresça a oferta de feijão no mercado e o preço caia.

Hoje o Brasil já importa feijão regularmente. Entretanto, segundo o Ministério da Agricultura, são cerca de 150 mil toneladas por ano, o equivalente a apenas 15 dias do consumo interno do produto.

Segundo Lüders, a medida do governo só deve levar ao aumento da importação de feijão preto.

Demanda

Para o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, João Ricardo Albanez, a variação do preço do feijão no Brasil nos próximos meses vai depender do comportamento dos consumidores.

“Se a demanda ficar muito forte, o preço vai continuar alto. Se a população, devido ao preço, reduzir o consumo ou partir para outras opções, reduz a pressão de demanda e o preço do feijão pode pelo menos estabilizar”, disse Albanez.

Ele avalia que a medida do governo de incentivar a importação “é uma boa notícia do ponto de vista de atender à demanda da sociedade.”

“É para dar conforto à sociedade, evitar que falte o produto. Mas é difícil dizer se vai conseguir baixar o preço”, disse.

Preço mínimo

Para o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão, Alcido Wander, a medida anunciada pelo governo foi uma ação "emergencial" que trará alternativas ao feijão carioca.
"Pode contribuir para diminuir o preço, mas não vai fazer milagre. [...] É uma medida emergencial", disse.

A produção de feijão está abaixo da demanda no Brasil há dois anos, segundo a Embrapa. Wander aponta que, além dos fatores climáticos que atrapalharam a produção, o preço mínimo do produto, estabelecido pelo governo, está abaixo do que é considerado interessante pelos produtores.

Assim, eles acabam optando por plantar outros produtos, como soja e milho - que inclusive têm mercado internacional garantido. O feijão carioca, como é consumido só no Brasil, não é exportado.

Wander estima que o preço mínimo da saca de feijão, que hoje está em R$ 90 reais, a depender da variedade, deveria ser algo entre R$ 140 e R$ 150.

"Nesse valor, geraria renda para o produtor, a indústria conseguiria pagar e o consumidor poderia imaginar um preço do feijão carioca de R$ 5 ou R$ 6 o quilo no mercado", explicou.

Especulação

Wander aponta, ainda, a possibilidade de haver especulação com o preço do feijão, o que ajudaria a explicar o seu encarecimento. Ao acompanhar os levantamentos, o especialista verificou que municípios vizinhos muitas vezes têm preços muito diferentes para o feijão.

"A gente imagina que existe um componente de especulação junto, não é só queda de produção”, disse.

O feijão que foi colhido há mais tempo e, portanto, passou um período maior estocado, leva mais tempo para cozinhar. Isso pode ocorrer, segundo Wander, com produtos importados. Ele garante, no entanto, que não há alteração do ponto de vista nutricional do produto.

"Depende do tempo e da variedade, mas, se estiver há um ano estocado, por exemplo, pode demorar cerca de 30 minutos para ficar cozido", explicou.

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