Mato Grosso, 29 de Março de 2024
Economia / Agronegócio

Indústria de calçados de Franca mira em mercado externo para driblar crise

28.08.2015
09:56
FONTE: G1

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

Para driblar a instabilidade econômica que tem sido enfrentada pelo país e abalado o desempenho do setor produtivo brasileiro, algumas empresas têm mirado em outros mercados para garantir sua sobrevivência.

A indústria calçadista de Franca, no interior de São Paulo, um dos principais polos produtores do país, vem trabalhando para aumentar suas exportações e combater o marasmo do mercado interno. E a alta do dólar em relação ao real, apesar de instável, deu um “empurrão” para as vendas dos fabricantes nos últimos meses.

De acordo com o Sindifranca, que representa as empresas da região, de janeiro a julho deste ano, as exportações de calçados do polo, que chegaram a quase 2 milhões de pares, cresceram 7,5% em relação ao mesmo período de 2014. Em dólares, o valor das vendas para o exterior somou quase US$ 50 milhões, um aumento de 0,6% em relação ao ano anterior.

Diante do freio no consumo puxado pelas famílias brasileiras - que recuou xx% no segundo trimestre deste ano -, as empresas passaram a acreditar que as vendas para o mercado externo poderiam garantir a manutenção dos seus negócios. Apesar da concorrência com outros polos calçadistas e até com os produtos asiáticos, Franca vê “diferenciais” nos seus sapatos, fabricados em couro e com alto valor agregado, que lhes permite “manter a liderança”. Hoje, as indústrias da região vendem seus calçados para 77 países.

“Com a renda comprometida e quase completamente endividadas, as famílias brasileiras reduziram o consumo, e a indústria calçadista perdeu o mercado interno, que vinha sustentando seu crescimento nos últimos anos”, disse José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindifranca. "Os empresários têm trabalhado, principalmente, para aumentar as exportações, inclusive com suas próprias marcas no mercado externo."

Mesmo lidando com essas adversidades, Franca despontou como a cidade brasileira que mais criou vagas de janeiro a julho deste ano (5.529), de acordo com os números divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgado recentemente. O setor que apresentou o maior número de postos criados foi o da indústria, com 4.749 vagas.

No entanto, apesar do resultado positivo, Brigagão pondera. “As contratações retratadas pelo Caged do início de 2015 são, na verdade, recontratações resultantes da sazonalidade específica do setor, que todos os anos demite boa parte de seus funcionários para evitar o passivo trabalhista. O resultado da comparação de julho de 2015 com julho de 2014 traz o retrato real de nossas indústrias, com a retração, sem investimentos e sem crescimento.

Nosso resultado, no entanto, é menos pior do que o restante do país, por causa de nossos produtos.”

Resistência

Se o segundo trimestre foi relativamente positivo para os empresários, os meses seguintes não seguiram a mesma tendência. Para o empresário Carlos Antonio Barbosa Cortez, dono da D’Milton, especializada em calçados masculinos e femininos, os últimos 60 dias têm sido fracos, ao contrário do segundo trimestre, mas sua fábrica, ainda assim, está resistindo.

Segundo o empresário, de abril até junho, suas vendas estavam “indo bem”, e as fábricas, contratando mais, com o mercado interno menos estagnado como visto nos meses seguintes. “Nos meses de inverno, nossa mercadoria tem valor mais valor agregado. Não é como rasteirinhas, sapatilhas...vendemos botas, que tem maior valor agregado. Cada sapato da fábrica do empresário tem custo de R$ 100 a R$ 110 para os lojistas e as botas, de R$ 260 a R$ 320.

“O mercado ficou estagnado [de junho até agora]. A maioria das empresas diminuiu a produção, mas ainda estamos acreditando na exportação. O que Franca produz é muito bom. Essa mais recente alta do dólar ainda não se consolidou em grandes pedidos. Ainda há muito receio sobre o desempenho da economia e a estabilidade do dólar. Os compradores dos Estados Unidos e da Europa, para quem mais vendemos, são mais desconfiados”, disse Cortez.

Apesar do cenário relativamente positivo para o segmento, o setor de calçados se queixa da complexidade dos impostos e da alta carga tributária e pede atenção do governo, já que a indústria calçadista tem respondido rapidamente às crises.

“Não há como crescer sem planejamento e não é possível planejar sem o mínimo de estabilidade. Em 2014, vimos com preocupação a economia travar várias vezes com Copa, eleições... até sua estagnação. Desde então, a indústria esteve em compasso de espera pela definição da nova equipe econômica e das medidas de saneamento que sabíamos que seriam necessárias. Quando o ajuste fiscal veio, reduziu o incentivo à indústria e mais uma vez nos vimos sem esperança. Foi lançado um plano nacional de exportações. Os benefícios para a indústria de calçados são insignificantes.”

Proteção

Em outubro deste ano, vence a medida antidumping adotada pelo governo brasileiro contra os calçados chineses. Há prática de dumping quando uma empresa exporta um produto a um preço inferior ao praticado no mercado interno.

O direito antidumping tenta evitar que as indústrias nacionais sejam prejudicadas, por isso, é cobrada uma taxa para que os produtos chineses entrem no país. Hoje em dia, a China produz mais de 10,6 bilhões de pares por ano e exporta 8,3 bilhões deles, de acordo com números divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

"Ainda não sabemos se isso será renovado. Gostaríamos que fosse por pelo menos mais quatro anos, para que as as empresas tenham fôlego para se adequar. Queremos livre mercado, mas precisamos de um fôlego", disse Cortez.

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

NOTÍCIAS RELACIONADAS

ENVIE SEU COMENTÁRIO