Mato Grosso, 26 de Abril de 2024
Esportes

Adeus, chocolate e frituras: seleção perde 30kg de gordura para Rio 2016

29.07.2016
15:32
FONTE: Thierry Gozzer, no Rio de Janeiro

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  • Dani Piedade em 2016, durante amistoso, e durante treino em 2012

  • Deonise durante os Jogos de Londres e agora, em 2016

  • Dani Piedade em 2016, durante amistoso, e durante treino em 2012

Livres, leves e musculosas. É assim que as meninas da seleção de handebol chegam à Olimpíada. De 2012 a 2016, o grupo que ficou em sexto lugar em Londres passou por uma transformação radical em busca da inédita medalha no Rio de Janeiro. Naqueles Jogos, a média de massa corporal era de 24%, bem acima do recomendado para atletas de alto rendimento. Quatro anos e muitos sacrifícios depois, elas chegam na Cidade Maravilhosa com números impressionantes. A média de gordura caiu para 12%, número alcançado por jogadores de futebol, e o time vai estrear diante da Noruega, no dia 6 de agosto, com 30kg a menos de gordura, resultado de reeducação alimentar, aumento da carga de treinos e disciplina até no "dia do lixo".

A mudança física e de performance é visível. E alguns exemplos saltam aos olhos. A armadora Deonise é uma delas. Aos 33 anos, a jogadora está no auge da forma. Com 1,80m, ela participou dos Jogos de Londres com 75kg. Após a reeducação alimentar feita pela nutricionista da seleção Julia Bargieri e o trabalho do preparador físico dinamarquês Lars Michalsik, contratado para trabalhar o time visando a Olimpíada, ela chega na Rio 2016 com 69,5kg e menos 6kg. 

- Quando fiz a primeira avaliação da composição corporal do grupo a porcentagem de média do grupo era de 25% de gordura. É alto. Para a idade delas, mulheres normais e sedentárias, a média saudável é 20%. Era acima do peso. Isso me assustou. Olhei e vi que elas não comiam como atletas. Treinavam como atletas, mas não tinham uma vida alimentar de atletas. Elas não tinham essa noção. Se entrasse em um restaurante, tomavam refrigerante, comiam frituras, gorduras, sem restrição nenhuma. Tive que implantar isso devagarzinho. Primeiro tirar o refrigerante, até da comissão técnica, para dar exemplo. Foi um convencimento do grupo inteiro. Hoje, se vamos em um hotel e tem sobremesa, elas pedem para tirar para nem dar vontade de comer - explica a nutricionista Julia Bargieri.

A cada período de treino as jogadoras são pesadas e tem seu percentual medido. A partir daí o trabalho é direcionado. Algumas ganham peso fácil e precisam vigiar isso de perto. Outras perdem massa muscular durante uma semana de treinos e tomam suplementos. Já a goleira Mayssa, até pela posição em que joga, tem um gasto físico menor, mas desidrata muito e pode perder até 4kg em um treino. Por isso, tem atenção especial.

Depois do Mundial de São Paulo, em 2011, Julia passou a fazer um trabalho individualizado com a seleção feminina. De acordo com os pedidos de Lars e da comissão técnica, cada jogadora recebe um cardápio específico dentro da seis refeições diárias. As atletas que precisam de maior força (armadoras e pivôs), recebem mais proteínas. As que necessitam de explosão (ponteiras) ganham maiores porções de carboidratos. Foi assim que o time que jogou em Londres 2012 com 24% de média de gordura corporal caiu para 12% na Rio 2016, tirando "uma  mochila com um notebook das costas", conforme brinca a nutricionista.

- As meninas abriram mão de muitas coisas. Do chocolate. Da cervejinha. Do bolo. Da churrascaria. Da comida na casa da mãe nas férias. Deixaram de ter muitos prazeres para chegar nesse valor. Além da perda de gordura, elas ganharam muito em massa muscular. Temos meninas com seis, oito quilos a mais de massa muscular do que em 2012, em Londres. Uma das meninas, que tem o percentual mais alto, perdeu 12 kg de gordura. E ganhou 8kg de massa magra. É a mesma coisa que jogar com uma mochila com um notebook nas costas e agora ela joga sem essa mochila nas costas. É uma grande diferença - diz Julia.

Exemplo da mudança, Deonise corrobora com a fala de Julia. A armadora explica que o Brasil saiu de um grupo de jogadoras de performance física mediana para de alto rendimento dentro desse ciclo olímpico.

- Em quadra a diferença é notável. Principalmente em resistência. Correr mais, ter mais resistência para permanecer no jogo. Tirei uma mochila das costas. Você percebe muito quando perde. Você percebe o quanto dois quilos faziam diferença. Com 69,5kg me sinto muito bem. Nem magra, nem forte demais. Estou extremamente bem. Em quadra a diferença é notável.  Eu acho que em questão de performance, saímos de uma equipe com atletas com nível médio para atletas com nível top. Temos sempre que aprender diariamente, mas em questão de físico, o passo foi bastante grande. Foi absurdo. Visível na gente - garante Deonise.

O trabalho de Julia é aliado ao feito pelo preparador físico dinamarquês Lars Michalsik. Ele é o único no mundo com PhD em handebol e trabalhou com a seleção na véspera da Olimpíada de Londres e também perto do Mundial de 2013, na Sérvia, quando o Brasil foi campeão. Ele repassa para a nutricionista as necessidades físicas de cada jogadora e em cima disso os cardápios são montados de forma bem específica, fazendo com que cada uma receba exatamente o que o corpo pede.

Dani Piedade tem o mesmo peso desde Atenas 2004

Aos 37 anos, a pivô Dani Piedade tem um dos melhores físicos da seleção. Durante a carreira, praticamente não oscilou no seu peso. Em Atenas 2004, sua primeira Olimpíada, chegou com X kg. Agora, 12 anos depois, mantém o peso. O que mudou foi o seu tônus muscular. O percentual de gordura de Londres 2012 para a Rio 2016  caiu de 19% para 11,5% e ela substituiu 3kg de gordura por massa muscular, ficando extremamente atlética.

- Tivemos um pensamento profissional. Cortamos muitas coisas. Teve o trabalho da Julia. Saiu fritura, doce, refrigerante. Cortamos muito da nossa alimentação e ajudou muito. Tivemos treinos extras, o foco mudou. Mas, o que pesou foi a alimentação. Ficamos mais leves dentro de quadra. Tenho o mesmo peso desde Atenas 2004, mas fiquei mais forte, mais leve em quadra, me senti melhor - diz Dani.

A vigília individual das meninas acontece até mesmo nas férias. Julia explica que todas têm direito ao "dia do lixo", quando podem comer o que quiserem. Apesar disso, até neste momento elas passaram a se vigiar e a sair da dieta apenas quando vale muito a pena.

- Hoje, o trabalho é ter as comidas que orientei. Chegar em algum lugar e ter as comidas saudáveis que eu orientei. Elas têm o dia do lixo. É livre para elas. Elas saem. Mas, elas controlam. Vejo brincadeiras de quem tá comendo responder para as outras se vale a pena engordar, se está tão bom assim. Elas não comem se não vale a pena. Elas se controlam e sabem que se tiver o dia do lixo, no outro dia terão que controlar ainda mais - ri Julia.

Neste domingo, antes da estreia na Olimpíada, o Brasil fez amistoso contra a Holanda, ao meio-dia, em Cabo Frio. Depois, faz um jogo-treino diante da Argentina, no dia 2 de agosto, no CT do Time Brasil, na Urca.

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