Mato Grosso, 26 de Abril de 2024
Esportes

Apreensão e esperança: atletas temem queda de investimentos após Rio 2016

30.09.2016
09:05
FONTE: G1

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  • Fernando Reis, Flávia Saraiva, Rafaela Silva, Mayra Aguiar, Larissa, Talita, Verônica Hipólito, Isaquias Queiroz, Rafael Silva, Daniel Dias e Maicon Siqueira
A possibilidade de queda de investimentos no esporte brasileiro depois da Olimpíada e da Paralimpíada de 2016 gera apreensão na maioria dos atletas do país, que ainda não sabem como poderão planejar financeiramente o próximo ciclo olímpico. A preocupação maior é quanto aos programas do Governo Federal, responsáveis por boa parte da verba para os Jogos do Rio de Janeiro, mas com futuro incerto. Enquanto aguardam uma definição, resta a esperança de que os resultados obtidos e a competição dentro de casa possam impulsionar mais renda até Tóquio 2020.

O Bolsa Atleta, criado em 2005 pelo Ministério do Esporte, paga mensalmente de R$ 370 a R$ 3.100 para atletas de alto rendimento. Em 2011 veio o Bolsa Pódio, que apoia aqueles com chances de disputar finais e medalhas, investindo de R$ 5 mil a R$ 15 mil por mês em cada um. Ainda existia o Plano Brasil Medalhas, que investia também em instalações esportivas para treinamentos, mas acabou após os Jogos. 

Com a recente mudança no Governo e a instabilidade econômica do país, o presidente Michel Temer ainda não deu uma resposta sobre a continuidade ou não dos programas. Em evento de uma patrocinadora realizado nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, os atletas demonstraram preocupação com o que vai acontecer.

- A tendência é que diminua o investimento. Teve um grande investimento agora para 2016, a gente espera que alguns projetos continuem, mas acho que os projetos mais relacionados ao Governo vão cair bastante, como o Plano Brasil Medalha, o Bolsa Pódio. Então a maioria dos atletas está meio apreensiva quanto a isso. A gente recebeu a última parcela do Bolsa Pódio no mês passado, esse mês já não recebemos mais, e não tem nenhum contato de renovação, a gente não sabe o que vai acontecer. Alguns atletas não têm patrocínio individual, eu no meu caso tenho a Petrobras, mas alguns atletas não têm, então é bem complicado, está todo mundo bastante apreensivo - admitiu o judoca Rafael Silva, o Baby, que conquistou o bronze na Rio 2016 e em Londres 2012.

A última parcela do Bolsa Pódio foi paga em agosto, mas em setembro eles já não receberam mais. Enquanto esperam uma definição, alguns esportistas contam ainda com o dinheiro que ganham de patrocínios particulares ou das Forças Armadas, como é o caso de Mayra Aguiar, que também foi bronze no judô no Rio, repetindo o feito de Londres. No entanto, muitos atletas não têm esse privilégio de terem contrato com empresas e dependiam dos programas governamentais.

Entre 2012 e 2016, o Governo Federal injetou investiu cerca de R$ 413 milhões em todos os níveis do Bolsa Atleta, valor 126% maior ao que aconteceu no ciclo olímpico anterior, que foi de R$ 183 milhões.
- Está bem angustiante para a gente, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Está todo mundo bastante agoniado. A gente tinha uma fonte muito grande de renda do Governo, nem tanto financeira, mas de viagens que eles bancavam, concentrações, os fisioterapeutas, nutricionistas, então era um apoio muito grande. E vai ser muito difícil se a gente não tiver eles, vai ser bastante complicado. Tem alguns atletas que ainda têm patrocínios próprios, mas tem atleta que só vivia da renda do Governo. Eu espero que a gente não perca talentos por conta disso. Estou bastante esperançosa que possa continuar, porque foi um trabalho muito bom que eles fizeram. E isso também vai além das medalhas, é um projeto social que eles montam, é um incentivo para as crianças, para o pessoal que está chegando agora, então tem muita coisa envolvida para parar totalmente - disse Mayra.

Medalha de ouro no Rio de Janeiro, a também judoca Rafaela Silva seguiu a mesma linha de pensamento. Para ela, os mais prejudicados são aqueles que ainda estão no início de carreira, buscando resultados e ainda não contam com outros patrocinadores.

- A parte do Governo, que era o Bolsa Pódio, recebemos a última parcela em agosto e até agora não ficamos sabendo se vai ter renovação, se não vai ter. A gente não sabe de nada ainda em relação a isso, e para alguns atletas vai prejudicar bastante. Porque alguns têm patrocínio pessoal ou conseguiram medalha, então vão ter uma certa facilidade para conseguir alguma coisa, se manter para a próxima Olimpíada, mas tem atleta que contava com essa dinheiro. Então vai criar uma preocupação a mais na performance para a próxima Olimpíada, para o próximo Mundial, acho que isso vai atrapalhar alguns atletas.

Dono de três medalhas na canoagem Rio 2016, sendo duas de prata e uma de bronze, Isaquias Queiroz garantiu estar tranquilo quanto à possível queda de investimento neste momento. O atleta baiano destacou as conquistas que teve nos Jogos Olímpicos e disse não enter caso haja corte de verbas.

- Eu não me preocupo, não. Eu nem percebo muito essa parte de investimentos, eu só pensei em descansar o máximo agora. Não cheguei nem a pensar se o Bolsa Pódio vai acabar, até porque vi que o presidente do Brasil falou que ia continuar, isso é uma coisa boa para nós atletas, quem ganhou medalha na Olimpíada fica mais animado. Imagina só você ganhar um valor X antes da Olimpíada com medalha de Mundial, aí quando chega na Olimpíada você ganha medalha e o valor cai, não tem justificativa. O investimento acho que pode melhorar muito mais, não só para mim mas para a canoagem, pelos resultados que a gente teve na Olimpíada. Espero que o investimento continue, para que nós atletas possamos ficar focados só nos treinamentos - disse Isaquias, único brasileiro a ganhar três medalhas em uma mesma edição da Olimpíada.

O sentimento de apreensão e esperança também faz parte do momento dos atletas paralímpicos. Também presente no evento desta quinta-feira no Rio, Verônica Hipólito, que conquistou duas pratas (nos 100m e 400m classe T38), destacou o desempenho dos brasileiros nos Jogos de 2016 e citou a importância do investimentos desde cedo nos esportistas mais jovens.

- Preocupa muito menos do que aconteceu em 2004, 2008 e 2012. Eu não estava, mas meus amigos me contam os "perrengues" que eles passaram. Acho que a gente não deixou nada a desejar nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deste ano, a gente teve uma atuação incrível. Nós mostramos que também precisa investir mais na idade escolar nos esportes de base, espero que o pessoal tenha entendido o recado, espero que tenham entendido que o alto rendimento não é só futebol. Acredito que eles vão entender isso - afirmou Verônica.

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