No futebol, uma verdade não dura 24h, um treinador não sobrevive a um mau resultado e a torcida é paixão, ou ama ou odeia. Das vaias aos aplausos bastam gols, dribles e taças. Contudo, o vai e vem, como uma gangorra, que leva do inferno aos céus em questões de dias, mexe com vaidades, desejos e ambições. Seja um dirigente, um funcionário ou então um torcedor. O poder inebria e causa transformações. Se o cuidado não for tomado, todo o passado pode voltar à tona em meio à tranquilidade.
No final do mês de setembro de 2012, o Figueirense vivia em um turbilhão de crise. A briga interna entre membros da Alliance Sports, encabeçada por Wilfredo Brillinger, e a gestão do então presidente Nestor Lodettto, causou, em meio ao Campeonto Brasileiro, tremenda turbulência que fez, diante das dívidas que se aproximavam de R$ 27 milhões, a diretoria alvinegra renunciar e ceder às pressões de Brillinger para assumir o poder alvinegro. Tal embate fora das quatro linhas, trouxe graves consequências para o time que somou derrotas, lamentos, decepções e culminou na queda para a à Série B.
Passado o acesso à Série A, em 2013, já com o superintendente de esportes, Rodrigo Pastana e com o treinador Vinícius Eutrópio, o Figueirense enxergaria em 2014 um ano promissor. Afinal, estava de volta à Série A e, depois de seis anos, voltaria a erguer uma taça: a do Catarinense. O fim do jejum, trouxe, além da esperança de uma campanha surpreendente como aquela de 2011, mas também de volta o holofote da elite do futebol brasileiro, um tanto sedutor.
O começo na elite do Brasileirão não foi animador e, por divergências internas, principalmente na relação entre o treinador Vinícius Eutrópio e Rodrigo Pastana, após duas derrotas o comandante do acesso, foi demitido. Em seu lugar, Guto Ferreira, técnico que chegaria com a desconfiança estampada por conta da insatisfação da torcida pela demissão do antecessor. Se a relação começou mal, terminou pior ainda.
As atuações irregulares do Figueira seguiram e, em 11 jogos sob o comando de Guto Ferreira, a equipe empilhou derrotas – sete, empatou uma única vez e venceu apenas três – um total de 30,3% de aproveitamento. Além disso, na última quarta-feira, acabou eliminado na Copa do Brasil.
Em um meio repleto de jargões e clichês, o Figueirense viveu na pele, nesta semana de julho de 2014, um deles. Todo o ambiente conturbado fora de campo, refletiu na atuação da equipe. No começo de terça-feira, o então vice-presidente Rodrigo Otávio Passoni, anunciou a sua renúncia do cargo do qual fazia parte desde o mês de setembro de 2012.
Conhecido por ser uma oposição à gestão de Nestor Lodetti e, consequentemente de Wilfredo Brillinger, Passoni fez parte do processo que dissolveu a Alliance Sports e do Conselho Administrativo alvinegro presidido por Lodetti. Diante da necessidade, por parte do estatuto, o clube teria dois vices. A presença de Passoni na diretoria, era vista como uma vitória da oposição por poder “fiscalizar” de perto a nova gestão.
Entretanto, como contou o ex-vice-presidente, o caminho não foi como o esperado. Decepcionado e surpreso com as atitudes de Wilfredo Brillinger, Passoni externou sua insatisfação com a “falta de transparência” da diretoria, a falta de voz, problemas com o presidente Wilfredo Brillinger e o excesso de poder do superintendente de esportes, Rodrigo Pastana, que, de acordo com Passoni, se envolve em diversos setores do clube. Uma situação incômoda, que teria iniciado com a maneira como o ídolo Fernandes, ao final de 2012, havia sido desligado do clube.
Questionado sobre as alegações a seu respeito, Rodrigo Pastana tratou de dar o tom daquilo que urge internamente no clube. O superintentende, no gramado do estádio Orlando Scarpelli, minutos antes do jogo decisivo para a equipe, disparou e, com ironia, disse desconhecer o vice-presidente e o classificou como “covarde” e “rato”, por não comparecer ao clube. Alguns momentos depois, o resultado dentro de campo não poderia ser outro, a não ser a eliminação na Copa do Brasil par ao Bragantino.
Em meio à queda na competição nacional, de Wilfredo Brillinger convocou uma reunião com os dois pilares do futebol alvinegro - Rodrigo Pastana e Cleber Giglio, na sala da presidência do estádio Orlando Scarpelli. Na conversa, o mandatário, segundo informações repassadas pela assessoria do clube, teria cobrado uma postura diferente da equipe que está na zona de rebaixamento do Brasileirão. Além disso, assegurou, até segunda ordem, a manutenção do técnico Guto Ferreira no comando do time. Porém, em menos de 24h, o técnico Guto Ferreira seria demitido pelo site oficial do clube.
A decisão, segundo explicou Wilfredo Brillinger, foi tomada no começo da noite de quarta-feira. Para então, em seguida, o contato com o amigo pessoal do presidente, Argel Fucks, ser feito. Em poucas horas, o gaúcho de 40 anos aceitou o cargo, o qual considerou uma “convocação”. E, assim, com rapidez, a negociação foi concluída e Argel foi apresentado na quinta-feira, à tarde.
Com um retrospecto pior do que Guto Ferreira – 26% de aproveitamento na primeira passagem, Argel vestiu o uniforme alvinegro sob chuva e foi para o campo. Antes, na sua apresentação, o velho estilo dos gramados, estava sentado na bancada do alvinegro de Florianópolis. Agitado, elétrico e extremamente confiante, Argel garantiu luta e “trabalho, trabalho e trabalho” para o “negócio” que tem pela frente: manter o Figueirense na elite do Brasileiro.
Como em uma gangorra, novamente, o Figueirense desceu. Como se uma máquina do tempo tivesse sido criada e ligada, o torcedor custa a acreditar no que vê. O 2014 parece ter se transformado em 2012. Resta agora saber se há tempo necessário para uma reação, apoio suficiente das arquibancadas e também paz interna nos corredores alvinegros. O dia sete de dezembro dirá - data da última rodada do Brasileirão.
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