Mato Grosso, 28 de Março de 2024
Esportes

Escândalo na base do Corinthians: papéis mostram divisão do dinheiro

06.05.2016
09:19
FONTE: G1

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O escândalo que envolve um ex-diretor, um conselheiro vitalício e a venda irregular de direitos econômicos de um jogador das categorias de base do Corinthians ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira. O GloboEsporte.com teve acesso a um rascunho que detalha como foi feita a divisão do dinheiro e como seria o contrato profissional do garoto Alyson José da Motta. 

As anotações, em papel comum de caderno, são do agente de jogadores Julio Cesar Polizeli. Ele foi um dos responsáveis por levar o menino ao Corinthians em novembro de 2014 e está em atrito com a família desde o surgimento do caso. O empresário alega que tem um contrato assinado de representação do atleta. Os familiares, porém, dizem que o acordo está rompido e que agora Jailton Lopes cuida dos interesses de Alyson.

Pessoas que participaram das negociações confirmaram à reportagem que o planejamento financeiro é verdadeiro e foi feito no fim do ano passado. Os detalhes só não entraram em contrato porque o esquema chegou ao presidente do Timão, Roberto de Andrade, e ao departamento jurídico do clube. Alyson acabou afastado antes de assinar o vínculo profissional. 

Uma das imagens exibe a divisão dos US$ 60 mil pagos pelo agente americano Helmut Niki Apaza para adquirir os 20% dos direitos econômicos do jogador. A descrição tem US$ 30 mil para "Manoel", mais US$ 10 mil para "Julio" e US$ 20 mil para "Fábio". 

Eles são Julio Cesar Polizeli, Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, conselheiro vitalício do Corinthians, e Fábio Barrozo, ex-gerente das categorias de base do Timão. Também está escrito “Lucas Ave”, não identificado quem seria, e o valor de 500,00 – não citando se reais ou dólares.

Helmut Niki Apaza é quem fez a acusação de ter sido vítima do golpe. O documento de compra dos direitos apresentado por ele ao departamento jurídico do Timão tem apenas a assinatura de Fábio Barrozo, o que o torna sem efeito – a carta só teria validade se fosse assinada por Roberto de Andrade. Além disso, a transação foi feita em dezembro de 2015, período em que a Fifa já proibia a participação de investidores em transações de atletas.

Outros rascunhos mostram as mudanças nas porcentagens dos direitos de acordo com as negociações envolvendo o agente americano. Em um deles, o Corinthians seria dono de 60% assim que o jogador assinasse seu primeiro contrato profissional, aos 16 anos. O pai do garoto, Wilson, ficaria com 20%. Os 20% restantes estariam sob controle para o que está descrito nas anotações como "gestão". Com uma seta indicativa, constam os nomes Julio, Manoel, Fábio e Cuca. O último seria quem apresentou Julio Cesar Polizeli a Mané da Carne.

Logo abaixo da mesma imagem aparece a citação "vendido Niki" e o valor de US$ 60 mil. Há também a indicação dos salários de Alyson durante três anos de contrato profissional. No primeiro, ele ganharia R$ 4.500. Em seguida, R$ 5.500 e R$ 6.500. 

No mesmo papel constam os valores salariais que o grupo "gestão" solicitaria ao Corinthians para que Alysson assinasse. Uma espécie de contraproposta ao que foi ofertado pelo Timão. O montante aumentaria anualmente: dez salários mínimos no primeiro, 15 no segundo e 20 no terceiro. A multa rescisória seria de 2% do acordo.

Uma terceira anotação detalha como passou a ser a divisão dos direitos econômicos a partir da entrada de Helmut Niki Apaza no negócio. O Corinthians continuaria com 60%, mas o pai do jogador e Julio dividiriam 20%. O restante ficaria com o empresário americano. Como o acordo não tinha validade legal, nada disso saiu do papel.

Em entrevista ao GloboEsporte.com no último sábado, Fábio Barrozo confirmou a divisão inicial dos direitos na chegada do jogador ao Corinthians. Os números mudaram a partir do momento em que a Fifa proibiu a presença de investidores. A família repassou seus 20% ao clube em troca de um aumento salarial. Assim, o Timão teria 80%. Esse acordo também não foi assinado.

– Quando o atleta chegou, em novembro de 2014, ficou acordado que no contrato, a partir dos 16 anos, o clube teria 60%, a família 20% e o empresário 20%. Mas neste meio tempo as regras da Fifa mudaram. A família, então, abriu mão de ter porcentagem por aumento salarial. Já o beneficiário (empresário do jogador) negociou para um empresário chamado Niki. Como ele fez essa cessão, eu tive de anexar uma cláusula extra ao contrato dizendo que houve venda de 20% para o Nick por US$ 60 mil e como foi feita a negociação. Por isso, fui falar com o Niki. Os 20% negociados, na verdade, não são direitos econômicos, são comissão por futura venda dos direitos econômicos – argumentou Barrozo.

Em novo contato com a reportagem, Fábio Barrozo disse desconhecer o manuscrito e voltou a negar que tenha recebido dinheiro de Niki. O GloboEsporte.com também procurou Manoel Ramos Evangelista, mas ele não respondeu aos telefonemas.

Niki garante que pagou a Fábio Barrozo os US$ 60 mil em dinheiro no Brasil, divididos em três parcelas de US$ 20 mil. A última delas entregue em fevereiro deste ano. Em conversas por mensagens de celular, Barrozo dá a entender que Mané da Carne seria beneficiário de parte do valor, mas exigia sigilo. Não há até agora a comprovação de que os envolvidos tenham recebido o montante. 

Alyson José da Motta está afastado dos treinos com os elencos de base do Corinthians desde o fim do ano passado e não sabe se continuará no clube. Helmut Niki Apaza ameaça levar o clube à Justiça para tentar receber o dinheiro que teria pago ao conselheiro e ao ex-diretor. O presidente do Timão, Roberto de Andrade, entregou a denúncia do agente à Comissão de Ética do Conselho Deliberativo. Mané da Carne pode ser advertido, suspenso ou até mesmo excluído do quadro.

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