A vitória por finalização sobre Luan Chagas no UFC Brasília, no último sábado, mostrou um Erick Silva diferente do que os fãs estão acostumados a ver. No lugar do lutador afoito, que buscava decidir suas lutas no primeiro round, apareceu um atleta mais estratégico, que não mostra mais a pressa para acabar com a luta, e que espera a hora certa para dar o bote. Em entrevista ao Combate.com após a sua luta, que foi disputada no card preliminar do evento, Erick Silva disse que a fama de "Fenômeno" o atrapalhou no começo de sua caminhada no UFC.
- No começo aquilo de ser chamado de "Fenômeno" me atrapalhou um pouco, porque a gente estava entrando em uma coisa nova, e muita coisa muda muito rapidamente. As pessoas às vezes pegam bastante no meu pé por isso, porque elas criaram uma expectativa que eu nem pedi, mas elas criaram. Outros atletas têm o mesmo caminho que eu, mas as pessoas não pegam tanto no pé. Mas isso serviu como algo positivo para mim. Hoje em dia eu sou um atleta que tem uma cabeça bastante diferente do começo. Tenho que aproveitar isso. Não quero apagar tudo que passou, e sim que sirva de lição para fazer tudo diferente e melhor. O estigma de "se passar do primeiro round o Erick perde" não me incomodava tanto, porque no camp que eu fiz eu fazia três rounds duros com três caras diferentes botando a maior pressão. Como atleta, eu sabia que o meu problema não era esse. Mas foi bom para as pessoas verem que eu não sou lutador de um round só. Não vou buscar lutas mais tranquilas, mais fáceis. Quero evoluir a cada luta para disputar o cinturão um dia.
Domar o "cavalo selvagem" que ele diz existir dentro de si é um constante desafio para Silva. Na sua opinião, essa é a principal mudança no seu comportamento nos treinos e nas lutas a partir de agora.
- Na academia, se eu tomo um golpe, eu quero revidar, ir pra cima. Meu treinador sempre me fala para eu segurar o cavalo selvagem que eu tenho dentro de mim. Ele me diz para, se eu tomar um golpe, eu segurar a onda. Hoje aconteceu isso, eu caí e pensei: "Vou pra cima!" Mas era o cavalo selvagem querendo entrar em ação. Consegui me segurar e ser mais estratégico. Podem ter achado que eu cansei e que não estaria conseguindo ir pra cima. Não foi isso. Foi uma vitória diferente das outras vitórias que eu já tive. Antes eu nocauteava ou finalizava no primeiro round. Nessa eu fui mais estratégico, mesmo quando a mão dele entrou e eu tive que voltar um pouco abalado. Consegui segurar a onda e não tentar bancar o cavalo selvagem. Eu tinha que ser mais estratégico, para ganhar round por round. E foi o que eu tentei fazer. Essa é a minha nova fase. Não que tudo o que eu vivi no octógono tenha ficado para trás. Mas serviu de muita experiência para que esse Erick, nessa nova fase, possa ter uma evolução muito maior. Estar treinando na minha cidade, próximo ao meu filho e às pessoas que eu amo, está me deixando mais feliz. Lutador bom é lutador feliz.
Para Erick Silva, um dos responsáveis por essa mudança na sua forma de encarar as lutas é seu novo treinador, André Benkei.
- Eu fiz um camp voltado para mim. Trouxe mais de dez pessoas para essa preparação. Destaco o André Benkei, que é um cara sensacional. Não tem como nós nos separarmos agora. Temos muita confiança um no outro, nos entendemos, e ele trouxe muitos lutadores e treinadores para me ajudar. Talvez eu não tenha mostrado tudo o que evoluí, mas ainda vai vir muita coisa boa por aí.
Falando sobre a luta contra Luan Chagas, o lutador acredita que a paciência para esperar o momento certo de atacar foi fundamental para conseguir a vitória, mesmo depois de sofrer um duro golpe, que resultou em um knockdown, ainda no primeiro round.
- Foi um novo passo na minha carreira e eu estou treinando bastante. Mudei muita coisa, e ainda tenho muito para mostrar. Mas às vezes na luta acontece alguma coisa que impede que a gente mostre o nosso jogo. Eu tomei uma mão muito dura no primeiro round e senti bastante. Só consegui voltar um pouco no segundo round. Senti meu adversário mais lento no segundo e no terceiro rounds, só que a estratégia que nós montamos, de um Erick mais concentrado, mais tranquilo e estratégico pode ser mostrada nessa luta.
Em nenhum momento eu me afobei ou fui pra cima dele para acabar a luta logo. Em vários momento eu acho que, se eu fosse pra cima, eu poderia ter finalizado, mas esperei o momento certo, porque eu sabia que ele abriria uma brecha. Quando ele fosse me botar para baixo eu iria defender e pegar as costas dele, que foi algo que nós treinamos muito. Eu sabia que naquela posição eu iria pegar ele, e consegui. Treinei bastante para ter gás, e consegui dosar bem. O golpe que eu tomei no primeiro round me fez sentir bastante na luta, e estou sentindo até agora. Mas tenho certeza que treinei de tudo para ganhar round a round, e aproveitar a brecha que ele me desse para finalizar o combate o quanto antes. Não vim com a cabeça de acabar a luta no primeiro round, ou no momento que eu quiser. Estudei bastante o jogo dele, e me surpreendi bastante durante a luta, porque ele não soltou os golpes que a gente esperava que ele soltasse. No terceiro round eu estava conectando bastante jabs, e ele estava muito lento. Se eu tivesse apertado um pouco, talvez tivesse nocauteado, mas eu não queria abrir brechas que fizessem ele me acertar. Quando ele entrou meio displicente nas minhas pernas eu consegui ir para as costas dele e finalizar a luta.
Empolgado por o que considera ser uma nova fase na sua carreira, Erick Silva que voltar a treinar o mais rápido possível. A ideia é ficar parado o menor tempo possível.
- Vou voltar logo para os treinos. Não estou com nenhuma lesão mais séria, pelo menos até agora (risos). Só estou sentindo o rosto um pouco, mas é normal, nada de mais. Não quero tirar férias, quero voltar a treinar. Há pouco tempo fui para os EUA, treinei na academia do Renzo Gracie, treinei na Kings MMA... Isso tudo somou para eu ganhar mais experiência. Vou fazer uma luta de submission mês que vem, e é isso. Não quero ficar parado.
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