Mato Grosso, 26 de Abril de 2024
Esportes

Micale põe Gabriel Jesus em outro nível e quer dependência de Neymar

19.07.2016
15:06
FONTE: Alexandre Lozetti, Felipe Schmidt e Raphael Zarko, em Teresópolis, Rio de Janeiro

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  • Rogério Micale elogia disposição de Neymar para buscar a medalha de ouro no Rio de Janeiro

Rogério Micale é um homem de convicções. Em mais de 30 minutos da primeira entrevista coletiva na preparação para os jogos olímpicos, o treinador da seleção olímpica passou as primeiras – e melhores – impressões do primeiro contato com Neymar, voltou a colocar o dedo na ferida do futebol brasileiro, pedindo reflexão e reinvenção, e se colocou como peça acessória do time que vai lutar pelo ouro olímpico.

- Quero ser um facilitador. Não quero atrapalhar – afirmou Micale.

O treinador disse que Neymar está de corpo e alma na missão olímpica. A preocupação é deixá-lo feliz para desequilibrar jogos e mostrar o melhor futebol de sua carreira. Trata o jogador do Barcelona como peça-chave da missão olímpica. E para ele não poderia ser diferente. Longe de Micale fugir da chamada "Neymardependência".

- Eu quero ser dependente do Neymar. Que treinador não quer o Neymar no time? Que ele esteja bem, que consiga fazer o que faz com excelência. A situação que se discute em cima do Neymar eu discordo um pouco disso. Quero Neymar feliz pra jogar. E quanto mais qualidade e individualidade tivermos, mais ele vai ser forte, mais importância ele vai ter. Neymar é um grande jogador, merece todo o respeito, desequilibra jogos. O que puder explorar do Neymar eu vou fazer. Assim como vou fazer com Gabriel Jesus, Luan, o outro Gabriel, o Rodrigo Caio... Neymar é um dos três melhores do mundo. Estou muito feliz de ter o Neymar e poder depender dele na equipe. Sei que ele tem condição de dar a resposta que eu quero, que tem condição de desequilibrar o jogo num momento de dificuldade. Então, espero muito dele - afirmou Micale.

Na conversa inicial, Micale disse que o contato foi além da conversa do treinador e do atleta. 

- O bate-papo foi excelente, de pessoas que se conheceram. Tive impressão melhor ainda do que esperava. Vi um atleta extremamente motivado, que tem ciência do que representa essa competição para ele, para todos nós. Ele quer ajudar da melhor forma possível e se colocou à disposição para qualquer situação. É o grande nome do futebol brasileiro e demonstrou o grande jogador que é - disse o treinador.

Confira a íntegra da coletiva de imprensa de Micale:

Facilitador

(Risos). Dizem que parece linha de ônibus (discussões sobre sistema tático). Eu tenho ideia inicial de um 4-2-3-1, mas existem possibilidades. Plataforma inicial de jogo te possibilita várias movimentações, ramificações. Pode ir para o 4-1-4-1, trabalho no momento ofensivo com 4-2-4, 4-3-3. Vai depender do momento de jogo, da leitura, do trabalho com os jogadores. Parto do princípio que a seleção tem jogadores acima da média de cognição, de boa leitura de jogo. Conto muito com isso até pelo que já vivi dentro da seleção. A assimilação do conceito de jogo é rápida, até porque são jogadores de nível muito alto. Lógico que não vou descobrir a roda aqui. O que a gente quer é ser um facilitador. Não quero atrapalhar esses caras. Agora, preciso de um sentindo de organização para a gente poder ter um time que possa externar todas as suas capacidades individuais, que é muito grande nesse elenco que temos.

Mudanças na última convocação afetam a ideia de jogo?

Não afetam. São dois nomes monitorados. O Walace participou de toda nossa preparação, o Renato é um jogador q a gente já conhece característica. Tem versatilidade muito grande, tem várias funções dentro de campo. Dentro do imprevisto que aconteceu concluímos que eles seriam os nomes. Não vai interferir nada (as substituições) no modelo de jogo.

Marcação diferente no campo

Esta marcação é para nos auxiliar nos treinos. Vamos trabalhar muito para facilitar mais rapidamente a assimilação do atleta. São treinos setorizados para a gente entender bem em cada setor o que o atleta precisa. Os caminhos que podem trilhar dentro de um padrão coletivo usando sua individualidade. Essa demarcação dá noção muito clara dos momentos de um jogo, ofensivos e defensivos principalmente. Onde nós vamos tentar recuperar a posse de bola num primeiro momento e no segundo se não conseguirmos retomar a bola imediatamente. Esse tipo de marcação é para trazer didática melhor para o entendimento do jogo. São coisas de treino. Ao invés colocarmos cones, preferimos deixar desta maneira. 

Jogo ofensivo e equilibrado

O que procuro é uma equipe equilibrada. Não basta só ser ofensivo, correr muitos riscos defensivamente, porque te torna vulnerável. A equipe adversária, observando isso, pode jogar nesse erro que você possa cometer. Busco equilíbrio. Se você avaliar o grupo, que tem características ofensivas, com jogadores leves, de velocidade, com um contra um mto bom, boa dinâmica de jogo, tudo isso característica desse grupo, vamos tentar fazer o jogo respeitando a cultura do jogo brasileiro. Jogo ofensivo, leve, solto, mas com responsabilidade no segundo momento. Quando se perde a posse de bola tem que mudar a chave. Isso é um grande desafio para o futebol brasileiro. Vamos tentar equilibrar os trabalhos que vamos desenvolver aqui. Acredito muito que possa ver um time solto, responsável, mas com alegria de jogar futebol.

Trabalho emocional 

O trabalho que venho exercendo à frente da seleção olímpica e sub-20, com o conhecimento que estamos desenvolvendo, temos falado aos jogadores que as derrotas recentes são marcas e a gente tenta relembrar essa situação. Mas é uma coisa que tem que ficar no passado. Temos que aprender com isso, crescer em cima do que aconteceu. Todos nós. Não só a CBF, os jogadores, mas todos os setores nos fazem refletir o que pode fazer de diferente para evitar que aconteça novamente situação como essa. Vamos tentar retomar a grandeza do nosso futebol. É verdade que precisa ser revisto, repensado, mas tem história muito bonita, que nos dá orgulho. Vejo que esses jogadores não podem trazer a responsabilidade do que passou. Podemos sim construir uma nova história, com muito trabalho, com tranquilidade, com orgulho de estar aqui. Disputar os jogos olímpicos é marca importante na vida de qualquer um. Essa tranquilidade temos que levar para o campo e fazer nosso melhor. Fazendo isso o resultado vai ser consequência disso. 

Ouro ou nada 

É cultural, característica da nossa sociedade. Temos que saber nos adaptar bem a isso. Ter tranquilidade para administrar bem esse fator, que em outros lugares não encontramos. Sabemos que todos querem ganhar, mas só um vai chegar. A margem de erro é mínima. Futebol é muito complexo, vários fatores podem influenciar no resultado. Muitas vezes se joga partida bem, e o resultado não vem. Você não tem controle, futebol é um esporte em que você não pode controlar tudo. A gente vai se dedicar ao máximo. Estamos tentando otimizar tudo em termos de treino, tudo aquilo que envolve preparação dos atletas. Sabemos que só o primeiro lugar nos interessa, o grupo também é ciente disso. Encaramos como um grande desafio, grande responsabilidade. Precisamos de muito equilíbrio, muito controle emocional. Nesses momentos é fundamental aquilo que você se preparou para fazer. Tentar, com toda essa pressão, corresponder às expectativas, dentro do trabalho. Vamos fazer com a maior tranquilidade possível. Em cima disso a consequência vai ser a vitória ou não, mas o trabalho foi o melhor possível.

Gabriel Jesus

Sou suspeito de falar, porque o levei para o Mundial sub-20 com idade de participar ainda do próximo. Ele antecipou (etapas) e foi um grande destaque do Mundial. Eu acho o Gabriel um jogador formidável, que já é uma realidade. Agora, a gente precisa entender o processo formativo. Ele é um jovem com 18 para 19 anos, ainda precisa agregar alguns fatores à sua carreira. É natural. Ainda está absorvendo isso. Não podemos trazer responsabilidade nas costas dele, que não é nem do Neymar. O Neymar é o que é porque conquistou isso. O Gabriel ainda está construindo isso, acredito que vai ser um grande expoente do futebol brasileiro. Tem todas as características. Tem prazer, alma, gosta de ganhar, de jogar futebol. Isso é uma coisa que admiro muito. A gente olha no Gabriel e vê isso latente, amor pelo que faz. 

Como fazer Neymar feliz?

O que traz felicidade a qualquer área é ter um bom ambiente de trabalho, se sentir bem ali. O segundo passo é essa troca de ideias. Faz parte. Aqui não existe o Rogério atrás de um objetivo, e o Neymar, atrás de outro. São os dois atrás do mesmo objetivo. O que eu puder conversar para chegar no mesmo objetivo, por que não fazer? Essa questão de hhierarquia entre técnico e jogador... Desde que você tenha objetivo em comum, por que não conversarmos para tentar minimizar os erros para melhorar o processo e conseguir isso? Não é só o Neymar, qualquer atleta terá o mesmo relacionamento comigo. Temos que ter essa abertura para tentar potencializar e otimizar tudo aquilo que puder. 

Capitão

Internamente já existe uma conversa. Vocês vão ficar sabendo brevemente quem vai ser o capitão. Temos conversado com cada um dos jogadores. Existe ideia pré-concebida. Não existe constrangimento algum. Pelo contrário, existem ideias concebidas, mas que precisam ser conversadas. Tem que ser visto, olhar no olho das pessoas, porque quem convive com os atletas sou eu. Não pode tentar colocar uma coisa na frente da outra. Temos que passar por processo interno para depois expressar aquilo que aconteceu. O processo já existe. 

Filosofia de jogo

Vamos tentar atacar com 11 e defender com 11. Futebol envolve todos os jogadores. É um conjunto que começa o ataque com participação do goleiro, e o momento defensivo começa com participação do atacante. Não tem como desmembrar. Eu vejo o jogo como um sistema vivo, a toda hora está mudando. É importante ter muito claro para usar variações. Pode não jogar com volante algum, desde que você parta do princípio que todos entendam o que fazer com e sem bola. Essa utilização de nomes, laterais, volantes, é para tornar clara a nossa ideia, mas o futebol tem dinâmica tao própria, é tão complexo que a gente nunca inicia e termina jogada com jogadores dentro da plataforma que se ve inicialmente. O único momento que percebemos o sistema de jogo é antes do início do jogo. Daí em diante, o sistema é vivo, mutável, dinâmico. Quem toma as melhores decisões geralmente cria mais dificuldades ao adversário. 

Esquema tático

Alguém falou que parece linha de ônibus. Eu tenho ideia inicial. Venho atuando no 4-2-3-1, mas existe a possibilidade de mudança. A plataforma inicial de jogo te possibilita varias movimentações, ramificações. Pode ir para o 4-1-4-1, no momento ofensivo trabalho com o 4-2-4 e o 4-3-3. Vai depender do momento de jogo, da leitura. Parto do princípio que na seleção são jogadores acima da média de cognição, leitura de jogo. A assimilação vai ser rápida, porque são jogadores de nível muito alto. A gente quer ser um facilitador. O que não quero é atrapalhar esses caras. Agora, precisa de um sentindo de organização para a gente poder ter um time que possa externar todas as suas capacidades individuais. Existe um esboço de time titular, mas os treinos servem para isso, para ver quem entendeu melhor a forma de atuar. Com tranquilidade, vamos decidir isso.

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