Começa o festival gastronômico de Alta Floresta e Paranaíta

Castanha do Brasil, peixes, frutos, carnes temperadas  e combinadas em pratos e guloseimas exóticos e criativos, elaborados por quem conhece e vive na região norte do Estado de Mato Grosso, próxima à fronteira do Pará. Estes são os atrativos do Festival Gastronômico Sabores da Floresta, lançado no último dia 30 e iniciado no sábado (1), em Alta Floresta e Paranaíta. O evento prossegue até final de novembro (30).

 

O festival é uma realização do Grupo de Empresários da Gastronomia e  Hotelaria Alta Floresta e Paranaíta, apoiado pela Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP) e Sebrae MT. Catorze restaurantes, lanchonetes, pousadas e hotéis são os protagonistas da iniciativa: 12 de Alta Floresta e dois Paranaíta. O objetivo é apresentar a rica culinária feita com produtos da Amazônia Meridional (como é conhecida a região), agregar valor ao turismo, valorizar e dar visibilidade à cultura local.

 

A proposta de realizar o festival surgiu nas reuniões dos projetos de desenvolvimento local sustentável, que vêm sendo realizados pela Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP) como compromisso assumido no processo de licenciamento das obras  e funcionamento (EIA Rima) da Usina Hidrelétrica Teles Pires (UHTP). Nas duas cidades, estes projetos são conhecidos como P37 e P38.

 

O lançamento do festival foi concorrido e prestigiado por cerca de cem pessoas, entre empresários, moradores, autoridades municipais, imprensa e executivos da CHTP. O evento ocorreu no Hotel Floresta Amazônica, na noite de quinta-feira (30). Seus proprietários são Edson e Vitória da Riva, que também dirigem o Lodge Cristalino, uma reserva ecológica particular com pousada, responsável por projetar Alta Floresta como destino turístico sustentável em nível internacional.

“O festival veio para valorizar a nossa região, nossa cultura e o turismo. É importante, pois também está unindo os empresários. Estamos muito satisfeitos e certos de que será um sucesso”, 

 

Elaine Baía, proprietária da Confeitaria Doces e Sabores e coordenadora do Sabores da Floresta. A confeitaria participa do evento com a sobremesa ‘cheesecake de castanha do Brasil’.

“Estamos apoiando não só o desenvolvimento sustentável de Alta Floresta e Paranaíta, mas também o desenvolvimento do empreendedorismo e da cultura na região”, afirmou Marcos Duarte, diretor de sustentabilidade da CHTP. “Visualizo Alta Floresta como um grande polo educacional”, complementou.

 

Marta Torezam, gerente da Unidade de Eventos do Sebrae MT, ressaltou a caminhada feita pelos empresários participantes dos projetos da CHTP (dos quais a instituição é parceira), desde novembro de 2012. Havia uma perspectiva negativa em relação a projetos de desenvolvimento de turismo, lembrou. O lançamento do festival representa que parte do resultado foi alcançado. A conscientização dos empresários como agentes de transformação da realidade local foi destacada pela gerente como uma das metas fundamentais dos projetos.

“ Aqui, hoje, estão sendo plantadas uma força, uma motivação, uma força de transformação, uma construção diferenciada”, salientou Marta. Capacitações, cursos, consultoria e visitas a empreendimentos fora do estado foram realizados, ao longo de dois anos. Marta enfatizou que o festival gastronômico é só o começo da transformação.

“É preciso seguir. Está claro que aqui há potencial para o desenvolvimento de turismo e que há também potencial para turismo de negócio, de observação de pássaros e da natureza. Seguir adiante significa os empresários se manterem coesos e com foco”, ressaltou a gerente. O Sabores da Floresta deverá ser anual.

 

Jaime Barella, dono do restaurante Barellas em Alta Floresta, conta que era seu desejo criar um prato típico regional, a ser servido nos estabelecimentos de alimentação da cidade. Há cerca de cinco anos, tentou reunir outros empresários do ramo, mas não conseguiu adesão. O Festival Sabores da Floresta finalmente uniu os donos de restaurantes, bares, hotéis e pousadas das duas cidades, diz satisfeito.

 

Paranaense de Marechal Rondon, Jaime informa que trabalha com alimentação há muito tempo e sempre se dedicou aos peixes. Está radicado em Alta Floreta há dez anos. “Eu e minha esposa somos cozinheiros”, afirma categórico.

 

O prato que o casal desenvolveu para o festival se chama Ventrecha Pacu à Moda Barellas. Detalhando: costelas de Pacu temperadas com açafrão, limão e ervas finas, que são servidas junto a arroz com castanha do Brasil e bolinho de mandioca especial. O prato individual custa R$ 22 e vai entrar para o cardápio fixo do restaurante.

 

O fluminense Andrei Sid, dono da Tauru’s Burguer, também chegou à Alta Floresta, há dez anos. Ex-designer, decidiu se estabelecer na cidade, depois de viver em outras regiões do interior do país. Conta que quando chegou era comum conviver com muita fumaça devido ao desmatamento da floresta. Hoje, isso não ocorre mais, assegura.

 

Os hamburguers da Tauru’s são famosos na cidade e região. Tudo é feito no estabelecimento e com receitas caseiras. Para o festival, Andrei criou um sanduíche em homenagem aos tropeiros, que ainda existem no norte de Mato Grosso. “Aqui ainda há transporte de gado por tropa. Não existe mais em outras partes do país”, justifica.

Último Tropeiro é o nome do sanduíche que reverencia estes trabalhadores em extinção, que cozinham para alimentar a tropa durante o transporte de gado por estradas e fazendas da região. Muitas vezes levam dias para percorrer longas distâncias. “ É um resgate da base cultural do norte de MT”, ressalta.

 

O prato da Tauru’s é composto por hambúrguer misto (bovino e suíno), molho de cebola caramelizada, rúcula e banana frita em pão de forma caseiro. A receita é original dos tropeiros e  Andrei revela que só acrescentou manteiga de castanha à ela. No sábado à noite, muitos freqüentadores da lanchonete, bem instalada em uma avenida movimentada de Alta Floresta, experimentavam o sanduíche e aprovavam. “Está vendendo bem”, disse satisfeito.

 

Para  Andrei, o festival é importante, pois a cidade é muito jovem e ainda está em plena consolidação. “Estamos construindo a cultura local e reunindo pessoas de diferentes etnias e regiões brasileiras, que vieram para cá”, argumenta.O Sabores da Floresta pode sustentar a pesca esportiva e o turismo de floresta, principais atrações que atraem milhares de turistas ao norte de MT.

 

 O norte de Mato Grosso é considerado o portal da Amazônia Meridional e uma das últimas fronteiras ocupadas pela pecuária e que assiste a chegada da soja, nos últimos anos. Paranaenses, gaúchos, paulistas e brasileiros de outros estados começaram a migrar para cá com o objetivo de iniciar um novo pólo de desenvolvimento agropecuário, há cerca de 40 anos. Há também riquezas minerais aqui e, por este motivo, muitos garimpos de ouro em atividade, entre outros minérios.

 

Alta Floresta é considerada um destino turístico ecológico importante para observação da fauna e flora. A construção e implantação da UHTP e outras pequenas usinas hidrelétricas na região estão consolidando uma nova realidade econômica no norte de MT, mas com cuidados ambientais. Nesta região já ocorreram grandes operações para punir o desmatamento e garimpo ilegais, no passado recente.