Mata todo mundo?

Madrugada de quarta-feira, sem sono e cá estou eu, ouvindo o disco “Nó na Orelha” do rapper Criolo, refletindo e fazendo autocrítica enquanto cidadão sinopense sobre toda a insegurança que vivemos, especialmente neste ano de 2014. Entre uma lembrança e outra, lembro da minha Mãe eufórica dizendo no domingo “Filho você viu, o Celso Athayde comentando sua foto”, dei um sorriso e também fiquei orgulhoso, mas mantive a postura frente à Débora (minha namorada), que na oportunidade que teve perguntou quem era o tal Celso. Eu mais que ligeiro puxei no youtube o vídeo dele no programa Esquenta da Regina Casé, falando da FAVELA HOLDING, que se trata de um conjunto de empresas que tem como objetivo central o desenvolvimento de favelas e de seus moradores, qual nasce atuante junto a empreendedores comunitários, fomentando e promovendo novas oportunidades de negócios, empreendedorismo e empregabilidade. Enfim, falo pra ela sobre o Celso, da nossa amizade e troca de conhecimento durante os anos vividos na CUFA (Central Única das Favelas) e já coloco na sequencia um trecho do Documentário, produzido também com a participação do Celso, “Falcão Meninos do Tráfico”, coincidência ou não, justo na parte que uma criança diz “Se eu morrer nasce outro que nem eu, ou pior, ou melhor,”. Débora que estava em um misto de orgulho e curiosidade, abaixa o semblante e mudamos de assunto. Coincidentemente ou não, durante toda a terça-feira em Sinop o assunto nas rodas de conversa, nas mídias sociais e na imprensa era um só “Policial a paisana mata dois jovens acusados de cometerem 3 assaltos em sequência”.

 

90% das pessoas que vi e ouvi falarem sobre o assunto, concordavam com a ação do policial, bom, tendo em vista que hoje é escancarado o inconformismo popular para com as penas aplicadas a crimes bárbaros ou até mesmo tolos, mas que já estão em uma rotina desgastante da população. Porém, é fácil perceber que uma grande parte do povo não recebe a educação essencial a qualquer cidadão que se diz viver em um “Estado Democrático” e na boa, não vejo 10% das pessoas comentarem sobre a omissão do Município com a Educação e se solidarizarem com a greve dos Professores em Sinop, que vem ao encontro desta perspectiva de garantir uma melhor qualidade de ensino aos nossos filhos, pelo contrário a grande maioria trata os profissionais da educação como “preguiçosos”.

 

É comum ouvir de que “as crianças são o futuro da nação”, e o que estamos deixando de legado a elas? Incomoda-me esse sentimento de julgamento da “justiça com as próprias mãos”, que se não houver uma interferência imediata do Estado, assegurando educação, saúde, cultura e segurança pública para população, vamos viver um verdadeiro extermínio humano. Hoje nos encontramos desamparados pelas leis ou até mesmo pela falta do cumprimento delas, fazendo com que o senso de injustiça fique arraigado em nós, ora, a grande maioria vive com medo, trancados dentro de suas casas, pagando impostos exorbitantes, inflação, corrupção e a saúde, que está um caos assim como a educação e a segurança. Isso faz com que as pessoas acabem se sentindo no direito de julgar a outra. E esta ai o perigo, acabamos criando um círculo vicioso no qual as pessoas se sentem injustiçadas, não crêem na ação do Estado e por isso rompem o pacto social e isso amigos, apenas gera mais injustiça. A única saída é o resgate da legitimidade do Estado.

 

A verdade é que o Estado omite seu dever de criar cidadãos com a devida educação e você tome cuidado para não ser conivente e permitir tal omissão do Estado, porque da forma que vivemos hoje, com a atual postura dos nosso governantes, temos uma fábrica de bandidos, que como disse o jovem garoto (morto aos 17 anos) do documentário Falcão, “Se eu morrer nasce outro que nem eu, ou pior, ou melhor,”.