Aos oito anos de idade, a pequena Helena Maria falou para sua família que seu sonho era ser juíza. A mãe estranhou, ninguém entendeu de onde ela havia tirado aquela ideia, já que a família vivia de forma simples na comunidade rural de Mata Grande, em Chapada dos Guimarães, e a menina aprendera as letras há pouco tempo. Mais de 47 anos se passaram e o sonho de Helena Maria Bezerra Ramos se tornou realidade para muito além do que sua cabeça de menina poderia imaginar: chegou ao cargo de desembargadora do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, ápice da carreira na magistratura estadual.
Em uma cerimônia do Tribunal Pleno repleta de emoção, sentimento, agradecimentos, música e poesia, realizada no Plenário 1 do TJMT, Helena Maria celebrou sua posse e sua nova jornada que se iniciou nessa quarta-feira (7 de dezembro).
"Toda a minha vida me preparei para isso. Fui predestinada a ser juíza por Deus. Quantas vezes me questionei se conseguiria chegar tão longe. Só aqueles que possuem esse desejo sabem que se trata de um sonho. Como escreveu Renato Russo: nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem. Eu acreditei”, disse a magistrada em trecho de seu discurso de posse.
A sessão solene emocionou diversos convidados e inclusive os desembargadores que prestigiaram a solenidade, que choraram com a homenagem da desembargadora empossada aos seus familiares, professores, colegas de trabalho e membros da Justiça.
Uma das homenageadas especiais foi sua irmã e professora Nilce Bezerra, quem lhe ensinou a ler e incentivou a seguir o caminho dos estudos. Helena interrompeu o discurso de posse e foi até a irmã entregar um buquê de flores, representando sua gratidão a ela e a todos os professores que moldaram seu caráter durante toda sua formação acadêmica, desde a alfabetização na escola rural de Mata Grande, passando pelo Liceu Cuiabano, Escola Técnica, Universidade Federal de Mato Grosso e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde fez mestrado.
“Eu me sinto muito feliz porque sou a mais velha e ajudei na criação e alfabetização dela. É uma honra muito grande para mim. Ela sempre gostou de estudar, sempre foi muito inteligente, então todos nós estamos felicíssimos”, afirmou Nilce.
A posse de Helena Maria também arrancou lágrimas do público quando ela se declarou para o esposo, José Roberto Hermann Ramos, e pediu desculpas à Corte para dizer ‘eu te amo’. “É uma emoção muito grande. Hoje é uma vitória para a carreira dela e para nossa família, porque eu a acompanho desde o início, há 27 anos, quando nos casamos. Eu tive que largar meu emprego em Cuiabá para acompanhá-la nas comarcas. Tivemos que estar sempre unidos para que a carreira dela desse certo. Ela sempre falava: vou chegar ao Tribunal. E hoje nós estamos aqui”, conta o homenageado.
“É com imensa satisfação e alegria que chego a esta Corte. Estou muito feliz e orgulhosa por participar dessa instituição sólida. Este é um tribunal de bem, por isso merece a confiança da população. Para mim é uma honra, uma responsabilidade e um desafio. Chego a essa Corte com espírito aberto. Comprometo-me a trabalhar com honra e honestidade como sempre trabalhei e irei contribuir com o que há de melhor em mim”, asseverou a desembargadora.
O desembargador Márcio Vidal foi o anfitrião da cerimônia e ressaltou todas as qualidades da magistrada no discurso de boas-vindas. Ele relembrou o tempo em que eram colegas de faculdade na UFMT e o destino que colocou seu pai, o desembargador José Vidal, como o presidente que assinou a posse de Helena Maria como juíza de Direito. “Atuou qual barril de carvalho como vinho e só aprimorou seu desiderato. Vossa excelência chegou, de fato, por mérito, e atravessara a caminhada com todos os méritos que sobeja. Foi um sonho caprichosamente cumprido, degrau a degrau. Não resta dúvida de que está pronta para enfrentar o desafio do Judiciário com a mesma garra que está chegando hoje”.
“Hoje o tribunal está em festa porque está sendo presenteado. A desembargadora já trabalhou aqui como convocada e demonstrou muita competência. É muito ciente no seu trabalho. Tenho certeza de que ela se dedicará ainda mais no novo cargo agora empossada”, destacou o presidente do TJMT, desembargador Paulo da Cunha.
Conforme a magistrada, os desafios do novo cargo são enormes: vencer a quantidade de estoque dos processos para que dê celeridade aos anseios da população, prestar um bom serviço jurisdicional e cultivar constantemente as virtudes morais, principalmente nessa crise ética e política que o país atravessa. “Vou dar continuidade ao trabalho de magistrada, porque continuo magistrada, vou apenas mudar de competência e agir em colegiado. No tribunal temos que aprender a trabalhar em colegiado, essa é a grande diferença do gabinete. Vou continuar oferecendo ao povo minha dedicação, minha inteligência, meus estudos, tudo que for possível para que eu possa exercer minha função da melhor maneira”.
Confira
AQUI um breve resumo da trajetória profissional da magistrada.
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