Mato Grosso, 18 de Abril de 2024
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Sete presos continuam foragidos após um mês de fuga em massa em cadeia

05.03.2015
14:15
FONTE: Denise Soares/G1 MT

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  • Cadeia Pública de Nova Mutum
Um mês após a fuga em massa da Cadeia Pública de Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá, sete presos ainda continuam foragidos. No dia 5 de fevereiro, 27 presos fugiram pela porta da frente da cadeia, depois que duas mulheres seduziram e doparam dois agentes penitenciários durante uma 'festinha', libertando os detentos da unidade. A Polícia Civil de Nova Mutum comprovou que houve facilitação de fuga envolvendo o ex-diretor e os dois agentes.

Entre os sete que continuam foragidos estão criminosos que respondiam por homicídio, furto, tráfico de drogas e roubo. As jovens permanecem presas na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Cuiabá. Uma delas é namorada de um dos presos, que inclusive é apontado como a pessoa que planejou toda fuga. A outra moça é irmã do mesmo detento.

Os dois agentes penitenciários e o ex-diretor, exonerado logo após o caso, continuam presos na Cadeia de Santo Antônio do Leverger, a 35 km da capital mato-grossense. O inquérito policial sobre a fuga já foi encaminhado para a Justiça de Mato Grosso. Porém, a delegada responsável pelo caso, Angelina de Andrade, continua investigando as denúncias de corrupção e outras irregularidades que aconteciam na cadeia.

Através de provas testemunhais e documentais, a polícia descobriu um esquema de pagamentos entre os presos e alguns agentes, além do ex-diretor. A cadeia era destinada para presos provisórios, porém, abrigava muitos detentos que já tinham sido condenados pela Justiça.

“Existem fortes indícios de corrupção na cadeia, além da facilitação de entrada de celulares, drogas e bebidas alcoólicas. O ex-diretor fazia cobranças 'administrativas' para evitar a transferência de presos, enviar detentos pro serviço externo para assim conseguirem remissão de pena. Tinha preso condenado que era para ser transferido para uma penitenciária e não tinha sido levado ainda porque havia dado dinheiro ao diretor e permanecido na unidade. A Cadeia de Nova Mutum era considerada uma ‘boa’ cadeia pelos presos”, declarou ao G1 a delegada.

Pelas investigações e depoimentos de testemunhas, alguns agentes cobravam dinheiro para permitir a entrada de itens proibidos na cadeia. Já o diretor cobrava entre R$ 100 até R$ 2 mil nos 'serviços administrativos'. Era o diretor quem se ‘oferecia’ para ‘resolver’ os problemas dos presos, informou Angelina.

“Os presos diziam que era ele [o diretor] que solicitava a vantagem, dizendo que ‘podia dar um jeito’. Com o afastamento do diretor os presos começaram a denunciá-lo”, completou a delegada.

'Mamão com açúcar'
As imagens do circuito interno de segurança da cadeia, segundo a delegada, mostram o momento em que as duas mulheres, sendo uma delas namorada de um preso, chegam à unidade e os agentes abrem o portão da frente, por volta das 22h35, no dia 5 de fevereiro.

As duas amigas teriam permanecido na cadeia até 1h45, quando fogem pela porta da frente junto com os detentos. Sobre a fuga, uma das suspeitas ironizou e disse em entrevista à TVCA que 'foi mamão com açúcar' conseguir dopar os agentes e libertar os presos.

“Pelo relato de uma delas, eles [os dois agentes] já as estavam aguardando. Foram eles que ligaram para elas e pediram para trazer bebida alcoólica. Deram uísque e clonazepam líquido para eles beberem”, contou Angelina.

O remédio usado para dopar os agentes é recomendado para tratar epilepsia, ansiedade, síndrome do pânico, depressão e insônia. As jovens não disseram à polícia se aquela ‘festinha’ tinha sido a primeira vez ou de que forma conheceram os agentes. A delegada acredita que, por serem namorada e irmã de um dos presos, conheceram os agentes durante visitas.

O ex-diretor e os dois agentes respondem criminalmente por peculato e facilitação de fuga. As duas jovens e o namorado de uma delas foram indiciados por fuga, roubo [das armas] e formação de quadrilha.

A Cadeia Pública era considerada um problema para a Polícia Civil da cidade, antes da descoberta das irregularidades. Afinal, os presos podiam continuar controlando os crimes de dentro da unidade. “Hoje a cadeia está impecável. Passamos uma vergonha com essa história toda, mas no fim até que valeu a pena", finalizou Angelina.

Sob nova direção
O novo diretor da cadeia, Antônio Pereira Lima, disse que outros quatro agentes foram afastados da unidade e colocados à disposição da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). Segundo o gestor, esses servidores foram citados durante e após a investigação da fuga. Atualmente 11 agentes trabalham na cadeia para coordenar 111 detentos. A capacidade média da unidade, que atende as cidades de Nova Mutum, Tapurah e Nova Ubiratã, é de 70 presos.

“Foi implantado um Procedimento Operacional Padrão (POP), fizemos revistas, implantamos a carteirinha individual para visitantes e aumentamos a assistência religiosa durante a semana. Agora os presos usam uniformes e passam por disciplina, além de participar de projetos. Hoje a cadeia está totalmente controlada”, disse o diretor ao G1.

Um dos projetos citados pelo diretor é uma parceria para recuperação de rodovias mato-grossenses, onde os presos irão trabalhar monitorados através de tornozeleiras e escolta policial. "Passamos a usar também aparelhos detectores de metal e fazemos visitas diárias nas celas", lembrou Lima.

As visitas e entregas de mercadorias na cadeia voltaram a ser autorizadas no último final de semana. Antônio Pereira Lima é servidor concursado e atua no Sistema Penitenciário (Sispen-MT) há mais de 11 anos. Graduado em Administração pela Universidade Federal de Mato grosso (UFMT), tem em seu currículo curso de Operações Especiais Penitenciários.

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