Com uma memória de fazer inveja, Jandyra Teixeira Garcia, de 71 anos, é uma escritora que aprendeu a ler sozinha. Em toda sua vida foram apenas cinco meses de escola, ainda menina, quando tinha 10 anos. Lá aprendeu somente a escrever o próprio nome e as letras do alfabeto. “Eu queria muito ir para escola, mas meu pai não deixava. Quando ele deixou, cinco meses depois mudamos de cidade e não pude mais ir”, lembra Jandyra. Ao lançar o segundo livro em Porto Velho, Jandyra se orgulha ao dizer que já leu mais de três mil livros.
Nascida em Santa Catarina no dia 14 de junho de 1941, Jandyra se tornou autodidata. Chegou a ler mais de 50 vezes a mesma revista para conhecer as palavras novas. Em alguns momentos, aproveitou-se da religiosidade da mãe para ter a oportunidade de gastar o tempo na leitura. “Eu tinha muita vontade de aprender. Então, quando minha mãe passava trabalho para fazer eu dizia que ia rezar o terço e ela liberava. Aproveitava para ler”, diz sorridente.
Aos 16 anos casou-se e teve dois filhos. O casamento durou cinco anos e Jandyra continuava em sua ânsia de ler. “A leitura me conforta. De duas palavras que você diz, eu imagino várias. Imagino textos. Ler é maravilhoso”. No segundo casamento, Jandyra teve mais dois filhos, um restaurante e foi professora de arte culinária por 15 anos. Este casamento durou 45 anos.
A autodidata conta que aprendeu a ler ao longo do tempo, observando as pessoas conversarem, prestando atenção quando alguém lia alguma coisa. Para cada palavra diferente, anotava e procurava no dicionário depois. Por anos, ela lembra que escreveu e leu várias palavras erradas. Mas mesmo sem saber ler e escrever corretamente, Jandyra preferiu não voltar para a escola. Segundo ela, o tempo já tinha passado e ela não se adaptaria.
Livros
Começar a escrever foi uma forma encontrada por Jandyra para evitar a depressão, provocada por dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) ocorridos em 2009. Segundo a filha da escritora, a funcionária pública Rosana Maria Meiko Takebayashi, a mãe chegou num estágio da doença em que não conversava com ninguém. “Estávamos todos juntos e ela ficava quieta. Resolvi incentivá-la a fazer o que gostava: ler, escrever e cozinhar”, diz a filha.
Aos 70 anos, Jandyra então começou a escrever o primeiro livro. São receitas, em sua maioria, com sobras de alimentos. O livro já está na quinta edição. O segundo livro foi motivado por uma mudança de comportamento alimentar. Um tratamento a que Jandyra foi submetida, de desentoxicação alimentar, fez com que ela perdesse 40 quilos em dois anos. “Hoje, minha mãe tem uma disposição de dar inveja. Tem uma memória infalível. Ela é meu orgulho”, afirma Rosana.
Ao G1 Jandyra afirma que sente-se feliz e realizada. São muitas receitas preparadas, experimentadas e escritas por Jandyra. A escritora garante que já há um terceiro livro programado e o quarto está em sua mente. “Vejo muitas pessoas esperando só a morte chegar e não consigo entender. Basta um pouco de esforço que tudo muda. A idade não importa, o que importa é sua mente”, finaliza Jandyra.
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