Mato Grosso, 29 de Março de 2024
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Empresário de Leo Rodriguez diz que estranhou pedido em nota fiscal

28.06.2016
16:46
FONTE: G1

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O empresário do cantor sertanejo Leo Rodriguez, que realizou um show em um casamento bancado com recursos desviados da Lei Rouanet, afirmou que “nem passou pela cabeça” dele ou de seu cliente que a apresentação havia sido paga com dinheiro público. Hermann Motta disse, no entanto, que chegou a estranhar um pedido feito pelos contratantes do espetáculo.

“Estranhei na época um detalhe que pediram na emissão da nota. Até falei ‘Não estamos fazendo esse serviço aqui. Está errado isso aí’. Mas eles [empresa contratante] disseram: ‘Pode fazer, não tem problema’", afirmou. "Nem passou pela minha cabeça que estavam usando dinheiro da Lei Rouanet."

Ao todo, 14 pessoas foram presas durante a Operação Boca Livre, da Polícia Federal (PF), que desarticulou grupo que atuava no Ministério da Cultura desde 1991 e conseguiu aprovação de R$ 180 milhões em projetos fraudulentos com recursos da lei. Boca Livre é uma expressão que significa festa onde se come e bebe às custas de outras pessoas.

De acordo com Hermann, a empresa Logística Planejamento Cultura Ltda, para qual ele emitiu a nota fiscal do show, pediu que fosse incluído no documento um descritivo indicando que a apresentação era referente a um projeto de nome “Caminhos Sinfônicos”. O empresário disse que chegou a relutar, mas como precisava receber o valor pela apresentação, acabou colocando o detalhe pedido na nota sem saber do que se tratava.

O casamento realizado com recursos públicos foi celebrado em abril deste ano, em um clube na badalada praia de Jurerê internacional, em Florianópolis. A cerimônia marcou a união do casal Felipe Amorim e Caroline Monteiro. Segundo Hermann, o cantor Leo Rodriguez foi contratado para se apresentar na festa do matrimônio a pedido do próprio noivo.

“Fui eu que vendi o show. Conheci o Felipe esse ano, em um show do Latino em Santa Catarina, no Carnaval. O Leo participou da apresentação e o Felipe disse para ele que ia casar e queria um show dele no casamento. O Leo pediu para o Felipe conversar comigo e ele pegou meu Whatsapp”, lembra Hermann.

Segundo o empresário, poucos dias depois Felipe entrou em contato para negociar a realização do show em seu casamento. “O Leo tinha um outro show marcado para o dia do casamento, mas dava para conciliar. Negociamos o valor e ele disse que uma empresa ia entrar em contato para fechar tudo”. Esta empresa seria a Logística Planejamento Cultura Ltda, que tem sede no Butantã, Zona Oeste de São Paulo. O G1 tentou localizar representantes da empresa para comentar o caso, mas não teve sucesso.

Hermann conta que os shows “corporativos” de Leo Rodriguez, realizados em festas de aniversário e casamento, por exemplo, têm um valor médio de R$ 50 mil. Houve, no entanto, um grande desconto para a festa de Felipe. “Foi quase metade do valor praticado. Fizemos um preço promocional para mostrar o show pra ele e conseguir fechar outras coisas pro futuro”, explicou.

O empresário disse que se surpreendeu nesta terça-feira (28) quando passou a receber diversas ligações e mensagens por conta daquele show que, até então, acreditava ser apenas mais um na agenda de Leo Rodriguez. Ele lamentou que as pessoas venham associando o nome de seu cliente com o esquema revelado pela Polícia Federal.

“Tem gente chamando ele de Leo Rouanet nas redes sociais. Ele tem um buldogue francês e tem gente perguntando na foto do cachorro se ele foi comprado com o dinheiro da Rouanet. É triste. Fomos pegos de surpresa. Não fazia ideia de que esse dinheiro poderia ser ilegal. Nós somos uma pontinha do iceberg do que eles já fizeram pelo que estou vendo”, lamentou.

Festa chique

Um vídeo obtido pela Operação Boca Livre, da Polícia Federal, mostra o casamento bancado com recursos da Lei Rouanet em Florianópolis, em Santa Catarina, segundo a investigação.

As imagens mostram um casamento chique realizado na praia de Jurerê Internacional. Segundo a Policia Federal, tudo foi pago com dinheiro que o Ministério da Cultura liberou para custear uma apresentação pública de uma orquestra sinfônica. O noivo e seus pais foram presos na Operação.

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, participou da apresentação do Laboratório de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro de São Paulo (LAB-LD) nesta terça-feira (28) e comentou o vídeo obtido pela PF. “Nós vimos a gravação de um vídeo do casamento, uma festa boca livre que nós pagamos. No meu casamento, eu paguei. Por sinal, fiquei pagando 1 ano ainda. O casamento desse senhor que pagou com a Lei Rouanet foi em um hotel 5 estrelas em Florianópolis com direito a vídeo gravado. Nós achamos que tivessem sido contratados modelos para fazer o vídeo. Eram os convidados mesmo, champanhe sendo aberto e isso com a Lei Rouanet”, afirmou o ministro.

Questionado sobre quem deveria investigar os projetos aprovados da Lei Rouanet, o ministro Alexandre de Moraes respondeu que a função era do Ministério da Cultura. "Há um procedimento de fiscalização principalmente o próprio Ministério da Cultura. Esse inquérito foi aberto em 2014, são fatos relacionados a 2014 e nós temos que aproveitar a operação para punir aqueles que desviaram recursos, mas também, principalmente, para alterar e melhorar os procedimentos preventivos de guarda do dinheiro público, de fiscalização", disse. Durante a coletiva, o delegado da PF, Rodrigo de Campos Costa chegou a mencionar que "não havia fiscalização no Ministério da Cultura".

Na operação Boca Livre, o ministro falou do uso das informações do Laboratório de Combate à Corrupção. “É a primeira operação onde se utilizou 100% a metodologia do laboratório de lavagem de dinheiro e combate à corrupção. É um laboratório que cruza informações em uma velocidade gigantesca e mais do que isso, tem parâmetros de investigações que saem dos parâmetros tradicionais, o cruzamento de fontes, de nomes e mesmo de informações laterais”.

“A expectativa é da utilização do laboratório para cruzamento de dados de todas as outras grandes operações. Então o cruzamento de dados da operação Lava Jato com a operação Zelotes, com a Acrônimo, com outras operações. Obviamente isso será feito e será uma nova fase importante porque aparecem várias empresas em várias operações, o modus operante semelhante, a metodologia de investigação de cada equipe cruzando esses dados nós vamos com certeza poder chegar mais além ainda”, afirmou.

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