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Mariza Lodi: A mulher que não tem tempo para chorar

03.06.2016
09:22
FONTE: Kimberly Schäfer/ExpressoMT

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Pioneira de Lucas do Rio Verde, Mariza Lodi veio de Liberato Salzano, no Rio Grande do Sul, há 30 anos com seus pais, nesta terra cresceu, casou e teve seus dois filhos: Patrick e Michael, o caçula tem 16 anos e o primogênito Michael de 20 anos, sofre de uma rara síndrome degenerativa, de causa desconhecida e que se caracteriza pela associação de hemiatrofia cerebral e hipertrofia homolateral do crânio; trata-se da síndrome de Dyke-Davidoff-Masson, que se manifesta por convulsões e atraso mental. No Brasil, apenas quatro pessoas desenvolvem a patologia, Michael é uma delas. Os dois filhos de Mariza são frutos do primeiro casamento, o primeiro esposo faleceu há três anos em um cruel e aterrador acidente de trânsito. 

Na última quinta-feira (02), Mariza Lodi recebeu a equipe do ExpressoMT e compartilhou da sua história, de sua luta e de sua felicidade.

Segundo Mariza, Michael começou a apresentar anomalias aos seis meses de idade, quando teve a primeira convulsão, até então, Lucas do Rio Verde ainda estava sendo colonizada, sendo recente sua emancipação, portanto, não houve diagnóstico preciso para o caso naquela época, a síndrome só foi descoberta definitivamente em 2015. Michael já chegou a ter 50 crises convulsivas em um único dia, atualmente com o auxílio de novos medicamentos, o quadro apresentou melhora de 80%, mas ainda assim, o rapaz especial tem convulsões todos os dias. Uma das crises que apresenta, ainda que raramente, é de extrema preocupação, tal crise é responsável pela ‘morte’ de milhões de neurônios. “É raro quando dá, mas quando acontece são milhões de neurônios que vão embora e aí que acontece a degeneração. É uma forma de morte. O Michael para de respirar e fica alguns segundos sem oxigenação no cérebro e é aonde acontece as crateras que ele tem no cérebro” – contou Lodi.

A mãe nos relatou ainda que durante todos esses anos são cerca de cinco mil reais por mês em medicamentos, sem contabilizar despesas com consultas, exames, fraudas, suplementos, e alguns analgésicos uma vez e outra. O rapaz precisa do coquetel de drogas religiosamente de oito em oito horas. Embora tantos sacrifícios e a gravíssima doença do filho, Mariza afirma não ter tempo para reclamar. “Meu filho é um milagre! Se dependesse das drogas que ele toma, o fígado dele deveria estar fadado de toxinas, e em uma situação crítica, porém, o médico diagnosticou o Michael com o fígado mais saudável que ele já viu. Deus deu para o meu filho um fígado auto limpante. O que ele toma nos deixaria em coma, ele, porém, não tem absolutamente nenhuma sequela desses medicamentos. Meu filho é um milagre, por isso, não tenho motivos para lamuriar” – afirmou.

Recentemente, Mariza descobriu uma forma de ajudar o filho, o médico apoiou a decisão da mãe em adquirir uma bicicleta adaptada, tal veículo possibilita que o filho exercite e fortaleça os membros inferiores. Embora exista o atraso mental e o corpo corresponda os movimentos de forma mais lenta, o Michael tem capacidade para andar, porém, por não possuir a força necessária nas pernas, acaba tendo que ser carregado no colo. A mãe toma o filho de 65 quilos nos braços diversas vezes ao dia, e para manter a forma física, recorre a musculação. Hoje Mariza tem 46 anos e teme que daqui alguns anos não consiga mais fazer tal movimento, portanto, o fortalecimento das pernas do filho é crucial.

Na última terça-feira (31) a mãe resolveu pedir ajuda a um dos mais famosos apresentadores de televisão do Brasil, Luciano Huck, mas o que ela não esperava, era que milhares de pessoas iriam se solidarizar com a história de Michael. Foram mais de seis mil compartilhamentos e curtidas na publicação, e o que mais alegrou o coração de Mariza foi, em menos de 24 horas, ter o desejo do seu coração realizado. O sinopense Dionatan, metalúrgico, se dispôs a adaptar a bicicleta para o rapaz especial, outras seis pessoas também se dispuseram a ajudar por meio de contribuição financeira. Para a mãe, não existem palavras para exprimir tamanha alegria e gratidão. “São essas atitudes de ajuda ao próximo que faz com que eu continue a acreditar que a humanidade é a obra mais bonita que Deus fez. Meu coração é de uma mãe eternamente grata” – externou.

A esperança de Mariza é que a partir deste fato, as pessoas continuem se solidarizando com pessoas de necessidades especiais e as autoridades deem a assistência necessária a entidades como a APAE. “Eu acho lamentável que as autoridades, organizações empresas e afins, de forma geral, pensem que crianças com necessidades especiais precisem de atenção ou alimento apenas no natal, no dia das crianças e na páscoa, que é quando fazem doações de cestas básicas e brinquedos. A realidade de crianças especiais é intensa e precisa de um acompanhamento constante. Levar leite uma vez por ano é pura demagogia!  E o restante dos dias? ” – protestou.

Para esta mãe faz-se necessário que as autoridades olhem com olhos mais humanos para crianças especiais e suas famílias, mas consegue ver nas pessoas a esperança de uma sociedade melhor e mais altruísta. Com todos os obstáculos e dificuldades, Mariza afirma que não tem tempo para chorar, e finaliza compartilhando uma poesia do seu livro:

“Não tenho tempo para chorar
Sabe por quê?
Porque eu preciso vencer!

Nas peripécias da vida 
Deus tem me testado
Mas eu as encaro de frente, para que o meu fardo 
Não se torne demasiadamente pesado

Aí então eu me lembrei
Não tenho tempo para chorar
Sabe por quê?
Porque eu preciso vencer!

Bem no fundo do poço 
Foi onde eu cheguei
Muitas pedras me atiraram 
Mas eu não desanimei 
Fiz de cada uma delas
Um degrau da minha história
E minha escada criei

Saí do fundo do poço
Aí então eu me lembrei
Não tenho tempo para chorar
Porque tenho dois filhos para criar
Uma vida para acertar
E uma guerra para vencer

Foi quando Cristo me disse:
‘Vá, eu estarei contigo
E comigo lhe garanto,
Não terás tempo para chorar
Mas te darei todo o tempo do mundo para vencer!’”


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