Mato Grosso, 25 de Abril de 2024
Nacional / Internacional

Os índios e sua fascinante etnoastronomia

19.04.2015
01:05
FONTE: Carlos Wagner Ribeiro

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Já que neste domingo é comemorado o Dia do Índio, aproveito a data para fazer uma reflexão sobre o conhecimento astronômico desses povos. Em nível nacional podemos citar um dos principais livros desse tema: ‘Astronomia do Macunaíma’, que Ronaldo Mourão escreveu após posterior estudo da obra de Mário de Andrade, e relaciona a capacidade dos índios na observação dos céus e na compreensão da natureza. Sim, pois à Astronomia é uma das mais antigas ciências e onde está base do conhecimento de todas e quaisquer sociedades do passado.

Este conhecimento era, para muitos povos, uma questão de sobrevivência, pois era necessário reconhecer os ciclos naturais ditados por estes acontecimentos, assim como a sucessão de dias e noites, as fases da Lua e as estações do ano.

Assim, como tantos outros povos, os indígenas sabiam reconhecer estes fenômenos, por intermédio da observação dos astros e estrelas no decorrer da passagem do tempo e para acessar este estudo era necessário considerar a localização física e geográfica de diferentes etnias, cada uma delas com um rico campo de possibilidades e compreensão a respeito da interpretação dos fenômenos celestes.

Desta forma destacamos a etnoastronomia como um abastado e variado campo de estudos a respeito das atividades sistemáticas realizadas por povos indígenas desde suas cosmogonias, como sugere o mito da criação de cada cultura a respeito da criação do universo e do mundo, assim como estes povos se relacionavam com a abobada celeste, onde, por intermédio de observação à vista desarmada conseguia compreender e formular teorias a respeito dos elementos naturais.

De acordo com estudos realizados verificou-se que apesar de etnias diferentes, estes possuem um modo muito semelhante de conhecimentos astronômicos utilizados como sistema de orientação e calendário. Os maiores corpos celestes são indispensáveis neste sistema, tais como o Sol, a Lua, o planeta Vênus e a esteira delgada de estrelas que fica na constelação de Sagitário que fazem parte do núcleo galáctico, mas conhecido como Via Láctea, ou seja, nossa galáxia, assim como algumas constelações como o Cruzeiro do Sul, Órion e Escorpião.

Isso acontece porque os indígenas são profundos conhecedores do meio ambiente, plantas e animais. Para eles, cada elemento da natureza tem um espírito protetor. Os tupis-guaranis, em virtude dos conhecimentos adquiridos e acumulados com a observação dos astros, conhecem as melhores épocas para caça, plantio e corte de madeira para fabricação de canoas.

Para os tupis-guaranis o Sol é o principal regulador da vida na Terra e todo o cotidiano deles está voltado para a busca da força espiritual do Sol. Eles determinam o meio-dia solar, os pontos cardeais e as estações do ano utilizando um relógio solar semelhante o que foi utilizado no Egito, China, Grécia, Arábia Saudita e em diferentes partes do mundo.

E quando os eclipses espalharam terror por transformarem em caos a ordem de repetição do Cosmos, de eterno retorno, aparentemente, diversos povos antigos podiam prever esses fenômenos. Mas, por falta de registros, não conhecemos os métodos por eles utilizados. Os tupis-guaranis também observavam os movimentos do Sol e da Lua e se preocupavam em prever os eclipses.

O planeta Vênus era muito observado pelos tupis-guaranis por ser, depois do Sol e da Lua, o objeto mais brilhante do céu. Vênus era utilizado, principalmente, para orientação, por ser visto pouco antes do nascer ou logo após o pôr-do-sol, sempre próximo ao Sol. Os indígenas pensavam que se tratava de duas estrelas que apareciam em períodos diferentes: a estrela matutina (kaaru mbija), que chamamos de estrela Dalva, e a vespertina (ko\\`e mbija), que chamamos de Vésper, cada uma delas visível por cerca de 263 dias.

A maioria dos povos antigos observava as constelações ao anoitecer e as utilizavam como calendário e orientação. Cada cultura tinha as suas próprias constelações. As constelações dos tupis-guaranis diferem das concepções das sociedades exteriores ocidentais principalmente em três aspectos.

É interessante observar que culturas diferentes, habitando regiões distintas e vivendo épocas desencontradas, utilizavam as Plêiades como calendário, mesmo considerando que seu nascer helíaco, nascer anti-helíaco e ocaso helíaco não correspondessem exatamente ao início das estações do ano. Pensamos que, além de sua beleza, outro motivo contribui para essa escolha: as Plêiades estão situadas a cerca de quatro graus da eclíptica. Por isso, alguns de seus componentes são frequentemente ocultos pela Lua e ocasionalmente pelos planetas do nosso Sistema Solar. Essas ocultações oferecem um belo espetáculo da Natureza, sendo observadas mesmo a olho nu.

Diante de tudo isso, vale ressaltar que a astronomia está implícita ao ser humano na ânsia de conhecer o universo para se encaixar nesse movimento do Cosmos. Estão aí os índios e suas observações certeiras que não nos deixam dúvidas a esse respeito!

Carlos Wagner Ribeiro é astrônomo amador e presidente da Associação Matogrossense Amigos das Estrelas (Amae)

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