Dilma Rousseff acabou concluindo que seria demais desvirtuar o sentido do discurso na ONU e ainda correr o risco de atrair a reprovação dos ministros do Supremo, que têm afirmado, em decisões e declarações, a lisura do processo de impeachment até aqui. Então ela optou por ser presidencial na ONU e martelar a tecla do golpe na entrevista.
O que gerou mais repercussão entre os parlamentares foi o fato de ela ter sugerido recorrer a cláusula democrática do Mercosul. A clausula faz parte de um protocolo assinado pelos países membros do Mercosul de compromisso com a defesa e proteção da Ordem Democrática e do Estado de Direito.
O protocolo prevê medidas em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática. Entre elas a suspensão do país do Mercosul e o fechamento de fronteiras.
O senador Ronaldo Caiado, líder do Democratas, disse que só se exige essa cláusula quando há quebra das regras democráticas. Que a presidente tenta confundir os fatos, porque o processo de impeachment tem seguido as leis. Considerou a declaração lamentável.
Já a vice-líder do governo, senadora Gleisi Hoffmann, disse que a presidente está certa. Classificou o processo de impeachment como vergonhoso e fez críticas à condução dos trabalhos na Câmara feita por Eduardo Cunha. A senadora disse esperar que o Senado reponha a verdade.
A assessoria do vice-presidente Michel Temer disse que ele não tem conhecimento do conteúdo da entrevista e que não vai comentar. À tarde, Temer acabou falando com os jornalistas em Brasília. Ele foi econômico para comentar o discurso da presidente na ONU.
O vice Michel Temer falou também sobre as entrevistas que deu para jornais americanos, em que rebateu a tese de que o processo de impeachment seria um golpe, como vem afirmando a presidente Dilma Rousseff. “Fui provocado para aquelas entrevistas, achei que devia dizer alguma coisa à imprensa internacional, já que houve manifestações em relação a imprensa internacional, especialmente pretendendo desqualificar minha posição, ai não é a coisa do vice-presidente é uma coisa do Brasil, acho que o Brasil não merece desqualificação por meio de eventuais agressões à vice-presidência”.