Dois policiais federais ouvidos pela CPI da Petrobras nesta quinta-feira (2) afirmaram que o grampo encontrado na cela do doleiro Alberto Youssef na carceragem da PF em Curitiba estava ativo e foi instalado sem autorização judicial, informaram o presidente da comissão e parlamentares que participaram da reunião.
O depoimento do agente da PF Dalmey Fernando Werlang e do delegado da Polícia Federal José Alberto de Freitas Iegas, ocorrido a portas fechadas a pedido deles, desmente a conclusão da primeira investigação interna realizada pela PF, que apontou que a escuta tinha sido colocada na época em que o traficante Fernandinho Beira-Mar estava preso na mesma cela.
O grampo foi encontrado em abril de 2014 por Youssef na cela em que ele estava na Superintendência da PF em Curitiba. Na ocasião, o advogado do doleiro, Antônio Figueiredo Basto, relatou que as escutas eram ilegais e feitas em tempo real por meio de um aparelho GSM, que usa chip de celular. A Polícia Federal alegou, porém, que o grampo tinha sido colocado para gravar Fernandinho Beira-Mar e não estava mais em funcionamento.
O policial federal e o delegado ouvidos na CPI atuavam na Superintendência da PF na época dos fatos e desmentiram a versão oficial da corporação, segundo os parlamentares presentes à reunião. O presidente da CPI, Hugo Motta, afirmou que é “grave” a denúncia de grampeamento ilegal, mas ressaltou que é preciso aguardar o término das investigações internas na PF. Segundo ele, ainda há sindicâncias sobre o tema em andamento.
“Primeiro é preciso aguardar os procedimentos internos de sindicância. O que temos que saber é que, se escutas foram colocadas sem autorização judicial, é um caso realmente muito grave. A Justiça precisa estar informada e autorizada”, disse.
Deputados integrantes da comissão apresentaram requerimentos que pedem a derrubada do sigilo da sindicância e pedidos para convocar todos os o que foram ouvidos até hoje nas investigações internas da Polícia Federal. “O que ficou claro é que foi colocado um aparelho de escuta ambiental sem autorização judicial”, disse o deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA).
Ele ressaltou que o objetivo é preservar a legitimidade e a legalidade da Operação Lava Jato. Aluisio Mendes disse ainda os depoimentos evidenciaram a existência de uma disputa de poder dentro da PF. “Ficou claro também que há uma disputa interna na Polícia Federal. Agora, de que maneira isso contaminou a investigação e se foi só esse episódio que deu origem a essa disputa interna [precisa ser esclarecido]”, disse.
Já o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), que também participou da oitiva, defendeu “cautela”, para que não haja conclusões precipitadas. Ele também disse que pedirá que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, seja convidado a falar na comissão sobre as acusações de irregularidade nos procedimentos da PF.
“Esse assunto merece um certo cuidado. Estamos aguardando na CPI a conclusão das sindicâncias e em seguida ouviremos outros delegados e agentes envolvidos. Vamos convidar o ministro da Justiça , que recebeu denúncias do sindicato dos policiais e não tomou nenhuma providência”, disse.