O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta quarta-feira (28) que é possível que se alie o rigor da lei com a "saúde econômica" do país. Ele fez o comentário quando respondia a pergunta sobre as investigações da Operação Lava Jato, que apuram irregularidades em contratos da Petrobras com grandes empreiteiras.
Na última sexta (23), a Polícia Federal abriu mais 10 inquéritos para investigar possíveis fraudes nos contratos da estatal com essas empresas.
Em um acordo de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef disse que as empresas pagavam propinas a funcionários da estatal para fechar contratos de obras. Os inquéritos vão apurar a possível participação da MPE Montagens e Projetos Especiais, Alusa Engenharia, Promon Engenharia, Techint Engenharia e Construção, Construtora Andrade Gutierrez, Skanska Brasil, GDK, Schain Engenharia, Carioca Christiani Nielsen Engenharia e Setal Engenharia Construções e Perfurações.
Para Cardozo, as investigações não atrapalham a economia brasileira.
"Evidentemente, eu não posso emitir nenhum juízo de valor sobre o assunto. O que eu posso dizer é que a lei será cumprida. Haverá uma investigação dura e, do ponto de vista das empresas, me parece que há um desejo claro que não criemos situações que atrapalhem a economia brasileira. É perfeitamente possível aliar o rigor da lei e a saúde econômica do país", disse o ministro.
Nesta terça (27), em discurso que abriu a primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff também comentou as investigações e disse que "nós devemos punir as pessoas, não destruir as empresas. As empresas são essenciais para o Brasil, e nós temos que saber punir o crime”.
Empresas citadas
Entre as empresas citadas, a GDK já apareceu anteriormente na Operação Lava Jato. Documentos apreendidos com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa mostravam que a empreiteira havia pago à empresa dele por serviços de assessoria. Ninguém da GDK foi encontrado para comentar a abertura do inquérito contra a empresa.
A Setal Engenharia, que atualmente se chama Toyo Setal, é parte importante no processo que culminou na sétima fase da Lava Jato e com a prisão de executivos de várias empreiteiras do país.
Júlio Camargo, diretor da empresa, fez um acordo de delação premiada com a Justiça Federal, no qual denunciou um esquema de cartel entre empreiteiras. Segundo o executivo, elas combinavam preços para participar de licitações da Petrobras. O G1 não encontrou ninguém da empresa para se manifestar sobre o novo inquérito.
A Andrade Gutierrez é citada nominalmente pelo doleiro Alberto Youssef e por Paulo Roberto Costa, em depoimentos que prestaram à Justiça. O doleiro afirma que a empresa foi uma das que participou do esquema de pagamento de propinas aos funcionários da Petrobras.
Em nota, a empresa disse que ainda não foi notificada oficialmente sobre a abertura do novo inquérito e que, por isso, não vai se manifestar a respeito. No entanto, a Andrade Gutierrez repudiou as acusações de Youssef e Costa, "baseadas em ilações e não fatos concretos", diz trecho da nota.
A Andrade Gutierrez também negou qualquer envolvimento em contratos ilícitos com a Petrobras. "A Andrade Gutierrez afirma que todos os contratos com a Petrobras foram realizados dentro dos processos legais de contratação. E que mantém o cumprimento dos mesmos nos prazos e níveis de qualidade exigidos pela contratante", diz o comunicado da empresa.
A Promon Engenharia encaminhou uma nota ao G1, informando que ainda não foi notificada oficialmente pelas autoridades.
A Schain Engenharia informou que "desconhece o aventado inquérito e esclarece que seus contratos com a Petrobras são absolutamente regulares, celebrados em estrita conformidade com a legislação aplicável".
A MPE Montagem e Projetos Especiais foi contatada, mas não respondeu até a publicação da reportagem.
Nas empresas Alusa Engenharia, Techint e Carioca Engenharia, ninguém foi encontrado para comentar a abertura do inquérito.