Mato Grosso, 29 de Março de 2024
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Projeto reduz em até 83% as cáries em crianças de Ponta Grossa

27.10.2014
15:45
FONTE: G1

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  • Projeto de prevenção a cáries atende bebês e crianças, de zero a cinco anos, desde 2004, em Ponta Grossa, no Paraná
O choro das crianças no consultório odontológico chamou a atenção do dentista Geraldo Stocco, há dez anos. Ao se deparar com crianças de três ou quatro anos com problema de canal, a preocupação aumentou. A partir dessa inquietação, o dentista decidiu elaborar um projeto de prevenção de cáries em bebês e com isso, evitar o sofrimento futuro dos pequenos.

O trabalho teve início em 2004 com crianças da periferia de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. “Percebi que o problema atingia a classe mais pobre por não existir atendimento odontológico gratuito focado em bebês e também, por falta de informação”, explica. A ideia foi iniciar o atendimento nas unidades básicas de saúde a partir do primeiro mês de vida e continuar a prevenção até os cinco anos. Dez anos depois, segundo a prefeitura, o projeto conseguiu reduzir em 83% a incidência de cáries em crianças de três anos, e em 70%, naqueles que entram para a escola, aos cinco anos.

A estratégia para manter em dia a higiene bucal das crianças foi usar a carteira de vacinação como forma de controle das consultas e de lembrete para os pais. “Assim como a vacina, eu marco na carteirinha o dia em que o paciente deve retornar. Com isso, as mães não se esquecem de levar o filho ao dentista novamente, como acontecia antes”, explica Stocco. Segundo ele, duas visitas por ano ao consultório é o suficiente para evitar cáries futuras e garantir a saúde bucal.

O projeto já foi premiado pelo Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde, em 2013. Conforme o dentista, esse foi o único programa de saúde bucal a ser premiado no Brasil. Neste ano, o trabalho concorre a outro prêmio nacional sobre saúde. O resultado deve sair no dia 25 de novembro.

Prevenção

Stocco esclarece que a prevenção começa antes mesmo do bebê nascer. Em um trabalho conjunto à Pastoral da Criança e que, também, está dentro do Programa Saúde da Família ao qual ele faz parte, as gestantes são orientadas a procurar um dentista até os primeiros três meses de vida do filho.

Além disso, Stocco salienta as mães a importância do aleitamento materno para a desenvolvimento bucal do bebê. “A gente reforça que é importante amamentar, pois a sucção fortalece a musculatura da boca do bebê”, afirma.

Na primeira consulta, o dentista vai examinar o bebê e ensinar a mãe como se deve limpar a gengiva. A limpeza deve ser feita com gaze e água uma vez por dia. “A primeira vez é mais simples para a criança. O meu foco se concentra mais em orientar a mãe sobre a importância de levar o filho ao dentista e saber se ela está dando mama no peito”, esclarece. Depois, o bebê deve retornar quando aparecerem os primeiros dentinhos.

A vendedora autônoma Eliane de Moura Ribas seguiu as orientações repassadas a ela. Aos três meses de vida de Alicia Vitória, a mãe levou a menina ao dentista na unidade básica de saúde Felix Vianna, na Vila Hilgemberg. Stocco a examinou e remarcou a próxima consulta, anotando na carteirinha de vacinação para não haver esquecimento.

Os dentinhos de Alicia Vitória apareceram antes do previsto. Aos cinco meses, ela retornou à cadeira do dentista e uma nova orientação foi feita à mãe. “Agora eu passo gaze, água e esfrego os dentinhos para evitar a cárie. Sei que indo ao dentista vai ser bom para a saúde dela”, comenta.

Assim como Eliane, outras mães de bebês e crianças não esquecem mais de levar o filho ao consultório, segundo conta Stocco. “Esse trabalho inicial vai ter efeito daqui alguns anos. Isso não significa que a criança não vai ter cárie. A cárie vai aparecer, mas no estágio inicial, a tempo de ser tratada”, explica.

Segundo Stocco, dados comprovam que, no Brasil, cerca de 50% a 60% de crianças de até cinco anos possuem cárie já entrando na fase mais profunda. “Ponta Grossa seguia essa estatística, mas teve a situação revertida com o projeto”, revela o dentista.

Ação estadual

O estado também possui um programa de saúde bucal em bebês de zero a 36 meses, prolongando-se até cinco anos, por meio do programa Rede Mãe Paranaense. Segundo o coordenador de saúde bucal da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o dentista Leo Kriger, o trabalho foi influenciado pelo projeto de Geraldo Stocco.

 Segundo ele, a partir da ideia de Stocco, a carteirinha de acompanhamento da gestante e do bebê ganhou uma página onde podem ser registradas as consultas odontológicas do filho.

Além disso, a Sesa também propõe que a primeira consulta do bebê seja realizada ao sétimo dia de vida. “Na primeira consulta, o dentista vê se há alguma deformidade na boca, se o bebê nasceu com dente neonatal, o que pode ser prejudicial para a amamentação e precisa de intervenção”, esclarece.

Kriger afirma que o estado vem realizando cursos de capacitação para os profissionais da área para atendimento a bebês. O curso já foi realizado em Ponta Grossa, em Maringá e em Londrina, no norte do estado. O próximo vai ser feito para os profissionais de Cascavel, no oeste do Paraná.

Continuidade na prevenção

Depois que a criança já passou pelo projeto, a prevenção continua nas escolas entre seis e 15 anos de idade. Segundo o coordenador de saúde bucal da Sesa, desde 1980, estudantes de escolas municipais e estaduais fazem bochecho com flúor, uma vez por semana. Conforme Kriger, cerca de 800 mil crianças e adolescentes participam do projeto. A medida reduz em até 40% a incidência de cáries nessa faixa etária no Paraná.

Além disso, a água que sai das torneiras de 384 municípios do estado também ajuda a prevenir a cárie na população em geral. “Quando a pessoa cozinha, toma água, faz café, já está consumindo a água fluoretada e prevenindo-se contra a cárie”, revela. Segundo ele, somente 15 cidades do estado não possuem flúor na água.

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