Três dos quatro suspeitos de estuprar uma jovem de 18 anos no morro da Mineira, no Conjunto de Favelas de São Carlos, no Centro do Rio, na madrugada de domingo, prestaram depoimento nesta terça-feira (20) na 9ª DP. Atendidos pelo mesmo advogado, eles deram uma só versão. De acordo com o trio, a relação teria sido consensual e ainda teriam pago para realizar o ato sexual. A vítima, no entanto, mantém sua versão de que foi violentada e a delegada titular da área, Valéria Aragão, busca colher informações que possam colocar os jovens em contradição. A investigadora não garante sequer que eles serão liberados ainda nesta noite.
Para ajudar na investigação, a perícia está analisando as roupas da jovem. Eventuais rasgos e manchas de sangue poderiam servir como evidência e eles responderiam por crime análogo ao estupro, já que são todos menores de idade. Os depoimentos duram horas, mas ainda devem atravessar madrugada afora. O cuidado com o caso, segundo a delegada, é porque o estupro pode estigmatizar tanto a vítima quanto o acusado.
"É o tipo de crime que nem o criminoso perdoa. Eu não sou femininsta, mas a partir do momento que não há consentimento é estupro. Não estou aqui para defender a mulher, mas temos que avaliar tudo com muito cuidado para chegar à verdade. Ainda vou avaliar se eles serão liberados", disse Valéria, que admitiu a possibilidade de um mandado de busca e apreensão impedir que os jovens sejam soltos nas próximas horas.
A delegada disse ainda que, nas diligências realizadas na comunidade, os moradores e líderes comunitários se disseram chocados com o ocorrido e ela teme pelas "consequências sociais" de uma análise precipitada. Ainda nesta noite, uma testemunha considerada chave será interrogada.
Na segunda, a jovem de 18 anos, acompanhada da mãe e da delegada, foi à comunidade para refazer o caminho da vítima e de seus agressores. Depois de quase cinco horas de busca, polícia encontrou o local exato do crime. A equipe policial foi do Morro da Mineira, onde a vítima estava antes do ocorrido, até o Morro da Coroa, onde aconteceu o crime.
"Ela [a vítima] teve muitas dificuldades de lembrar do que aconteceu, mas batemos de porta em porta e encontramos uma moradora que viu um vaso quebrado e um absorvente no chão. Confirmamos com a vítima que o absorvente pertencia a ela. Amanhã [terça] vamos ouvir o dono do estabelecimento onde ela estava antes de sair. Não era um baile funk, era um bar que toca um pagode e funk. Mas não era um baile", disse a delegada.
Segundo Valéria Aragão, o caso está sendo investigado com cautela devido a gravidade do crime. "Existem inúmeras diligências, temos testemunhas a ouvir, foi muito importante o testemunho mais esclarecido da vítima, apontando possíveis testemunhas. Ela já conhecia de vista um dos elementos, não temos qualificação ainda, mas vamos em busca. Estupro é um crime muito sério, como todos sabemos, então, tem que ser examinado com toda a cautela pra nós alcançarmos êxito e responsabilizarmos quem deve ser responsabilizado", declarou a delegada.
Depoimento da vítima
Ainda segundo Valéria Aragão, a vítima narrou em depoimento que foi abordada por cerca de seis a oito rapazes, destes, quatro teriam cometido violência sexual contra a jovem.
"Ela apontou um grupo de seis a oito elementos, mas atos sexuais, quatro homens. Não sabemos se maiores de idade ou menores, não temos a qualificação ainda, mas quatro elementos que cometeram algum ato sexual. Alguns saíram, outros permaneceram. A gente ainda vai ouvir as testemunhas. A vítima está muito confusa e debilitada. Agora, os depoimentos são muito importantes", afirmou.
Violência sexual
De acordo com a Polícia Civil, a vítima foi levada pelos criminosos para uma rua no Catumbi, próximo ao Túnel Santa Bárbara, onde a obrigaram a praticar sexo com eles.
Após o crime, a jovem pediu ajuda a policiais da UPP do São Carlos. Ela foi levada pelos PMs para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e depois ao IML para exame de corpo de delito.
Segundo informou a assessoria de imprensa das UPPs, no domingo (18), a jovem estava em um baile funk que não possuía autorização para ser realizado. A Polícia Civil, no entanto, afirmou, nesta segunda, que não se tratava de um baile funk, mas uma festa em um bar.
Investigação
O registro da ocorrência foi feito na 6ª DP (Cidade Nova). Os agentes estão realizando diligências para tentar identificar os autores do estupro.
Segundo a mãe da vítima, a jovem tomou duas injeções por causa do abuso e, por isso, sente dificuldade para andar. A mãe contou ainda que um dos criminosos já teria tentado "ficar" com a filha dela algumas vezes, em outros bailes. "Ela dizia pra ele que tinha namorado, mas ele ficava insistindo", disse a mãe que levou para a delegacia uma foto do suposto agressor.
A mãe da jovem disse também que a filha estava acompanhada de uma amiga que a abandonou no local.
"Minha filha ligou para ela [a amiga] e ela disse que não tinha visto nada. Minha filha disse que ela não era amiga dela, porque ela teria tentado ajudar. Eu não gostava da amizade das duas porque desde que elas começaram a amizade, ela só levava minha filha pra rua. Descobri que ela faltou aula dois meses pra sair com essa menina e cheguei a ligar pra casa da mãe dela pra dizer que não queria a filha dela lá em casa e nem a minha na casa dela", disse a mãe.
Ainda segundo a mãe da vítima, elas estudaram juntas e se conhecem há um ano. No entanto, moram em comunidades diferentes.