Mato Grosso, 19 de Abril de 2024
Esportes

Em Copa marcada pela luta contra a discriminação, Marta sobe tom ao pedir por igualdade

17.06.2019
09:24
FONTE: Globo Esportes

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  • Marta mostra a chuteira que faz parte de sua campanha pela igualdade — Foto: Amanda Kestelman / GloboEsporte.com

Com sua canhota afiada, Marta cobrou o pênalti contra a Austrália na última quinta-feira. Acertou o canto direito da goleira e somou mais recordes para sua coleção, ampliando seu reinado. O Brasil acabou perdendo de virada, por 3 a 2, após a saída da camisa 10, e se complicando no torneio. Mas aquele momento, aos 27 do primeiro tempo, repercutiu em todo o mundo e teve um simbolismo especial para a maior jogadora de todos os tempos.

 

Na comemoração, a camisa 10 brasileira mostrou a chuteira, exibindo o símbolo a favor da igualdade de gênero no esporte.

 

Marta está sem contrato com qualquer patrocinadora de material esportivo desde julho de 2018. Também por isso teve a liberdade de utilizar aquela chuteira. Em ano de Copa do Mundo, a mais assistida da história do torneio feminino em todo o planeta, esse cenário chama a atenção.

 

A brasileira recusou as propostas que recebeu. E explicou ao GloboEsporte.com por que planejou a utilização daquela chuteira simbólica.

 

- O que foi proposto foi bem abaixo do que eu recebia, bem menos, menos da metade. A gente achou por bem não renovar. Muito abaixo do que a gente vê no futebol masculino. Resolvemos fazer isso então. Mais uma oportunidade de lutar pelos nossos direitos. Há uma diferença muito grande em relação a salários, e a gente tem que estar sempre lutando para provar que é capaz - disse a única atleta eleita seis vezes a melhor do mundo .

 

Diante da Austrália, a camisa 10 da seleção brasileira também se tornou a primeira a balançar a rede em cinco edições diferentes do torneio. Sua primeira Copa do Mundo foi em 2003, com 17 anos. Depois, disputou as edições de 2007, 2011 e 2015.

 

Em pleno 2019, aos 33 anos, com recordes, prêmios e títulos na bagagem, Marta diz que ainda tem que se provar.

 

- Fazemos isso para que as próximas meninas que venham aí possam usufruir de uma qualidade maior de trabalho, de mais opções. Cada vez que tem oportunidade, a gente precisa mostrar ao mundo que a igualdade é necessária. É preciso para que a gente possa ver o outro como ser humano.

 

''É uma luta constante. É triste ver que a gente ainda precisa fazer isso, mas é uma luta de todas e todos de modo geral'', disse Marta

Marta é embaixadora global da ONU Mulheres. A entidade também divulgou em redes sociais o gesto de Marta mostrando a chuteira pela igualdade após fazer o gol na Copa do Mundo.

 

Marta não está sozinha na briga pela igualdade

 

A Copa do Mundo da França tem sido emblemática em diversos aspectos. Seja pelo interesse que tem despertado, seja pela mudança de paradigma da modalidade. O caminho na luta pela igualdade no futebol (assim como em outros esportes e na sociedade) é longo, mas gestos como o da camisa 10 da seleção brasileira ajudam a abrir portas.

 

Outras grandes atletas têm encontrado formas de fazer barulho, inclusive pela ausência. Atual dona da Bola de Ouro, prêmio da revista "France Football", a norueguesa Ada Hegerberg marcou três gols na última final da Liga dos Campeões, levando o Lyon ao título. E, mesmo com todo seu status, optou por não acompanhar a seleção de seu país na Copa da França.

 

A decisão, porém, não foi tomada de última hora. Já faz dois anos que Hegerberg decidiu deixar a seleção seu país, em forma de protesto. A atacante criticou abertamente a diferença de condições de trabalho entre homens e mulheres do futebol profissional. À espera de mudanças, protestou, afastou-se e deu um prazo até a Copa por mudanças, Mas não obteve sucesso. A decisão, apesar de apoiada, é lamentada por Marta:

 

- Sinto muito por ela não ter vindo. A gente precisa mostrar ao mundo o quanto o futebol feminino vem evoluindo - disse a camisa 10 do Brasil.

 

Quando as atletas apontam a luta como uma ''briga de todas'', não se trata de metáfora. As maiores campeãs mundiais do futebol também precisaram, em pleno 2019, fazer barulho.

 

Atuais campeãs, americanas levaram assunto ao tribunal

 

Meses antes da Copa, 28 atletas americanas, entre elas as estrelas Alex Morgan e Megan Rapinoe, entraram em um processo conjunto contra a US Soccer - a federação que rege o futebol no país. Na ação, elas alegaram "discriminação institucionalizada de gênero" e buscaram, entre outras reivindicações, igualdade salarial e de condições trabalhistas com relação aos homens.

 

Elas apresentaram um documento que discorre em 25 páginas sobre os motivos que levam a acreditar que as categorias femininas de futebol são discriminadas pelo simples fato de se tratar de mulheres. Apontam que isso afeta não só os salários, mas também no que diz respeito a onde jogam, quando e como treinam, qual tratamento médico recebem e até a maneira como viajam.

 

A seleção feminina de futebol dos Estados Unidos defende na França seu título. É três vezes campeã do mundo e quatro vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas. A masculina, por sua vez, participou de 10 edições da Copa, sendo seu melhor resultado um terceiro lugar em 1930.

 

Justamente pelo cenário de reivindicações, algumas mudanças começam a ser implementadas. Nos últimos anos, a Federação Australiana era alvo de reclamações públicas das atletas pela desigualdade salarial. Na véspera da abertura da Copa, a entidade anunciou que irá igualar os salários.

 

Foco na decisão contra a Itália

 

Marta sofreu uma lesão muscular na coxa esquerda no início da preparação para a Copa do Mundo, no fim de maio. Na estreia diante da Jamaica, foi poupada. Atuou somente no primeiro tempo diante da Austrália. Agora, espera ficar em campo o máximo de tempo possível no duelo decisivo diante da Itália.

 

Brasil vai às oitavas com empate contra a Itália, mas pode avançar mesmo com derrota na terça

 

- As meninas estão bem confiantes. A gente mostrou que tem capacidade, por mais que tenhamos perdido o jogo contra a Austrália (...) O clima está bom, as meninas estão confiantes e tenho certeza de que a gente vai dar o nosso melhor para conseguir essa classificação - afirmou Marta.

 

Apesar de usar Lille como base, o Brasil jogará contra a Itália em Vallencienes - TV Globo, GloboEsporte.com e SporTV transmitem ao vivo, às 16h (de Brasília).

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