Mato Grosso, 19 de Abril de 2024
Esportes

Ex-UFC supera prisão e segue na ativa aos 43 anos: "Sou um homem melhor"

13.09.2017
08:12
FONTE: G1

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

  • hermes_franca_nate_diaz

    Hermes França finalizou Nate Diaz em sua última defesa de cinturão no WEC, evento que foi comprado pelo UFC (Foto: Reprodução/Instagram)

Duas decisões unânimes dos juízes mudaram a vida de Hermes França. A primeira, em 07 de julho de 2007, em Sacramento, na Califórnia, quando manteve o título dos pesos-leve do UFC com Sean Sherk. Desafiante ao cinturão, o brasileiro não resistiu ao campeão e ficou no quase para a maior glória da vida de um lutador de MMA. Quatro anos depois, no condado de Clackamas, no Oregon, França sofreu um golpe ainda mais duro: foi considerado culpado por estupro de uma menor em uma academia em que lecionava jiu-jítsu. A condenação, por três anos e meio, parecia o fim da linha.

 

Mas 42 meses depois, o lutador antes conhecido pelas cores chamativas com que pintava o cabelo saiu apagado da América. A volta ao cage veio logo depois, em 2014. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, Hermes quebrou o silêncio e falou sobre o episódio que garante ter mudado sua vida - para melhor.

 

- Eu acredito que nada acontece por acaso. É passado. Graças a Deus eu voltei ao Brasil, reencontrei minha família, meus amigos, minha base. Eu não estava legal naquela época. Fiz um monte de besteiras. Bebidas, mulheres, festas, tudo isso foi parte de um estilo de vida que me fez falhar como marido, pai, lutador e sonhador. Fiz mal para muitas pessoas. A prisão é algo que aumenta o seu auto-conhecimento. É só você ali, irmão. Só você. Eu tirei para mim que um homem precisa estar bem mentalmente para o resto andar. Não adianta estar bem fisicamente. Eu voltei melhor espiritualmente. E isso me fez um lutador melhor, um homem melhor. Essa minha volta é um recomeço. Quem me conhece, sabe quem eu sou, sabe da minha índole.

 

E se esperava ser mal visto na volta ao Brasil, ele foi surpreendido com a recepção no MMA nacional. Hermes França admitiu o receio, mas diz ter sido sempre muito bem tratado nos lugares que passou após o escândalo.

 

- Não posso dizer que as pessoas me olham diferente. Às vezes sou eu quem fico receoso com isso. Chego devagar, calmo, mas na verdade esse sempre foi o meu estilo. Eu já lutei em vários lugares desde que voltei. Visitei outras cidades e fui bem recebido em todos os lugares. Fui a Manaus lutar um evento de submission e fui muito bem recebido por um parceiro meu, Jorge Patino "Macaco". A gente fez uma luta boa, um evento legal. Recebi o Minotauro e o Minotouro no Action Fight aqui em Fortaleza, e eles me trataram muito bem, conversamos, relembramos coisas ótimas. Eu não tenho do que reclamar - declarou.

 

Aos 43 anos, o cearense segue na ativa - tem um cartel de 24 vitórias e 17 derrotas como profissional (2-5 após sair da prisão) - e se diz realizado profissionalmente. Orgulhoso de sua história no MMA, ele explica que não fez dinheiro como os atletas da atualidade.

 

- Não luto por dinheiro, na verdade, sempre lutei por amor. Muita gente acredita que ganhei dinheiro porque lutei o UFC por muito tempo, mas eram outros tempos. Quando comecei no UFC, lá em 2003, eram quatro eventos por ano, quando muito. Estavam vendendo a empresa e ninguém queria comprar, vê se pode (risos). O evento, esportivamente, segue muito bom, cada vez melhor. O negócio começou a dar dinheiro com o primeiro TUF. Eu lutei fora do UFC porque acabaram com a minha categoria. Aí fui para o WEC, onde fui campeão, passei o carro no Nate Diaz e fiz grandes lutas. Depois voltei ao Ultimate e fui o primeiro brasileiro a disputar o cinturão dos leves, tenho muito orgulho da minha história no esporte. Sempre fiz o que gosto. Na minha época, 120 mil dólares era uma bolsa gigante. Hoje tem gente ganhando milhões. Nos eventos nacionais a bolsa é baixa, luto quase de graça, mas amo viver isso - relembrou.

 

Hoje líder da Global Fight BJJ e do time VictoryMMA, Hermes França projeta seu futuro como treinador no MMA enquanto dá seus últimos passos como lutador.

 

- Acerto lutas com gente boa, mas não tenho mais aspirações de conseguir um cinturão, voltar aos grandes eventos internacionais. É um hobby, mas levo a sério por ser competitivo. Eu me mantenho focado, faço o possível. Não vou forçar a barra. Já estou coroa (risos). Lutar está no sangue, né? Eu voltei, sofri três derrotas, mas consegui voltar a vencer. Estou lutando, tenho minha academia, dou aula. Estou muito feliz. Tenho mais uma luta no Aspera. Ainda não está 100%, mas já vou me preparando. Estou treinando. Na minha academia tem dois caras muito fortes. Um é 57 kg, que é o Ítalo "Camaleão", e tem um 66 kg, o Edson Mão Nervosa. Eu os levei para lutar, eles são muito bons. Tenho certeza que vão dar certo no MMA. Meu plano é ir devagar crescendo com a academia, é um trabalho grande, complicado. Já estou há dois anos tentando, levei gente para lutar fora. Está caminhando - disse.

 

Como mestre, ele passa adiante o que aprendeu em seus piores dias.

 

- Eu não desejo que ninguém passe o que eu passei, ninguém precisa aprender da pior maneira. Passo aos meus alunos que respeitem o próximo, que valorizem sua família, seus amigos, sua base. É o que prega a arte marcial e é o que tento passar.

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

NOTÍCIAS RELACIONADAS

ENVIE SEU COMENTÁRIO