Mato Grosso, 24 de Abril de 2024
Politica

Gravidez depois dos 40: quais são os riscos?

14.09.2017
09:01
FONTE: Ana Helena Rodrigues

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Esta semana a cantora Ivete Sangalo, 45 anos, anunciou sua segunda gestação de gêmeos. Para algumas mulheres o desejo de se tornar mãe vem mais tarde, mas a gravidez, nesse caso, exige maiores cuidados.

 

Com o aumento da expectativa de vida da população e também do número de mulheres no mercado de trabalho, tem sido cada vez mais comum postergar a gravidez para um momento de maior estabilidade no relacionamento e no trabalho. “Não que ser mãe seja necessário, mas, aos 40 anos, algumas mulheres sentem que isso ficou faltando”, diz a ginecologista Maria Eugenia de Santi, que foi mãe aos 43.

 

Dificuldades

Apesar de as condições de saúde da população, de uma maneira geral, terem melhorado, as chances de engravidar continuam diminuindo com a idade. Depois dos 40, elas caem drasticamente. “O corpo da mulher prioriza os óvulos em melhores condições de fecundação e desenvolvimento, que são utilizados na juventude. A probabilidade de erros na divisão celular do embrião também aumenta com a idade”, explica o obstetra Eduardo Motta, do Centro de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana.

 

Mesmo sendo médica obstetra especialista em reprodução humana, Maria Eugenia teve dificuldade em lidar com a frustração. “Depois dos 40, as chances de não dar certo são muito maiores e a gente não lida bem quando não consegue o que quer”, diz.  Ao todo, foram oito tentativas, das quais três inseminações in vitro, e um aborto espontâneo com nove semanas de gestação até o nascimento da pequena Lúcia, hoje com 6 anos.

 

Tratamentos

Os avanços da medicina tentam contornar a diminuição da fertilidade feminina. Tratamentos com hormônios estimulam a ovulação, espermatozoides podem ser inseridos diretamente no útero por meio de inseminação artificial e a técnica de fecundação in vitro (FIV), em que o encontro no óvulo com o espermatozoide é feita em laboratório, garante que a concepção aconteça. “O tratamento mais comum é a FIV com óvulos próprios, que tem chances de sucesso em torno de 20%. Quando os óvulos são de uma doadora mais jovem, essas chances podem chegar a 60%”, esclarece o obstetra Maurício Chehin, do grupo Huntington Medicina Reprodutiva. Atualmente, já está disponível um teste genético para detectar alterações no embrião antes que ele seja implantado no útero.

 

No Brasil o Conselho Federal de Medicina permite, mas não aconselha, tratamentos para engravidar a mulheres acima dos 50 anos. No entanto, é preciso assinar um documento afirmando  estar ciente dos riscos.

 

Além da diminuição da fertilidade, na gravidez tardia é maior o risco de desenvolvimento de hipertensão, diabetes ou de alguma doença pré-existente da qual a mulher não tenha conhecimento. “A idade e a gestação podem ser consideradas sobrepesos para a saúde da mulher, mas ela só desenvolverá doenças para as quais já tinha predisposição. Uma mulher em boas condições de saúde e com acompanhamento médico pode ter uma gravidez tardia sem intercorrências”, diz Motta.

 

A realização do sonho

Como a maternidade era algo que Maria Eugenia tinha desejado tanto, ela achou que estava preparada e que tiraria de letra, mas o início não foi exatamente como imaginado. “A maternidade trai nossa autonomia e liberdade, não adianta estudar e se preparar. Eu tinha certeza de que daria conta sozinha, mas, depois de muitas noites sem dormir, tive que contratar uma babá”, conta. “A maternidade em si e a relação com a minha filha é tudo o que eu imaginei, mas os três primeiros meses foram muito difíceis.”

 

Já para a jornalista Erica Munhoz, que deu à luz Betina aos 41 anos, após tratamento hormonal, a alegria e a tranquilidade de ver a barriga crescendo continuaram após o nascimento da menina. Ela, que tinha adiado a maternidade para investir na carreira, mudou seu estilo de vida para acompanhar de perto o desenvolvimento da filha, hoje com 3 anos. “Fiquei quatro meses dedicada exclusivamente a ela e, quando voltei a trabalhar, foi em home-office. Em casa, posso cuidar dela e parar para brincar. Tenho um ganho que não é financeiro, mas que me preenche muito", conta.

 

Novas descobertas

Uma pesquisa feita pela Universidade de Adelaide concluiu que bebês nascidos de mães com mais de 40 anos que fizeram reprodução assistida tiveram menos deficiências congênitas do que aqueles que foram concebidos naturalmente por mulheres da mesma idade. Os pesquisadores avaliaram todos os nascidos vivos entre 1986 e 2002 no sul da Austrália. Ao todo foram 301 mil concepções naturais e 2.200 fertilizações in vitro. A incidência de defeitos de nascimentos com concepção natural foi de 5,6 % em mulheres jovens, aumentando para 8,2 % em mulheres com mais de 40 anos. Já no grupo de mulheres que engravidaram através de fertilização in vitro, essa taxa caiu para 3,6%.

 

Engravidar em uma fase mais madura da vida não traz apenas riscos; também existem vantagens. Outro estudo, realizado pela Universidade do Sul da Califórnia, encontrou que as mulheres que engravidam depois dos 35 anos mantêm um bom nível de saúde mental após a menopausa. As 830 participantes, com idade média de 60 anos, completaram uma série de testes que incluíam avaliações de memória verbal, velocidade psicomotora, atenção, concentração, planejamento, percepção visual e memória.

 

Pesquisas anteriores mostraram que muitas mulheres apresentam declínio da capacidade intelectual e da memória quando entram na menopausa. O aumento do estrógeno e da progesterona no organismo de mulheres adultas parece reverter esse declínio. Porém, é necessário considerar outros fatores. “O estudo é interessante em tentar demonstrar que mulheres que foram mais expostas aos hormônios se tornam mentalmente mais capazes, mas precisamos ter cautela com estes dados”, pondera o obstetra Maurício Chehin. “Existem muitos outros fatores que contribuem ou não para a melhor função cognitiva, como a genética, a educação, a influência do ambiente a que estamos expostos no nosso genoma e no nosso comportamento", completa.

 

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