Mato Grosso, 25 de Abril de 2024
Esportes

O choro da mãe e o dedo do técnico, as histórias que forjaram João Pedro no Fluminense

20.05.2019
08:21
FONTE: Globo Esporte

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Muito antes do destaque na base, da venda ao Watford e dos três gols e um assistência em 126 minutos no profissional, João Pedro protagonizou um roteiro comum no Brasil. Saiu de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e rumou ao Fluminense para tornar realidade o sonho de jogar futebol e mudar a vida da família.

 

Pois, neste sentido, dois episódios forjaram a trajetória dele e do repentino sucesso no time de Fernando Diniz: o choro da mãe Flavia em uma reunião em Xerém e a decisão do técnico Marcelo Veiga de mudá-lo de posição. São histórias da vida de um jovem de 17 anos.

 

 

O ano era 2015. Após deixar o profissional e assumir como diretor da base, Marcelo Teixeira recebeu o pedido de uma reunião por parte de Flavia. João Pedro treinava no CT Vale das Laranjeiras há três anos, e a família enfrentava dificuldades financeiras. No dia marcado, a mãe do menino apareceu e, após poucas palavras, foi às lágrimas.

 

- Lembro até hoje, isso me marcou muito. Ela falou dos problemas, faltava comida em casa e não tinha dinheiro para comprar roupas para o filho. Dei um abraço nela e falei que, a partir daquele dia, isso não ia mais se repetir. Era para auxiliar o ser humano - contou o dirigente.

 

Na época, de acordo com Flavia, a ajuda de custo mensal dada pelo clube era de R$ 300. Basicamente, a renda da família, afinal, o dinheiro do aluguel da casa de Ribeirão deixou de chegar por falta de pagamento. O reajuste concedido pelo Tricolor na bolsa, logo após o encontro, melhorou a situação e criou um vínculo importante no futuro.

 

- Em três horas, eu contei a minha vida toda. Me emocionei mesmo pois estávamos sem dinheiro para tudo, até para o leite da casa. A partir da ajuda, melhoramos e criamos uma amizade. Foi fundamental para tudo o que veio depois. Eu costumo falar que Xerém abraça as pessoas pois eles ajudaram a mudar as nossas vidas - recordou Flavia.

 

Àquela altura, a família teve segurança no projeto do clube. Começou a construir uma casa em Xerém, para poder acompanhar João Pedro. Não aceitou ofertas para mudar de clube "mesmo ganhando o dobro" e posteriormente assinou os contratos de formação e profissional.

 

 

 

João Pedro chegou a Xerém com 11 anos - é filho de Chicão, ex-volante do Botafogo-SP. Foi captado por Luiz Felipe, que comandaria o time do Flu campeão brasileiro sub-20 em 2015. Ele o observou um torneio em Val Paraíso, onde defendeu a escolinha do Corinthians de Ribeirão. Indicou que fosse ao Rio fazer um teste.

 

Em um único treino, Daniel Pinheiro recomendou a contratação. Não achou necessário a tradicional semana de atividades para definir o futuro. O dia 31 de janeiro de 2012, então, marcou o começo da passagem de João Pedro pelo Flu (registrado na foto que abre esta reportagem). No sub-13, conheceu Marcos Paulo, outra promessa que em janeiro de 2018 também foi integrada ao profissional.

 

Os amigos tiveram trajetória diferente em Xerém. Enquanto Marcos se destacava, João alternava entre a reserva e a titularidade.

 

- Tinha maturação tardia. No sub-15, era pequeno e magrinho e, na maioria dos jogos, ficava na reserva. O importante é ter paciência e não almejar o resultado imediato pois o talento é primordial - escreveu no Twitter Fernando Veiga, ex-dirigente de Xerém.

 

 

O "boom" aconteceu no ano passado. A partir de uma decisão de Marcelo Veiga, coordenador técnico da base e que assumiu o time sub-17 de forma interina. Ele decidiu mudar o posicionamento: João Pedro deixou de ser atacante de lado e passou a ser centroavante.

 

- Percebi nos treinos que ele tinha facilidade para se posicionar e fazer gol. Finalizava com as duas pernas, bom cabeceio e tinha aquela vontade de fazer gol, sabe? Passamos a trabalhar, melhorar o pivô. Ele foi se desenvolvendo. O que acho legal dele é a parte mental. É um moleque focado, quer aprender. Na base, às vezes, um menino faz cara feia e não aceita uma orientação. Ele sempre se empenhou para dar certo, sempre teve o olho brilhando para poder melhorar - detalhou Marcelo Veiga.

 

 

Marcos Paulo era o centroavante do time sub-17. Pois no primeiro jogo com a nova posição (o amigo estava em um período de treinos com a seleção) João Pedro aproveitou a oportunidade. Marcou cinco gols no 14 a 0 sobre o Goytacaz pelo Carioca da categoria. Não parou mais.

 

No ano passado, o sub-17 do Flu foi vice da Taça BH, campeão carioca e vice da Copa do Brasil. Em jogos oficiais, João Pedro marcou 36 gols - são 38 contando outros dois em amistosos. Mais do que o dobro da meta definida por Veiga em uma conversa no começo do ano.

 

- Foi surpreendente. Defini que ele teria de fazer 17 gols e deu no que deu. A ascensão dele foi muito rápida, chegou ao profissional sem passar pelos juniores. O futuro é brilhante - acrescentou o técnico.

 

 

João Pedro foi vendido ao Watford, em um negócio que pode chegar a 10 milhões de euros (R$ 45,5 na cotação atual) - o Tricolor recebeu 2,5 milhões de euros (R$ 11,3 milhões na cotação atual), o resto depende de bonificação. Pelo acordado entre as partes, ele se transfere em janeiro de 2020. O que pode ser adiado, em caso de novo acordo, para junho do mesmo ano.

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