Mato Grosso, 26 de Abril de 2024
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Parto domiciliar é tão seguro quanto o hospitalar?

18.06.2018
08:33
FONTE: Sabrina Ongaratto

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    Parto domiciliar pode ser tão seguro quanto o hospitalar, revela estudo (Foto: Reprodução/Facebook)

O parto domiciliar é um assunto que causa polêmica. Para tentar chegar a uma conclusão sobre a segurança desse tipo de nascimento, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, fizeram buscas em cinco bases de dados de artigos científicos. Eles queriam reunir todos os comparativos entre partos domiciliares, hospitalares e em centros de parto, com gestantes de baixo risco e sem cesárea anterior.

 

Ao final, 28 artigos – publicados entre 2000 e 2016 – atenderam aos critérios de exigência. Os documentos continham informações sobre mortalidade perinatal, complicações maternas, via de nascimento e admissões em UTI neonatal. As informações são de países de alta renda como Holanda, Estados Unidos, Japão e Austrália.

 

Depois de analisar e cruzar todos os dados, eles chegaram à conclusão de que não há diferença estatisticamente significativa em relação à óbito fetal ou neonatal precoce na comparação entre o planejamento de parto hospitalar e domiciliar. Ou seja, de acordo com a a revisão, não há um risco maior em casa e nem menor no hospital. Os números são similares.

 

Além disso, as mulheres que planejavam dar à luz em um centro de parto ou em casa tinham chances significativamente menores de intervenção e morbidade severa. Portanto, no entendimento dos cientistas, o parto domiciliar não leva a um aumento do risco de óbito ou internação em UTI neonatal para o feto ou recém-nascido e ainda está associado à redução do risco de cesárea, parto instrumental e complicações maternas.

 

Confira alguns números revelados pelo estudo, em relação a desfechos maternos em partos domiciliares:

 

• TRÊS vezes mais chances de conseguir um parto vaginal normal;

• 65% menos chances de terminar em uma cesárea;

• 63% menos riscos de um parto instrumental (vácuo ou fórceps);

• 15% mais chances de um períneo íntegro;

• 43% menos chances de uma laceração perineal grave;

• 23% menos chance de hemorragia pós-parto.

 

Vale ressaltar que a pesquisa levou em conta o local planejado para o parto, ainda que tenha ocorrido transferência para um hospital.

 

O que dizem os especialistas

As opiniões em relação ao estudo são bastante divergentes. Priscila Raspantini, obstetriz da casa Moara - espaço de convivência dedicado às mulheres grávidas - o estudo é um avanço positivo na área. “No Brasil, o modelo de atenção é baseado no médico. As pessoas têm pouca segurança no profissional que não seja médico, porque não é da nossa cultura. Mas vemos, sim, um aumento, uma demanda crescente. As mulheres sabem que essa opção existe e é segura”, disse ela.

 

Para Ana Cristina Duarte, parteira e obstetriz há 9 anos e coordenadora do GAMA - Grupo de Apoio à Maternidade Ativa - é importante lembrar que o estudo foi realizado em países ricos onde, entre outras diferenças, o sistema de atenção é integrado, as obstetrizes são muito bem treinadas e há um bom pré-natal. “É possível termos esse mesmo nível de segurança aplicado aqui com um plano de parto bem elaborado, um pré-natal de excelente qualidade, hospital de retaguarda e anestesista de plantão 24 horas. Sem esses cuidados, os riscos podem aumentar um pouco”, comentou Ana Cristina.

 

Já o obstetra Eduardo Borges da Fonseca, presidente da Comissão Nacional Especializada de Perinatologia da Febrasgo - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - pede ainda mais cautela quanto as conclusões. "Há de se ter muito cuidado com a interpretação do estudo, pois não restam dúvidas de que ele traz uma falsa ideia de segurança para o parto domiciliar. Principalmente, pelas condições econômicas do Brasil, que é bem diferente dos países onde as 28 pesquisas foram realizadas", explicou.

 

O médico ainda faz um alerta, caso as conclusões do estudo sejam levadas à sério no Brasil: "como consequência, podemos, em um futuro bem próximo, nos depararar com um aumento de complicações maternas e também neonatais", concluiu ele.

 

Parto normal, planejado e cheio de emoção

A carioca Tatiane Oliveira queria muito o parto normal e teve, mas não foi da maneira que sempre sonhou. “Sofri muita violência obstétrica no primeiro, mesmo com plano de saúde e hospital particular”, desabafou. Por causa disso, o parto do segundo filho foi planejado: humanizado e em casa.

 

A mãe contou que a filha mais velha, na época com 4 anos, queria muito ver o irmão nascer. “A presença da Beatriz era muito importante, pois ela desejou muito o irmão. Também não queria anestesia e meu desejo era que ele nascesse em casa, cercado por carinho e proteção”, contou. E foi exatamente assim. Samuel veio ao mundo com a ajuda de uma doula, uma enfermeira, e do pai, Claudio, sob o olhar atento da irmã.

 

“Ele saiu e veio direto pro meu colo. Eu colocava a mão no cordão umbilical pra senti-lo pulsar. É um momento único, esses detalhes não têm preço. Me arrepia até agora por que a natureza é perfeita”, revelou Tatiane. “Beatriz disse que foi a coisa mais linda. Ficou marcado para nós porque a carinha dela foi incrível. Foi uma explosão de felicidade”, finalizou.

 

No entanto, a experiência não é a mesma para todas as mães. A vendedora Erica Hehs, 43 anos, teve dois filhos no hospital e por cesariana. "Eu avisei que queria, pois acho desgastante o trabalho de parto de 10 ou 12 horas. A cesárea é mais prática: marca horário, interna e nasce. Não tive nenhum problema e nem dores", diz. Quando ao parto domiciliar, Erica disse ter medo: "Sem auxilio de médico e hospital, não teria coragem".

 

Seja em casa, no hospital, por cesárea ou parto normal, é fundamental que a mulher possa fazer sua escolha com base em informações e que essa decisão seja respeitada. Para as gestantes, a dica é buscar informações, conversar com o médico, com os familiares e até mesmo com outras mães. Para uma boa experiência de parto, sentir-se segura e protegida faz toda a diferença.

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