Mato Grosso, 24 de Abril de 2024
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Sedimentos de lama presente em rios após desastre de Mariana podem virar matéria-prima para a construção civil

14.10.2019
08:42
FONTE: G1

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  • Amostras coletadas na região de Mariana (MG) após o desastre ambiental — Foto: Willy Ank de Moraes

    Amostras coletadas na região de Mariana (MG) após o desastre ambiental — Foto: Willy Ank de Moraes

Partículas presentes nos rejeitos de mineração despejados após o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais, estão sendo analisadas e podem virar matéria-prima para a construção civil. Após quase quatro anos do desastre ambiental, um pesquisador de Guarujá, no litoral de São Paulo, realizou pesquisas sobre os sedimentos encontrados nos rios e enxergou um novo potencial para as partículas químicas que, após o desastre, viraram inimigas do meio ambiente.

 

Considerado um dos maiores acidentes ambientais do País, o rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, ocorreu no dia 5 de novembro de 2015. O acidente despejou 32,6 milhões de m³ de rejeitos, que foram carregados por cerca de 680 quilômetros de rios e lagos, afetando 39 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo, antes de chegar ao Oceano Atlântico.

 

O desastre ambiental também atingiu, de certa forma, o engenheiro e professor universitário Willy Ank de Moraes. Nascido em Mariana, após o desastre, ele resolveu voltar à terra natal e iniciar uma pesquisa, junto com estudantes de Engenharia Civil. O objetivo era analisar o material descartado pela barragem e que ainda está presente nos rios e córregos d’água de Mariana e Barra Longa (MG).

 

A coleta das amostras foi realizada entre os dias 14 e 19 de julho de 2017. Os locais escolhidos foram de acesso relativamente fácil e localizados em um perímetro de até 75 km do marco zero do acidente, em uma extensão de cerca de 100 km ao longo do leito dos cursos d’água.

 

"Fizemos três viagens até a região rural da cidade. Recolhemos nove amostras ao longo de três dias. Marcamos as coordenadas. Coletamos cinco amostras no Rio Galaxo do Norte (um dos mais atingidos pelo acidente). Três amostras foram de áreas próximas, mas que não foram atingidas, em afluentes desse rio. A ideia era ver a longo prazo qual o impacto na região", explicou.

 

As amostras foram levadas para o Centro Tecnológico da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), no campus Guarujá. Foram feitas análises físicas de granulometria, morfologia (tamanho e forma dos grãos) desses sedimentos e composição química, para determinar a presença de compostos prejudiciais à saúde e o teor magnético.

 

Em laboratório, cada amostra ficou aproximadamente uma hora e meia na estufa, com temperatura constante de 105ºC. Ao longo deste período, as amostras foram retiradas e pesadas para constatar a perda de toda a umidade. Depois, passaram por uma série de sete peneiras com malhas diferentes, que tem a capacidade de reter diversas partículas.

 

Após a análise, foi possível perceber a diferença entre as amostras. Segundo o professor, naquelas amostras coletadas em locais não afetados pelo rompimento da barragem, os sedimentos estão com uma granulometria mais grossa, o que aponta para uma grande quantidade de material fino e de óxidos de ferro oriundos do rejeito. Já as amostras retiradas das regiões atingidas pelo material do rompimento da barragem apresentam granulometria menor e com picos bem localizados.

 

O pesquisador explica que o material liberado pela barragem produziu arraste mecânico de materiais e sedimentos, o que alterou não apenas a sua granulometria, mas também as suas características físico-químicas.

 

“A maioria das amostras tem dióxido de silício e dióxido de ferro, em quantidade maior ou em menor, mas são materiais provenientes das barragens. Não é uma ciosa natural. Esse material facilmente se mistura com a água e acaba dificultando o consumo dessa água. Os animais terão que beber água de outros locais, já que as partículas impedem a respiração dos peixes”, explicou.

 

Nos locais onde houve a coleta das amostras, segundo o professor, não havia a presença de peixes e parte do rio estava cercado de arame farpado para coibir a aproximação de outros animais que desejam beber a água daquele córrego.

 

A razão específica para a diferença entre as amostras ainda será objeto de estudo, bem como suas consequências. O grupo também deve acompanhar, semestralmente, a evolução granulométrica deste material coletado.

 

Porém, com as informações levantadas, a ideia do pesquisador é executar projetos e ações focados no uso deste material encontrado nas partículas para o desenvolvimento de produtos para a construção civil. Segundo ele, esse material é fino suficiente para se elaborar uma espécie de massa que pode ser aplicada em estruturas de concreto deterioradas.

 

"Estamos tentando dar aplicações para esse material. Estamos avaliando a resistência dele. Esse produto que estamos desenvolvendo visa a recuperação de estruturas de concreto. Vamos desenvolver uma massa de recuperação com essa partícula. Ela pode entrar no concreto e dar maior resistência na obra", falou.

 

O objetivo, segundo ele, é criar uma utilidade para um material que, hoje, causa um problema ambiental. "A ideia é tentar encontrar uma aplicação para um produto que foi colocado de maneira inadequada no meio ambiente. E, além disso, você dá destinação a um material que iria para o lixo", finaliza.

 

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