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A tragédia de Gilles Villeneuve e a dura missão de Reginaldo Leme ao cobrir a morte de um ídolo

08.05.2019
08:24
FONTE: Globo Esporte

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  • Em Jacarepaguá, em 1982, Reginaldo Leme conversa com Gilles Villeneuve — Foto: Acervo pessoal

Há exatos 37 anos, no dia 8 de maio de 1982, a Fórmula 1 perdia um de seus grandes ídolos, Gilles Villeneuve, após um brutal acidente durante os treinos para o GP da Bélgica, no circuito de Zolder. Arrojado e destemido, o canadense conquistou uma legião de fãs, um deles Reginaldo Leme, que teve a duríssima missão de cobrir a tragédia envolvendo um dos últimos expoentes da chamada F1 romântica.

 

Quanto ao acidente em Zolder, muito ou quase tudo já foi escrito: Villeneuve tinha rompido relações com o companheiro de equipe Didier Pironi após os episódios no GP de San Marino, no qual o francês desobedeceu ordens da Ferrari para não atacar o canadense e o fez assim mesmo. Pensando que Pironi estava apenas simulando uma disputa para manter o interesse do público até o fim da prova, Villeneuve não brigou como poderia, e quando percebeu que o ataque era para valer, já era tarde.

 

 

Sentindo-se traído, Gilles queria a qualquer custo superar o novo desafeto, enquanto negociava uma saída da Ferrari. Nas duas semanas entre as corridas de Imola e Zolder, Villeneuve começou a tratar de sua transferência para a Williams, uma das equipes mais fortes da época.

 

Faltando oito minutos para o fim do segundo treino classificatório, Villeneuve era o sétimo colocado, uma posição e 0s1 atrás de Pironi. Gilles então calçou seu último jogo de pneus de classificação para uma tentativa derradeira de melhorar seu tempo. Profético, o canadense dera uma declaração de que não gostava desse esquema para os treinos de classificação, com pneus especiais para tal - de composto muito macio, eles tinham aderência fantástica para apenas uma volta lançada.

 

 

- Você tem poucas chances, na verdade, de marcar um tempo, então você não pode se dar ao luxo de levantar o pé. Para isso, você precisa de um circuito livre, mas você raramente consegue esse dia. Então você espera que o outro cara te veja...

 

Jochen Mass não viu, e a Ferrari de Villeneuve decolou para o voo mortal a 250 km/h. Os destroços mais pareciam de um desastre aéreo, e o canadense, ainda preso ao banco pelo cinto de segurança, tinha sido atirado longe. A situação era grave, como perceberam rapidamente Mass e os primeiros fiscais de pista que chegaram.

 

 

Villeneuve recebeu massagem cardíaca e respiração boca a boca ainda na área de escape da pista de Zolder. Os que estavam em volta tentavam esconder o que acontecia com lençóis verdes. Estava claro que dificilmente o ídolo ferrarista sobreviveria. A esta altura, Reginaldo Leme já estava se movimentando. Não havia link disponível para entradas ao vivo, e Reginaldo foi imediatamente com cinegrafista e operador de áudio para o hospital de Leuven, para onde Villeneuve foi levado.

 

Chegando lá, ninguém informava qual era o estado de Villeneuve. Reginaldo viu a esposa de Gilles, Joann, passar apressada, e naquele instante foi preciso tomar uma decisão rápida. Para que o material pudesse ser gerado a tempo da janela de satélite para a TV Globo de Londres (de onde as imagens seriam rebatidas para o Brasil), seria necessário ir logo para a sede da TV estatal belga, em Bruxelas, a 30 quilômetros do hospital. Reginaldo então foi para a RTBF, onde gravou duas opções de passagem - quando o repórter aparece no vídeo: uma para comunicar que Gilles Villeneuve lutava pela a vida, e a outra confirmando a morte do ídolo.

 

 

Reginaldo então gerou as duas passagens para Londres, e também o texto da matéria a ser exibida na programação da Globo. Naquele instante, a Globo Londres já tinha as imagens do acidente de Villeneuve em câmera lenta, algo a que Reginaldo não tivera acesso na pista. Foi preciso então improvisar e descrever a cena de Gilles sendo atirado fora do carro enquanto o editor Ricardo Pereira, por telefone desde Londres, contava o que a imagem ia lhe mostrando.

 

Finalizado o trabalho, Reginaldo e equipe finalmente foram jantar, ainda sem saber o que havia acontecido, enfim, a Villeneuve. Chegando a um restaurante italiano em Bruxelas, Reginaldo recebeu de um garçom - também italiano - a notícia que jamais gostaria de ter ouvido:

 

- Villanova è morto!

 

 

Com uma fratura no pescoço, chegava ao fim a trajetória marcante de um dos pilotos mais exuberantes de seu tempo. Abatido, Reginaldo ligou do telefone do restaurante - não havia celular naqueles tempos - para a Globo Rio e confirmou a morte de Villeneuve, mas notícia tinha chegado ao Brasil exatamente no meio tempo entre a ida da equipe desde a RBTV até o restaurante.

 

Reginaldo lembrou-se da convivência bastante cordial com Villeneuve e lamentou a partida de um ídolo. No dia seguinte, comentou o GP da Bélgica ao lado de Galvão Bueno, mas a imagem definitiva do episódio se deu duas semanas depois, em Mônaco, onde Gilles morava: ao gravar imagens em frente à casa do ídolo, Reginaldo avistou duas crianças passando por ele: eram Melanie e Jacques Villeneuve, este futuro campeão mundial.

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