Um burburinho sobre quem é o dono da Havan, a excêntrica varejista catarinense que tem uma réplica da estátua da Liberdade em frente às suas lojas, virou o tema da campanha de Natal da empresa neste ano. Como o dono não costuma aparecer, surgiram na internet e nas cidades em que a empresa avançou rumores de possíveis donos: a filha da ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o bispo Edir Macedo e até o empresário Silvio Santos.
O verdadeiro dono da varejista, o catarinense Luciano Hang, é avesso aos holofotes. Só costuma falar com a imprensa durante as inaugurações de lojas. "Eu sempre achei que a empresa tem que aparecer e não o dono. Tive que reavaliar", disse Hang, em entrevista ao G1.
Agora ele é o protagonista de uma campanha na TV com o tema "De quem é a Havan?".
A mudança ocorreu após a empresa ter sido associada a figura de políticos. "Eu não ligava enquanto achavam que a Havan era uma empresa americana, chinesa ou coreana. Mas quando começaram a associar a loja a políticos, me preocupou", disse Hang.
Segundo ele, motoristas dos caminhões da empresa passaram a ser hostilizados em postos de gasolina por pessoas contrárias ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Enquete
A campanha da Havan mostra uma enquete com clientes na loja, na qual eles citam personalidades diversas. Em outro vídeo, Hang se apresenta como dono da varejista e fala das promoções de Natal.
"Muitos empresários não gostam de aparecer. Mas esse rumor poderia prejudicar a marca. O melhor é aparecer e resolver isso", disse o líder da área de marketing da faculdade ESPM, Marcelo Pontes.
Perfil
Natural de Brusque, polo têxtil em Santa Catarina, Hang começou a Havan em 1986 como uma lojinha para vender tecidos no atacado. O nome Havan é a junção do seu sobrenome com o nome do ex-sócio, Vanderlei de Limas. Com a abertura comercial do Brasil nos anos 90, a Havan passou a importar produtos diversos e vender de tudo.
Hoje a rede tem faturamento anual de R$ 4,7 bilhões e 94 lojas em 14 estados. As unidades vendem itens diversos como eletrônicos, roupas e produtos para a casa.
A rede é famosa por ter uma arquitetura peculiar. As lojas são inspiradas na Casa Branca e, em frente, há uma réplica da estátua da liberdade. A maior delas fica em Barra Velha (SC) e tem 57 metros de altura - mais do que a estátua do Cristo Redentor (38 metros).
Hang é fã da cultura americana focada no empreendedorismo e foi sua ideia usar a arquitetura da Casa Branca nas lojas. A estátua veio depois, por sugestão de uma criança que estava na inauguração da primeira unidade, em 1994.
Planos de expansão
A empresa vinha com um ritmo acelerado de abertura de lojas desde 2009, mas pisou no freio em meados de 2015. A meta de chegar a 100 unidades no ano passado foi adiada e só deverá ser retomada em 2017.
"Tivemos um crescimento da crise econômica e política. Mas o Brasil parou por falta de confiança", explica Hang. Nesse período, ele diz que reestruturou para melhorar sua eficiência e enxugou custos. A empresa, que tinha 15 mil funcionários em 2014, hoje tem um terço a menos. "Em vendas, vamos terminar 2016 igual a 2015. Mas a nossa lucratividade vai ser a melhor da história da Havan", afirmou.
Hang enxerga sinais de melhora na economia e já planeja retomar o crescimento. "Nossas vendas voltaram a crescer em agosto 5% e, em outubro, foi 15% de alta (em relação ao mesmo mês de 2015).
Há sinais de melhora", disse. Ele ressaltou, no entanto, que a empresa vai avaliar sua expansão mês a mês. "A economia tem espasmos. Vamos avaliar mês a mês", disse o empresário, lembrando que as vendas voltaram a desacelerar em novembro.
Para o consultor de varejo Ricardo Pastore, o varejo ainda não tem uma tendência consolidada da recuperação. "Há um risco de reversão de expectativas. As demissões continuam na economia e ainda há instabilidade política", afirmou.
Ele afirma que só varejistas com boa estrutura financeira podem assumir o risco de voltar a crescer. "Elas poderão conseguir bons descontos nos custos de aluguel e terrenos", disse.
A Havan diz que já tem terrenos ou projetos definidos em shoppings centers para inaugurar 10 lojas no ano que vem, com investimento de até R$ 300 milhões.