Mato Grosso, 28 de Março de 2024
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Demian Maia admite adiar aposentadoria e não descarta revanche com Anderson Silva

22.05.2020
08:39
FONTE: Globo Esporte

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  • Demian Maia admite adiar aposentadoria e não descarta revanche com Anderson Silva

    Demian Maia — Foto: Reprodução

Aos 42 anos, Demian Maia caminha para seus últimos momentos como lutador profissional de MMA. O faixa-preta de jiu-jítsu já havia declarado em seu confronto mais recente, quando foi nocauteado por Gilbert Durinho no UFC Brasília, em março, que só pretendia entrar no octógono mais uma vez. Entretanto, ele parece ter repensado a ideia e já faz planos para fazer mais dois combates antes da aposentadoria. Sua ideia é ultrapassar Donald Cerrone como recordista de vitórias na história do Ultimate. Atualmente o americano possui 23 triunfos na companhia contra 22 do brasileiro, que está em segundo na lista.

 

Para alcançar a marca, Demian gostaria de enfrentar o próprio Cerrone, além do também americano Diego Sanchez, mas não descartou realizar uma revanche contra ninguém menos que Anderson Silva. Em 2010, quando Maia ainda era peso-médio (até 84kg), eles se enfrentaram pelo cinturão da categoria, e o Spider saiu vitorioso por decisão unânime, mas foi duramente criticado pela postura desrespeitosa com o compatriota durante o confronto. O próprio Dana White, presidente do Ultimate, detonou o campeão na época ao dizer que era "uma desgraça total para o esporte" e que estava "envergonhado".

 

Em caso de novo encontro, Demian Maia acredita que a postura de Anderson seria diferente. Ele também declarou que gostaria de fazer o duelo em peso-casado, entre os meio-médios (até 77kg) e os médios, mas não descartou subir de categoria pela luta, mesmo admitindo que as prioridades seguem com Sanchez e Cerrone.

 

Além de seus planos para as próximas lutas, Demian também comentou sobre a pandemia do Covid-19, a realização dos eventos por parte do Ultimate e suas ideias para quando se aposentar do MMA.

 

Confira a entrevista completa:

 

COMBATE.COM: Para começar, o que tem feito durante esse período de quarentena?

Demian Maia: Estou ficando confinado, só saio pra ir no mercado. Comprei saco de boxe, todo dia faço boxe de manhã, pulo corda e tenho uns aparelhos de musculação em casa, faço todo dia à noite. Não estava treinando jiu-jítsu, mas tem um professor da academia que está confinado só com a mulher dele. Falei que preciso treinar um pouco, movimentar, e hoje (segunda-feira) ele veio pela primeira vez em casa. Treinei pela primeira vez, mas com uma pessoa que também está isolada.

 

O plano de fazer mais uma luta e se aposentar segue de pé ou mudou?

- Estou aberto a fazer mais uma luta se for o caso, principalmente se for luta sem público. Queria me despedir com público. Ter um revés na última luta também me fez repensar tudo isso. Pode ser uma ou duas, depende do que vamos negociar com o UFC também. A principal questão, que é uma vontade pessoal, é de superar o Cerrone no número de vitórias e terminar como o cara que teve mais vitórias (na história do Ultimate).

 

A pandemia afetou seus planos sobre quando fará próxima luta ou não mudou nada, já que você lutou recentemente?

- Eu tive a sorte de ter lutado poucos dias antes do negócio ficar mais forte aqui no Brasil. Depois da luta tirei uns dias de folga, fiquei umas duas semanas sem treinar e já voltei a treinar em casa. Comecei a fazer peso, boxe, esse tipo de coisa. Lógico que já estaria em um ritmo mais forte (se não houvesse a pandemia), mas não estou zerado. Estou mantendo um ritmo razoável. Se precisar entrar em um camp de dois meses, dois meses e meio, acho que consigo entrar em um ritmo bom.

 

Já existe alguma conversa com o Ultimate sobre quando será sua próxima luta?

- Ainda não teve, mas como estão fazendo evento direto, fizeram três em uma semana, eu acho que é a ordem natural das coisas. Daqui a pouco acho que vai haver contato com Edu e aí temos que sentar e decidir como eu faço, porque como minha mulher tem um pouco de asma, tenho que tomar cuidado com isso. Se eu tiver que treinar para alguma luta, talvez nem valesse a pena ficar em casa.

 

Aproveitando que você citou o retorno dos eventos do UFC: qual a sua opinião sobre eles serem realizados durante a pandemia?

- É muito difícil comentar isso por dois motivos: primeiro porque estou dentro do evento, então qualquer comentário meu é um comentário que tenho conflito de interesses com relação a isso. E segundo que é muito difícil ainda saber o que vai acontecer. Talvez um dia a gente olhe pra trás e diga que tinha que fazer mesmo, que eles tinham razão. Ou que a gente olhe pra trás e diga que não era a hora. A gente está numa coisa que a humanidade talvez nunca tenha vivido ou viveu pela última vez em 1918, na gripe espanhola. É muito distante e novo pra gente.

 

Você aceitaria lutar em um destes eventos, caso o UFC te chamasse?

- Se tiver como treinar e tempo para treinar, e conseguir não botar ninguém em risco, sim. Por exemplo, se eu tiver que treinar para um evento desse, vou me botar mais em risco. Provavelmente não ficaria em casa. Mas poderia fazer sim.

 

Você disse que não gostaria de fazer sua última luta em um evento sem torcida e você viveu essa experiência de lutar com ginásio vazio na luta contra o Gilbert Durinho. Acha que isso te prejudicou contra ele?

- Eu achava que não, mas talvez esse negócio de não ter torcida me deixou mais relaxado que o normal e talvez tenha custado uma situação do golpe dele. Talvez se tivesse a torcida gritando, eu estivesse um pouco mais atento. É difícil falar, pode ser que com torcida tivesse acontecido a mesma coisa, mas estou supondo uma coisa, imaginando pelo fato de não ter tido torcida.

 

Você também falou que precisa de um camp de dois meses e meio para se preparar para uma luta. Da forma que você vem treinando hoje, é possível você lutar em dois meses e meio ou precisa esperar mais tempo para a vida voltar ao normal antes?

- Hoje, como falei, estou mantendo uma base, então não sairia do zero, muito pelo contrário, estou me puxando. O que está faltando pra mim é a parte de sparring, trocação com sparring, porque tenho feito toda a manutenção física e técnica de saco, sombra, corda, a parte de musculação... Hoje, pela primeira vez, fiz um "rola" com aquele aluno meu que é professor da academia e que também está isolado. Em dois meses e meio teria que me arriscar um pouco mais, treinar com mais pessoas, e aí acredito que estaria pronto.

 

Muitas vezes é difícil para o atleta se aposentar do esporte. Quão difícil é pra você tomar a decisão de parar de lutar?

- Eu venho me preparando para isso há dois anos pelo menos, então não é uma coisa que eu "parei e agora, o que vou fazer?". Eu tenho feito várias coisas. Propositalmente, nos últimos dois anos eu dei mais seminários do que costumava dar e procurei ir para países diferentes também, mesmo que economicamente não fosse tão vantajoso como ir para os Estados Unidos. Procurei ir para outros para abrir portas em outros lugares. Foquei um pouco mais em criar cursos para os meus afiliados. Procurei divulgar mais minhas academias afiliadas porque sei que será uma coisa que vou seguir. Agora montei um canal no YouTube em inglês e português, estou fazendo podcasts e entrevistas com a galera que não é do meio da luta. Já tenho umas pra soltar e soltei outras também. Estou me preparando e a hora que parar terei muita coisa pra fazer. Acho que isso preenche seu tempo e deixa mais preparado pra fazer a transição. Sentir falta eu vou, com certeza, mas principalmente nesse começo vou tentar manter uma quantidade de treinos bem elevada para um cara que não vai ser mais profissional. Vou acabar focando no começo nesse canal do YouTube, seminários e afiliações, e aí vejo o que acontece. Tenho outros projetos pra TV também. Vamos ver o que acontece.

 

A ideia de criar um canal no Youtube foi algo pensado por conta da aposentadoria ou já era uma vontade antiga?

- Já era um negócio que eu pensava, mas sabe aquele negócio que você precisa de uma coisa para acelerar? Mais que o canal, o podcast era um negócio que estava enrolando no mínimo dois anos. Sentei para conversar com amigos, no começo a ideia era fazer a quatro pessoas com um entrevistado, mas todo mundo muito difícil com agenda. Mas aconteceu tudo isso, coincidentemente chegou um monte de luta antiga minha de faixa-marrom, faixa-preta, pensei em jogar num canal no YouTube. O pessoal começou a me mandar perguntas, e criei um quadro de responder perguntas. Pensei em fazer um podcast e jogar em áudio e em vídeo. A ideia era ser tipo o do Joe Rogan, sem edição, então fica fácil. Também botei umas aulas que tinha dado e fui desenvolvendo. Aí o Bernardo Faria, que foi campeão mundial de jiu-jítsu, falou para eu fazer em inglês também porque são públicos diferentes. Fiz em inglês e já comecei a botar coisa lá. Tem um curso de defesa pessoal que desenvolvi para não-praticantes de luta que é bem legal e vou passar algumas aulas agora. Mais pra frente vou fazer ele online, mas agora vou passar algumas aulas e botar no canal de graça. É um projeto antigo, mas com certeza esse negócio acelerou. Isso foi o lado bom. Deu tempo pra gente pensar um pouco, rever um monte de coisa, como estamos levando a vida, as prioridades que estou dando e enxergar outras possibilidades.

 

E esses vídeos antigos de lutas de jiu-jítsu que você disse que chegaram até você? Como eles chegaram?

- Antigamente tinha aquelas mini DV, umas fitas pequenas, e tinha um amigo meu que na época tentou iniciar uma produtora, curtia essas paradas. Ele ia nas minhas lutas desde faixa-azul filmar porque era meu amigo de escola. E ficou aquilo lá. Nunca mais a gente olhou porque estava em mini DV. Um dia ele me trouxe tudo. Peguei e no começo do ano passado fui para os Estados Unidos e perguntei pro Flávio Alemão, que trabalha comigo na parte de afiliações, se ele digitalizava tudo. Ele filmou muita coisa de camps meus, quando lutei com o russo (Alexander Yakovlev), contra o Rick Story, ele vinha pros camps e filmava treinamento. Nunca soltei isso porque tem muito treino que é muito tático, não quero mostrar, mas quando parar de lutar pretendo ir soltando. Tem muita coisa legal de bastidores, muita filmagem de sparring. Ele tem imagens antigas de quando eu morava em San Diego, lá com Minotauro, Cigano, a galera toda. Falei para prepararmos essas coisas para a hora que eu parar. Ele digitalizou tudo e me mandou agora. Eu nem sabia mexer em Google Drive, nuvem, fui aprendendo tudo. Ele mandou e comecei a aprender a editar porque tinha vários vídeos com música, só que música tem direito autoral e não pode usar. Tive que tirar a música. E a maioria está cru, sem edição, vídeos muito longos, um vídeo em cima do outro, então tenho que separar em lutas. Tem luta minha, do Leozinho Vieira, Fernando Tererê, Marcelinho Garcia, isso é bem pro cara que gosta, mais "hardcore". É um tesouro. Tem umas lutas muito legais lá. E tem a parte pra todo mundo que é a parte do podcast, em formato mais longo. Eu particularmente não gosto de assistir, gosto de ouvir. São entrevistas de 1h30, 1h15, coisas que são mais interessantes pra ouvir.

 

Vai colocar em prática a versão jornalista quando se aposentar então?

- Acho que é a versão de curioso. São pessoas muito interessantes, pessoas que tenho o maior prazer de entrevistar. São caras que eu admiro, acompanho há muito tempo, conheci, os caras gostam de luta também. E tem muita curiosidade pra perguntar também. Vou entrevistar médicos, um professor de física falando bastante de ciência... Não é o público de luta, mas é uma coisa que gosto de fazer. Quem gostar, ouça, quem não gostar, vai pra parte de luta, pro curso de defesa pessoal, vai ter tudo. É questão de tempo pra criar esse público.

 

Se tudo correr como você planeja, como será a vida do Demian Maia aposentado do MMA?

- O YouTube é uma coisa que curto fazer e estou fazendo por prazer. Não é profissional ainda em termos de ganhar dinheiro com isso. Mas eu acho que o que vai acontecer é que continuarei treinando, vou tocar a academia e profissionalmente o principal vão ser os seminários nesse começo. Os seminários são uma realidade há muitos anos, me geram uma boa renda. A reboque disso tem o negócio das afiliações, que não é enorme ainda, mas tem muito potencial, muita gente querendo se afiliar. Paralelo a isso vão crescer os cursos online, canal, tem muita coisa pra fazer. Tem que tomar cuidado pra não fazer muita coisa. Nos primeiros dias (de quarentena) falei que seria tranquilo e teria tempo, mas enfiei tanta coisa no meu dia que comecei 6h30 da manhã e 6h30 da noite ainda tinha coisa pra fazer. Tenho essa tendência de fazer 30 coisas ao mesmo tempo e acabo sem tempo pra fazer nada. É um treinamento novo. Esse treino de foco é o que estou me preocupando agora. É um treino novo de como lidar com isso.

 

E como você está vendo o momento do país durante essa pandemia do Covid-19?

- O país já estava antes da pandemia muito polarizado politicamente e parece que isso potencializou mais ainda essa polarização. É triste que você vê muitas pessoas que torcem a favor ou contra de acordo com o viés político delas e não pensando com clareza na parte científica. Vamos dar o exemplo da cloroquina, que é a briga gigante. O cara que é contra o Governo é contra a hidroxicloroquina, e o cara que é a favor acha que é a salvação. Isso independe de você ser contra ou a favor, vai na ciência e olha. Eu tenho que torcer pra funcionar, mas a ciência diz que não está no momento, não tem eficácia. Se você apoia o Governo, beleza, vamos ver se melhora. Ao mesmo tempo, o cara de esquerda fica torcendo pra não funcionar. É f*** isso. A pessoa só quer ganhar a discussão. Ela não quer pensar com racionalidade. Isso é interessante porque é ruim, mas faz a gente ver e talvez sair melhor disso tudo. Entender que o importante é você pensar racionalmente e olhar fatos, não só ser contra ou a favor uma coisa só porque você apoia ou não apoia o Governo. Todo mundo precisa saber ouvir e precisa respeitar a opinião dos outros e ouvir. Você não precisa concordar com a opinião de todo mundo. A partir do momento que o cara não falou coisas inaceitáveis, que tem que matar, isso e aquilo, opinião é opinião. Tem que respeitar a opinião da outra pessoa.

 

Voltando a falar de MMA, você então tem duas lutas ainda pra fazer antes de se aposentar. Em Brasília você disse que queria encerrar a carreira enfrentando o Diego Sanchez ou o Donald Cerrone. O plano agora é enfrentar os dois ou tem outros nomes que você gostaria?

- Agora não é "ou", agora é "e" (risos). Diego Sanchez e Cerrone, pode ser os dois. Cheguei a pensar em uma luta com o Anderson (Silva), mas tem o negócio do peso. Ele aceitaria fazer "catchweight" (peso-casado)? O Dana (White, presidente do UFC) não gosta. Pra mim vale a pena subir pra 84kg e lutar com essa desvantagem toda de tamanho? São muitas outras possibilidades a se pensar, por isso não falei dessa.

 

Mas você cogitaria subir pra 84kg pra enfrentar o Anderson?

- Não tanto quanto cogitaria lutar com Diego ou Cerrone, mas cogitaria. Mas preferia fazer um "catchweight" se fosse possível.

 

Como acha que seria uma revanche hoje entre você e o Anderson?

- Espero que eu conseguisse agarrar, coisa que não consegui na primeira luta, e botar pra baixo. Esse seria o plano, mas sei lá. É muito difícil falar. Como ele virá? Acredito que não venha como veio em 2010 porque é outro Anderson, mas vai vir bem treinado pelo desafio de ser uma luta comigo? Talvez dê um ânimo a mais. Não dá pra saber.

 

E com relação à postura dele na luta, você acha que seria diferente do que foi daquela vez, quando te provocou durante toda a luta e foi muito criticado por isso na época?

- Acho que sim, porque aquela luta acabou repercutindo mal para a imagem dele, deu uma manchada e acho que ele talvez tentaria mudar isso.

 

Chegaram a conversar alguma vez sobre aquela luta?

- Nunca. Nos encontramos várias vezes depois. Teve "Summit" em Las Vegas do UFC, no próprio Faustão depois da luta, lutamos em vários eventos que os dois lutaram. Lembro de pelo menos dois que lutamos no mesmo evento, mas nunca teve uma conversa sem ser se cumprimentar.

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