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Luiz Besouro abre o porta-luvas do carro e retira uma flanela. Ele limpa, pacientemente, os vidros e espelhos do automóvel. Em seguida, senta-se, regula o banco e ajeita o retrovisor. Coloca os óculos escuros no rosto para se proteger da claridade - para variar, faz sol e calor na Zona Sul do Rio de Janeiro - e prende o celular no painel. O material de luta fica na mochila, trancada na mala, afinal, é hora de o ex-atleta do UFC se transformar em motorista de aplicativo e rodar a cidade em busca de passageiros.
- Estou bem avaliado, minha nota é 4,92. Está bom! Para um carro velho desse... Sou educado, trabalho direito, sou regrado. Só falo se falarem comigo, senão, não falo, pergunto o básico, se tem opção por rádio, ar-condicionado. Meu carro não é novo, vou ganhando pelo bom atendimento, sendo solícito, tudo o que o esporte ensina - conta Besouro, enquanto dá carona para a reportagem do Combate.com.
Há um ano e dois meses na função, Luiz Besouro, que participou da segunda edição do TUF Brasil 2, em 2013, e travou duas lutas pelo Ultimate, em 2014 e 2015, conta que é reconhecido pelos passageiros - e boa parte se surpreende ao vê-lo trabalhando fora dos tatames.
- É até engraçado, depois de tanto tempo de programa... As pessoas dizem: "Eu te conheço. Você não é o Besouro?". Tem muita gente que reconhece. Nas minhas redes sociais as pessoas perguntam quando eu volto. Outro dia eu estava em São João de Meriti e a pessoa me perguntou: "Você não é o Besouro?". As pessoas têm a ideia de que você está rico porque passou na televisão. Eu continuo trabalhando duro. Vivo melhor do que naquela época, tenho um carro velho para andar, uma moto parada na garagem, consigo comprar as coisas dos moleques, mas ainda preciso trabalhar bastante - relata o pai de Luiz Guilherme (20), Luiz Henrique (16) e Luiz Eduardo (12).
Besouro - que antigamente trabalhava como moto-taxista - é só elogios à atual ocupação, hoje, o principal sustento da família. Por ser autônomo, pode escolher que horas irá dirigir e, desta forma, casar os horários com o cronograma de treinos na academia RFT. O "piloto" se incomoda, apenas, quando aparecem clientes mal educados.
- Às vezes querem entrar com cachorro grande dentro do carro, material de construção... O brasileiro é muito maluco, daqui a pouco quer entrar com galinha. Isso, às vezes, é fo**, a gente vai levando. De madrugada tem muito mala, muito passageiro bêbado, mas tem muita gente bacana, muita gente de idade, deficiente visual... Mudou a minha vida, salvou legal, estou muito satisfeito. No moto-táxi era chuva, sol, risco de cair. As coisas estão bem melhores. Estou me dedicando a isso, é meu maior patrocinador.
Aos 37 anos, Besouro quer lutar em dezembro
Se no serviço de transporte Luiz Besouro está "voando baixo", no mundo da luta ele empacou. A última apresentação do carioca no cage aconteceu na derrota por pontos para Imran Abaev, no ACB 75, no Rio de Janeiro, em outubro de 2017. O hiato na carreira foi uma opção do atleta, que desejava se reciclar após amargar uma inédita sequência de três resultados negativos.
- Tinha que me reinventar. Fui nocauteado pela primeira vez na China. Apaguei, achei que estava dentro da academia. Isso mexeu comigo. Lutei na Rússia, me machuquei aos 30 segundos de luta. Pequei na preparação física, estava há um tempo sem malhar, sem cuidar do meu corpo. Depois perdi na decisão no ACB, não me apresentei bem, cansei como nunca tinha cansado. Optei por me recompor, ficar na minha, explorar outras áreas e repensar a minha carreira. Entendi que precisava voltar às origens. Venho treinando muito chão, mas sem parar de trabalhar o boxe e o muay thai. O chão é meu carro-chefe. Vocês vão ver isso nas minhas próximas lutas.
No MMA desde 2003, Luiz Besouro tem 13 vitórias e sete derrotas. Em busca de apagar o retrospecto recente, o atleta da luta-livre mira seu retorno para dezembro, no Brasil. Em seguida, espera acertar com um evento do Japão.
- Não admito que minha carreira termine com três derrotas consecutivas. Eu quero voltar ao Japão, a meta é essa. A gente quer voltar ao cenário. Pretendo encerrar minha carreira lá. Enquanto eu estiver conseguindo botar a mochila e ir treinar... Sou do mesmo pedigree que Anderson (Silva), (Ronaldo) Jacaré, Wanderlei (Silva)... Se eles conseguem, eu também consigo. Sou da época que o Japão era o ápice do esporte. Hoje temos o Rizin, sempre fui apaixonado pelo Japão, entro com a música do Pride para lutar. Até dezembro eu sei que estou lutando. Quero ter mais um cinturão mundial. E vou ter. É isso que vou fazer antes de me aposentar.
Veterano das artes marciais mistas, o pupilo de Márcio Cromado utiliza um clichê para afirmar que somente os apaixonados conseguem perdurar no esporte. E ele vai até o fim, mesmo que o cenário na modalidade seja nebuloso.
- Lutar MMA não é para qualquer um. Para permanecer muito tempo na estrada é preciso amor. É muito difícil você não ter dinheiro, não conseguir pagar as contas, ser julgado por terceiros que mal sabem da sua história, da sua vida. É tudo muito duro, trabalhoso... Na maioria das vezes, você deixa de curtir a sua vida com os filhos em prol de algo que não sabe se vai ter, se vai ganhar. Só fica quem ama. Minha mãe diz que eu sou maluco. Ela tem razão, não sou um cara normal, não. E eu me orgulho disso. Uma vez me disseram que eu ficaria velho com as luvas nas mãos, no meio da rua. Pode ser. Se isso me fizer feliz, problema nenhum, é assim que vou ficar: velho, com as luvas nas mãos e no meio da rua. Está bom.
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