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Ligadas inteiramente à história de Cuiabá, as famílias tradicionais eternizaram seus sobrenomes em ruas, avenidas, instituições e casarões e mesclaram as suas trajetórias de vida – e de seus antepassados – à construção da capital de Mato Grosso que, no último sábado (8), completou 298 anos. Em entrevista, alguns descendentes contaram sobre a chegada dos primeiros integrantes dessas famílias, a instalação deles e o início da história de cada uma delas.
Algumas famílias se firmaram na capital há pelo menos 100 anos e carregam consigo histórias de amor e de lutas - tanto em batalhas quanto na política. Famílias tradicionais, formada inicialmente por “paus rodados”, como são chamados aqueles que são de outras regiões e escolhem a capital para viver, mas com gerações atuais de “chapa e cruz” - a denominação dada pelos cuiabanos aos que nasceram no município.
Paes de Barros
Uma família devotada à política. Assim, Sônia Castro de Arruda, de 84 anos, resume a história dos Paes de Barros em Cuiabá, que, desde que ela se recorda, teve início com seu bisavô, o major Joaquim Vicente Paes de Barros. Neta do coronel Antônio Antero Paes de Barros (1883-1979), ela relembra que a família morava em um casarão na Rua 7 de Setembro, no Centro Histórico de Cuiabá, no lugar em que hoje, logo em frente, se encontra uma base da Polícia Militar.
Atualmente, o “quartel-general” é tombado como patrimônio histórico e não mais abriga a família, que se encontra espalhada pela capital e também por Campo Grande (MS). “Ali moramos todos, chamávamos a casa de quartel-general, porque todos ficavam por ali um tempo. Os filhos trabalhavam e as crianças ficavam com a vovó, que cuidava da gente. Eu, mesma, só saí de lá quando casei, em 1957. E vovô faleceu ali também, com 96 anos de idade”, disse.
A família que deu nome a ruas, avenidas e até escolas da capital, é conhecida pela atuação na política desde a época do coronel, que chegou a disputar a prefeitura de Cuiabá contra o primo, Agrícola Paes de Barros, e José Garcia Neto, sendo que o último saiu vitorioso e administrou a capital de 1955 a 1959.
“A nossa família sempre teve sangue político, essa vontade de querer consertar o Brasil. Vovô sempre quis equilibrar a economia para fazer o município e o estado se desenvolverem. Ele sempre acreditou nisso e todos que vieram depois, também”, afirmou.
Borralho
Considerada uma das mais antigas da cidade, a família Borralho remonta sua história à época da Guerra do Paraguai (1864-1870), quando um capitão que carregava o nome da família teve a sua atuação destacada e ganhou uma medalha de bravura.
Neta de João Borralho, o 'Borralho da Farmácia', a advogada Michelle Borralho diz que a família – que tem seu nome espalhado por ruas, travessas, policlínicas e jardins – tem orgulho de ter ajudado a construir a capital e de carregar, consigo, características do povo cuiabano.
“Borralho que é Borralho fala 'vôte', é 'larido', 'come até fofá', gosta de escutar as histórias de 'danadezas' dos mais antigos e tem consigo uma fé que nunca há de acabar”, disse.
O grande destaque da família foi o farmacêutico João Borralho – que "batiza" uma policlínica no Bairro Despraiado – que se tornou conhecido pela caridade com os menos desfavorecidos, quando ajudava aqueles que não tinham condições de arcar com os custos de suas medicações.
De acordo com a advogada, grande parte dos familiares morou e fez história na Casa Cuiabana, no Bairro Bandeirantes, casarão construído no século 18 e que foi tombado como patrimônio histórico e cultural e é conhecido, atualmente, como Centro Cultural de Cuiabá. Lá funcionou a sede da fazenda da família Borralho e o jardim que ali se encontra leva o nome de uma das antigas moradoras, Deidâmia Borralho.
Novis Neves
Para o médico e um dos fundadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Gabriel Novis Neves, 82, não há como se falar da antiga Cuiabá sem se lembrar do “Bar do Bugre”, também conhecido como Bar Moderno – nome que foi registrado na Junta Comercial.
Localizado em frente à Praça Alencastro e inaugurado em 29 de junho de 1920 por Olyntho Neves, o 'Bugre' – pai de Gabriel – o estabelecimento era ponto de encontro de personalidades da época, principalmente políticos.
“Eu sou o primeiro de nove filhos. Fui estudar medicina no Rio de Janeiro após ser expulso do bar. Meu sonho era ser garçom, mas naquela época, os amigos diziam que os filhos estavam indo para o Rio estudar e eu também fui. Quis o destino que eu, que fui expulso daqui porque não tinha mais o que estudar, na minha volta fui um dos que implantei o ensino superior em Mato Grosso e ajudei a criar duas faculdades de medicina”, recorda Novis Neves.
A família do médico fixou residência em Cuiabá por causa de seu avô, segundo ele, um coronel que veio para Cuiabá no final do século 19 para auxiliar na construção do Palácio Alencastro. Desde então, segundo Novis Neves, nunca mais deixou essa terra.
“Minha mãe, Irene Novis Neves, nasceu aqui, filha de um judeu que se apaixonou por uma cuiabana. Meu pai é filho de uma carioca que se apaixonou por um cuiabano. Eu me casei com uma argentina que amava essa terra e foi uma ilustre desconhecida, que me apoiou em toda a minha carreira e quis ser enterrada aqui. Todos os meus filhos nasceram aqui. Não há o que se falar: as nossas raízes são cuiabanas”, afirmou.
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