Mato Grosso, 29 de Março de 2024
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José Aldo: "Vou ser o primeiro rival completo do Petr Yan. Ele só pegou caras de nível lá em baixo"

10.07.2020
09:48
FONTE: GloboEsporte

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  • José Aldo: "Vou ser o primeiro rival completo do Petr Yan. Ele só pegou caras de nível lá em baixo"

    Petr Yan foi sparring de José Aldo em 2016 no camp para a luta contra Frankie Edgar no UFC 200 — Foto: Reprodução / Twitter

Se você espera uma entrevista morna de José Aldo, é melhor se preparar. O agora peso-galo do UFC, que disputará o cinturão vago do peso-galo no UFC 251 que acontece no próximo sábado na Ilha da Luta em Abu Dhabi contra o russo Petr Yan, não economizou palavras ao falar da sua motivação para buscar o seu segundo cinturão na organização. Segundo Aldo, o estilo agressivo da época do WEC, quando ficou famoso pelos nocaute devastadores que aplicava em seus adversários, está de volta. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, o ex-campeão peso-pena da organização garante que não sente que precisa provar mais nada para ninguém, e que fará no octógono o que sempre quis fazer: lutar em pé em busca do nocaute desde o início.

 

- Vamos falar um pouco do passado. Eu nunca pensei em cair numa zona de conforto, em ficar numa zona mais estável. Mas acho que o meu treino de kickboxing estava deixando muito a desejar. Eu treinava só dois meses pra lutar, e é muito difícil você pegar uma característica treinando durante dois meses taticamente. Desde o ano passado eu venho treinando kickboxing com o Matheus Nakashi todos os dias. Ninguém pôde ver os nossos treinos. Só nós e nossos sparrings sabemos e podemos falar de tudo o que eu tô falando aqui. Pode ter certeza que as minhas pernas estão muito mais habilidosas e fortes.

 

Aldo deixou claro que, após muitos anos como profissional, ele não pretende mais provar seu valor para quem quer que seja. O objetivo é voltar ao estilo que o consagrou no WEC, quando construiu a fama de demolidor de rivais, construindo nocautes e tendo apresentações que o levaram ao posto de um dos maiores lutadores da história do MMA.

 

- Eu cheguei numa fase da minha carreira que eu não tenho que provar mais nada pra ninguém. É exatamente isso que eu quero. Lá dentro eu quero fazer aquilo que eu sempre quis fazer, que é lutar em pé, buscar o nocaute, ser agressivo o tempo todo. Eu vou pra nocautear desde o início, não importa que seja contra o Petr ou contra o Marlinho, que é um cara excelente no kickboxing também. Eu vou pra luta em pé independentemente de quem seja. Se você colocar o campeão do K1, do boxe, quem for, eu vou lutar em pé, soltar minhas pernas e meus combos. É assim que eu vou ser. Não quero chegar e dizer que eu vou ser campeão. Eu quero ser campeão, mas também quero me divertir e fazer o que eu sempre fiz na época do WEC, que era ser um cara agressivo, que ia pra frente não me preocupando com o que o adversário vai fazer, com o que eu tenho que tomar cuidado. Sim, temos que conhecer o nosso adversário, mas eu tenho que fazer aquilo que eu quero fazer, pra que ele se preocupe com as minhas técnicas, e não eu ficar preocupado com o que ele vai fazer. Pode ter certeza que os "low kicks" e os "high kicks" vão voltar. Mas é MMA. Com a pressão que eu vou colocar, a luta pode ir pro solo, sim.

 

O manauara garante que estudou todo o jogo de Petr Yan, e deixou claro que enfrentar o seu nível de luta será algo inédito para o russo.

 

- Na mente dele ele pode até imaginar que a gente vai procurar a luta de solo. Já na luta em si ele joga, troca muito de base, pode jogar uns overhands, uns mata-cobras. Fica invertendo a base, tem um chute bom de esquerda, mas ele acha, posso afirmar isso pra todo mundo, que a partir do terceiro round o meu rendimento cai bastante. Mas eu tô muito tranquilo com as armas dele, eu estudei, fiz um estudo bem detalhado, e ele pode preparar o que for. Eu estou preparado para tudo. Se for para lutar em pé, eu vou lutar. Como eu falei, eu quero. Mas se a luta for pro solo, sem problema nenhum. Eu sempre tive chão, e a gente treinou isso tudo também. Não estou preocupado com isso. É a primeira vez que ele vai pegar um cara completo, que tem um nível de trocação bom, bom nível de wrestling e bom nível de jiu-jítsu. Essa é a verdadeira prova. O Faber vinha parado há um tempo, estava aposentado. Antes o Yan pegou caras de nível lá em baixo. O melhorzinho que ele pegou foi o Rivera, e comeu um dobrado pra ganhar. Mas foram lutas bastante duras, em que outros atletas conseguiram fazer ele sentar na luta em pé. Então é a primeira prova. Como eu falei, hoje eu me sinto o mais forte da categoria, me sinto bem agressivo, bem forte.

 

Em 2016, José Aldo e Petr Yan treinaram juntos no Rio de Janeiro, quando o brasileiro se preparava para enfrentar Frankie Edgar no UFC 200. O brasileiro falou sobre o nível de Yan na época, e revelou que eles mantiveram contato tempos depois, quando Aldo viajou para a Rússia. Na opinião do ex-campeão dos penas, os dois sempre se respeitaram e tiveram um bom relacionamento, e não acredita que haja qualquer tipo de provocação por parte do russo.

 

- É uma parceria que o Dedé (Pederneiras) faz com o pessoal da Rússia. O povo russo e os atletas russos são um pouco parecidos conosco aqui do Brasil, de não levar pra esse lado de provocar. É chegar lá dentro e lutar. O Petr, quando veio, foi pro camp que eu estava fazendo pra lutar contra o Frankie Edgar. Nós estávamos fazendo camp, ele veio junto, e estava muito cru de chão ainda. Ele pôde aprender com a gente, me conhecer mais e todos os brasileiros ali da Nova União. Não tem por que ele chegar e provocar hoje em dia. Depois disso eu fui lá na Rússia e ele mandou mensagem pra mim. Foi tranquilo, e até hoje a gente tem um contato. Mas é o trabalho, né? O Ultimate fez essa luta, e não tem por que ele não querer e eu não querer. É um sonho de ambas as partes, tanto minha quanto dele, e não tem por que a gente se provocar, ainda mais se conhecendo. Ele vai procurar defender o lado dele, eu vou procurar defender o meu, mesmo sabendo que ele é bom no que ele faz. Ele teve uma evolução, sim, mas eu fiz um estudo silencioso de todas as lutas dele no UFC, de todos os comportamentos dele, de tudo que ele possa fazer na luta. Tô muito confiante quanto a isso, confio muito no meu potencial. Posso falar pra vocês que eu tô rápido, isso e aquilo, e vocês podem falar que eu tô querendo vender a luta, mas quando você vir a apresentação, você vai ver exatamente aquilo que eu tô falando agora.

 

A adaptação ao peso-galo também foi abordado por José Aldo. O lutador relembrou a vontade que tinha há alguns anos, ainda no peso-pena, de subir para os leves e buscar o cinturão, e garantiu que a decisão de baixar de peso e buscar um novo cinturão só pode ser tomada por lutadores com "coração de campeão". Aldo também revelou que a mudança lhe deu uma injeção de ânimo, fazendo-o se sentir rejuvenescido mesmo na fase final da carreira.

 

- O que eu fiz foi uma coisa diferente, que só os campeões e quem tem grandes corações fazem. A tendência era eu subir de categoria, e vão falar, como qualquer comentarista, qualquer fã ou qualquer pessoa que procura falar de luta, que eu posso estar numa queda. Só quem pode falar isso, desses que têm grandes corações, como eu, Randy Couture ou outros que tiveram grandes nomes, somos nós próprios. Hoje em dia você vai ver a minha apresentação e ela é muito melhor que no peso-pena. Pra todo mundo que pensa que eu tô numa descida, não. Eu tô em plena ascensão de novo. Eu tinha em mente conquistar outra categoria, mas na época era para lutar no peso de cima. Eu batia o peso-pena bem forçado, ficava numa situação não muito boa. Mas quando o Dedé sentou comigo e a gente resolveu lutar nesse novo peso, que é o peso-galo, eu acho que isso me deu uma injeção de ânimo. Deu uma rejuvenescida. Aproveitando essa fase em que nós estamos, de pandemia, eu pude me fechar mais ainda nos treinamentos. Pude treinar sozinho, fazer a minha dieta, tudo aquilo que eu sonhei fazer sem ninguém perto, ninguém perturbando. Só nos sparrings que a gente dividia, o resto éramos só nós. Então, hoje, eu posso falar sobre a próxima luta e ninguém sabe como eu vou me portar, ninguém sabe como eu estou me sentindo nisso tudo. Mas eu sempre tive em mente conquistar dois cinturões, e vou em busca do segundo. Como eu falei, estou muito bem treinado, estou um menino, voando. Nunca estive tão bem na vida. A perda de peso também está tranquila, suave, como foi a última, né? Surpreendeu todo mundo, e nessa tá mais tranquilo ainda.

 

Confira outras partes da entrevista:

 

Dieta citogênica

Começou num dia que eu tinha acabado de treinar. O Dedé sentou comigo e a Viviane e eles perguntaram pra mim qual a possibilidade de eu bater o peso-galo. Eu sempre disse que só se cortassem a minha perna, sempre brinquei com ele quanto a isso. Eu respondi que a gente podia sentar com a Maria Amélia, a nutricionista, e a gente veria como seria pra bater esse peso. Não foi uma decisão voltada para "eu quero desafiar". Não. Primeiro vinha a minha parte de saúde, para eu estar bem e chegar lá dentro e fazer o que eu quero, que é lutar. Deu tudo certo. Ela me examinou e falou que eu bati o peso tranquilo, e disse que essa era a minha categoria. E logo quando começou a dieta, foi uma crescente tão grande, de sentir a dieta tranquilo, de me alimentar... Sou um novo Aldo. Me adaptei ao meu corpo de novo, a minha alimentação está muito boa hoje em dia. Parei de tomar refrigerante, não como certas coisa, então com isso só cresceu a minha parte física. Eu estava fazendo os sparrings, e logo em seguida eu ia para a esteira e corria - isso num treino de alto nível, com ritmo lá em cima, e eu me puxando o tempo todo cada vez mais, porque eu não estava cansando, não estava ficando como eu ficava no peso-pena (inchado, forte e cansava rápido). Eu estava tentando me cansar. A dieta me ajudou não só na parte profissional, mas na parte pessoal. Eu consigo ter uma qualidade de vida melhor. Hoje em dia eu tô mais saudável. Quando fui para a luta com o Marlon, eu tinha certeza que ia vencer bem. Ia bater o peso bem, porque bati 68kg durante o treinamento. Forte, como eu sempre treinei, eu estava a 2kg do limite do peso-pena. Naquele momento eu vi que a dieta não era um problema, e sim a força a mais que eu estava precisando.

 

Único entre os quatro cinturões de 2013 e os possíveis cinturões de 2020

É até diferente parar pra pensar. Me senti um pouco velho (risos). Não se é porque eu estava muito novo quando eu ganhei junto com Barão, Anderson e Cigano. É bem diferente quando a gente para pra pensar. Passou luta, passou tudo, você tá em casa naquele momento de reflexão e lembra disso tudo. Eu estou junto a uma nova geração sendo que eu sou de uma geração antiga ainda posso conquistar esse título, porque eu vou conquistar esse título. Pra mim, profissionalmente, é o êxito, o grau mais alto. Fico muito feliz com isso, e espero que não só eu, mas também Durinho, Deiveson, Marreta, Jéssica, Borrachinha, que é um cara que vem bem forte também, possam dominar. Mas posso te afirmar que depois dessa conquista - eu estou no meu último contrato - espero ganhar, e depois disso eu deixo pra eles e pra nova geração que vai surgir e que possa manter o Brasil no alto nível, porque eu quero aproveitar um pouco mais a minha família. Esse é o meu último contrato. Eu tenho 33 anos e sempre sonhei lutar até os 35 anos. Vou manter dois anos de alto nível e, depois disso, aí sim. Mas eu nem penso nisso. Hoje tá uma onda de todo mundo tentar negociar... Eu acho até engraçado. Todo mundo assina o contrato e, depois que ganha uma luta e um bônus, acha que merece ganhar mais. É difícil. Então não assina o contrato. Eu renovei o meu contrato, estou muito bem quanto a isso, e, vencendo o Petr agora, já quero lutar mais uma esse ano para que, quem sabe, ano que vem a gente faça mais umas duas ou três lutas e feche o contrato com uma luta de despedida. Foi assim que eu sempre sonhei e é assim que eu sonho sair do Ultimate. E a despedida tem que ser no Rio.

 

Lutar sem público

Nem na época do Vale Tudo eu lutei assim. Vai ser bem difícil, mas por um lado é bom, porque a gente estava treinando lá no CT e ficávamos só eu, o Dedé e os meus córneres. Pra mim, que tenho um ouvido muito bom, é ótimo. Eu consigo ouvir o Dedé e os meus córneres. Não vejo um diferencial. É lógico, eu queria a presença da torcida, porque a adrenalina sobe mais com a arena lotada, tem aquele encanto. Mas eu não vejo problema nenhum, estou bem tranquilo. Parece uma nova fase. Estou bem tranquilão, esperando só chegar o dia 11 de julho pra subir lá e ser campeão de novo.

 

Cejudo aposentado e luta no futuro

Primeiramente eu fiquei triste. A gente tava em mente que iria lutar dia 9 de maio, mas não aconteceu o evento em São Paulo. Estava me preparando e logo já veio essa crise mundial. Eu fiquei na quarentena, me resguardei duas semanas e esperei passar. Me fechei com o Matheus Nakashi, ele tá comigo esse tempo todo. A gente já começou a treinar, eu comecei a fazer a preparação física treinando em casa, e depois disso voltamos pra academia. A academia estava fechada, então poderia ir lá treinar junto com ele, e depois disso a gente foi complementando com mais alguns atletas. Selecionamos sempre três, então estávamos num grupo de quatro, e assim fomos fazendo esse camp todo. Logo em seguida a luta do Cejudo com o Dominick Cruz me surpreendeu. A gente tinha em mente que poderia lutar com o Henry, mas pra falar a verdade eu nem pensava se era com ele ou com quem quer que fosse. Eu pensava em ser campeão dessa categoria, em fazer história. Me mantive treinando desde janeiro pra essa luta, então espero que agora, que está bem próximo, possa tudo acontecer bem e que a gente possa sair campeão. O anúncio da aposentadoria dele não me surpreendeu no momento. Cejudo é meio maluco, logo em seguida à luta falou que se aposentou. Fazer o que, né? Fico triste por ele, porque ele não sabe o que está perdendo, principalmente nessa fase que nós estamos vivendo hoje. O desejo não é nem meu. Hoje eu penso em ser campeão, quero ser o campeão. Ele não se aposentou, pode ter certeza. Ele vai ter que voltar logo. É um cara muito novo ainda para estar aposentado. Ele tentou dar uma negociada de contrato, mas foi muito mal-assessorado. Perdeu o cinturão e não tinha esse rendimento todo. Teve muito mais repercussão no Brasil do que em qualquer outro lugar do mundo. Se eu tiver algum a oportunidade de lutar com ele, pra mim não tem problema nenhum.

 

Voltar a ser o único homem do Brasil campeão do UFC

Isso é um pouco de parte da história. É lógico, eu penso em ser campeão, eu treino forte pra isso. Mas é história. Eu tenho que chegar lá dentro e vencer. Eu fui o último campeão brasileiro, e posso ser o primeiro campeão brasileiro de novo. Quero chegar lá dentro, vencer e trazer o cinturão - o Deiveson, que é um cara muito duro e só está com o cinturão hoje por não ter batido o peso, mas eu acho que na próxima ele consegue bater esse peso bem, forte e vencer - pra que nós brasileiros possa colocar o Brasil de novo como um celeiro mundial de campeões.

 

O Combate transmite o UFC 251 no próximo sábado, dia 11 de julho, ao vivo, na íntegra e com exclusividade direto de Abu Dhabi, começando com o "Aquecimento Combate" a partir de 18h30 (de Brasília). O SporTV 2 e o Combate.com transmitem o "Aquecimento Combate" e as duas primeiras lutas do card preliminar. O site acompanha todo o evento em Tempo Real.

 

UFC 251

11 de julho de 2020, na Ilha da Luta, em Abu Dhabi

CARD PRINCIPAL (23h, horário de Brasília):

Peso-meio-médio: Kamaru Usman x Jorge Masvidal

Peso-pena: Alexander Volkanovski x Max Holloway

Peso-galo: Petr Yan x José Aldo

Peso-palha: Jéssica Bate-Estaca x Rose Namajunas

Peso-mosca: Amanda Ribas x Paige VanZant

CARD PRELIMINAR (19h, horário de Brasília):

Peso-meio-pesado: Volkan Oezdemir x Jiri Prochazka

Peso-meio-médio: Elizeu Capoeira x Muslim Salikhov

Peso-pena: Makwan Amirkhani x Danny Henry

Peso-leve: Léo Santos x Roman Bogatov

Peso-pesado: Marcin Tybura x Maxim Grishin

Peso-mosca: Raulian Paiva x Zhalgas Zhumagulov

Peso-galo: Karol Rosa x Vanessa Melo

Peso-galo: Martin Day x Davey Grant

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