Mato Grosso, 19 de Maio de 2025
Esportes

'Normal' e único, Alex se despede e deixa lacuna: "O camisa 10 sumiu"

07.12.2014
09:11
FONTE: Globo Esporte

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

De calça jeans, camisa polo listrada e óculos pretos de armação grossa, Alex parece um sujeito normal. Sentado em uma mureta do estádio Couto Pereira numa tarde de segunda-feira, cansado de uma viagem, ele varre com os olhos a arquibancada vazia. Àquela altura, tentava prever um futuro bem próximo e só desejava que o último jogo da temporada, contra o Bahia, já não tivesse para o Coritiba o peso da luta contra o rebaixamento. Assim será. Neste domingo, a degola só ameaça os baianos. E o camisa 10 do Coxa estará ali, não sentado na mureta de calça jeans e tênis, mas de pé, no gramado, com uniforme e chuteiras. Pela última vez. Um domingo de festa e de adeus, com a torcida livre da angústia e pronta para celebrar o sujeito que, de tanto se achar normal ao longo de duas décadas, tornou-se único.

- Eu sei que não sou o melhor do mundo. Não me vejo diferente de ninguém. Deus me deu um dom que é jogar bola, mas isso não me faz melhor do que um torcedor, um deputado ou um gari – define Alex, que neste domingo, aos 37 anos, chega ao fim de uma estrada marcada por títulos, gols e sobretudo um jeito diferente de se apresentar dentro e fora do campo.

Sai dos gramados um jogador com uma etiqueta que não se vê mais por aí. “O camisa 10 sumiu”, avalia o próprio Alex, cravando o diagnóstico para logo em seguida receitar aos clubes um remédio simples: investir no futsal. Foi de lá que ele veio, é lá que ele enxerga a salvação do futebol brasileiro puro-sangue. Com a habilidade e a rapidez de raciocínio que a quadra exige, o curitibano forjou na grama uma trajetória com momentos brilhantes no Palmeiras e no Cruzeiro, virou estátua na Turquia e voltou ao Coxa para escrever o último capítulo de um enredo que não esconde suas decepções, como a ausência na lista de Felipão para a Copa de 2002: 

- As derrotas me ajudaram bastante.

Se a carreira dá um livro, o que aconteceu longe dos campos vai muito além de notas de pé de página. O garoto de pouco estudo virou um adolescente autodidata, que foi matando a fome de conhecimento no convívio com os mais diferentes tipos de pessoas. Mergulhou na história de cada time que defendeu, desenvolveu uma inteligência pouco comum entre seus pares e uma visão crítica que, mais recentemente, fez dele um dos líderes do Bom Senso FC. Hoje Alex dá a entender que o movimento criado em 2013 para cobrar condições melhores no futebol brasileiro já cumpriu seu papel. 

- Somos como o levantador do vôlei. Levamos a discussão para a presidente Dilma, para a Câmara dos Deputados. Daqui para frente são outras pessoas que têm de fazer algo, não temos poder de execução – pondera, revelando que chegou a defender uma greve geral, mas a ideia não foi adiante porque muitos jogadores temeram retaliações dos clubes, "com razão, porque acontece mesmo".

Ainda assim, Alex promete continuar debatendo a "realidade triste" do futebol nacional. E quando o árbitro apitar o fim de Coritiba x Bahia, ali por volta das 19h de domingo, haverá um mundo de possibilidades escancarado à sua frente. Dirigente? Comentarista? A princípio tudo parece interessante, mas a vontade de ser técnico não é segredo para ninguém. Só não vale assumir a nova função dando uma carteirada com o prestígio de atleta.

- Ter jogado futebol não me credencia para ser treinador. Em nada. Só vivi o lado de dentro, agora preciso viver o lado de fora.

E o torcedor do Coritiba, do Palmeiras, do Cruzeiro, do Flamengo, do Fenerbahçe ou da Seleção certamente estará satisfeito se Alex for, do lado de fora, o mesmo sujeito normal que foi do lado de dentro. Normal e único.

IMPRIMA ESSA NOTÍCIA ENVIE PARA UM AMIGO

NOTÍCIAS RELACIONADAS

ENVIE SEU COMENTÁRIO