A derrota do Vitória para o Santos, que marcou o rebaixamento da equipe baiana para a Segunda Divisão, deve ser mesmo a última lembrança de Richarlyson como jogador profissional. Ao final da partida, após um longo período refletindo no vestiário, o jogador afirmou que mantém o que afirmou após a derrota para o Flamengo, na semana passada. Entretanto, colocou no ar uma dúvida se a decisão será definitiva.
Richarlyson disse que ainda não conversou com seus familiares sobre a decisão de pendurar a chuteira. O jogador lamentou que seu possível último jogo tenha sido o da queda do Vitória e mostrou bastante triste com a situação.
- Momento difícil, muito particular. Claro que aquilo que falei, bato no peito e continuo falando. Sou um cara muito familiar. Não tive tempo de falar com minha família. Todos esses dias minha mãe me mandou mensagem, meu pai tem me mandado mensagem. Minha família, dizendo para ter calma. Mas é complicado. Quando nos propomos a ser profissionais da maneira que eu me proponho, tentando sempre melhorar... o episódio da semana passada não entra em minha cabeça. Da forma como aconteceu me deixa muito triste. O futebol tem perdido a essência. Talvez tenham outras coisas que não só paixão no meio disso. Isso me entristece. Mediante o que aconteceu, 16 anos de carreira é difícil. Sou muito correto. Não gosto de ver coisas erradas. Não quero mudar. Essa minha atitude, como o próprio Rogério Ceni falou, com tanto ainda, tenho 31 anos, não dá para assimilar algumas coisas. Não é só você. Isso me entristece. A minha decisão permanece. Hoje, de forma melancólica, não era isso que queria para minha carreira. Queria deixar o Vitória na Série A. Peço desculpas para a torcida e para a direção. Tenho a parcela de culpa. De pronto imediato, como capitão, só posso pedir desculpas. Hoje foi meu último jogo. Vou conversar com meus familiares. Tenho recebido carinho dos meus familiares. Pedindo para ter calma. Minha decisão hoje é essa. Encerro como profissional. Preciso saber das pessoas que estão próximas de mim. Encerro meu ano, agradeço a todos. Mas por enquanto encerro. Talvez depois da conversa com minha família... Continuo recebendo carinho. É doloroso. Não é só o jogo do Elmo. Fico muito triste, agradeço a quem trabalhou comigo. A minha decisão por enquanto é essa - explicou o volante.
O jogador ainda procurou ver o lado positivo de deixar de jogar futebol. Richarlyson destacou as conquistas que teve como profissional e, segundo ele, a partir de agora poderá viver com mais tranquilidade.
- Uma hora iria acontecer. Seja agora ou daqui a três, quatro anos. Tenho 16 anos de profissional. Muito bem vividos. História vitoriosa. Uma hora eu tinha que me parar. Chega a hora de passar por um novo ciclo. É mais proveitoso quando se faz com consciência tranquila. Vou sentir falta dos companheiros, das brincadeiras. Tudo o que o futebol proporcionou. Estou preparado. A minha vida como ser humano vai começar agora. Junto com minha família, com as pessoas que me apoiaram. Vou gozar do melhor de minha vida. Muito feliz. Realizado. Mais feliz ainda de poder dizer isso de coração aberto.
Durante a entrevista coletiva que confirmou sua decisão de parar, Richarlyson voltou a lembrar seu desentendimento com Elmo Alves Resende Cunha. Ele foi o árbitro da derrota do Vitória pra o Flamengo na última semana. Segundo ele, a função de ser capitão fez com que mudasse sua visão dentro de campo.
- É complicado. Vou dizer que a atitude do Elmo foi o ponto para estourar. Nunca tive oportunidade de ser o capitão. Isso pra mim mudou minha visão de futebol. Passei de ser um jogador para ser um líder. Isso é difícil. Ter que tratar com emoção de 30 jogadores. Absorver o melhor de cada um deles. Ali mudou o foco de tudo isso, de tudo que fazia no dia a dia. Percebi que não dependia só de mim. Foi muito triste. Não dependia só do meu comprometimento. Dependia das outras pessoas. Bateu tão grande uma dor. Não adianta vir de sol a sol, que não era a única coisa que precisava fazer. Por isso tomei a decisão. Por saber que não era só o profissionalismo que ia mudar a situação do meu time. Absorver e falar que se isso não aconteceu foi por incompetência minha e dos meus companheiros. Não foi só um lance. Não estou falando que o Elmo não tem caráter. Não o conheço. Gostaria que ele fosse homem o suficiente para dizer que errou. Nem isso ele fez. Não teve a capacidade de ser humilde de reconhecer que errou. Errar é humano. Seja no profissional ou na vida. Reconhecer é a essência da vida. Ele não fez. E a inda saiu do jogo zombando: “Agora vou pra casa e fazer o que eu quero, e vocês...”. Meu desabafo, consciente do que estou falando. O futebol me proporcionou muitas coisas boas. Só agradeço por tudo o que fizeram e pelo carinho de sempre - finalizou.